Nilson Gomes-Carneiro
Maguito Vilela nasceu na casa de um agricultor, Joaquim. Daniel Vilela nasceu na trajetória de um integrante da Assembleia Legislativa de Goiás, Maguito. Quando tinha 3 anos, Daniel foi morar no prédio oficial dos congressistas, em Brasília, pois seu pai era deputado federal constituinte. Comemorou o 7º aniversário com Maguito já eleito vice-governador de Goiás na chapa de Iris Rezende, em 1990. Os 11 anos tiveram uma festa infantil mais tensa, pois o pai havia superado o favoritíssimo Ronaldo Caiado e ido para o 2º turno contra Lúcia Vânia. Mas o réveillon de mês e meio depois já foi como novo inquilino do Palácio das Esmeraldas, junto com a mãe, Sandra, primeira-dama que deixou saudades nas famílias pobres de Goiás. Menos de quarenta meses depois, Maguito era o melhor governador do Brasil, avaliação positiva acima dos 90%, lembrado para concorrer a presidente da República até que…
É, até que o MDB tirou-lhe o chão sob os pés, lançou Iris Rezende a governador e o restante é história: o desgaste de Iris permitiu a novidade Marconi Perillo, Maguito se elegeu senador e o MDB enfileirou derrotas em 1998, 2002, 2006, 2010, 2014, 2018 e só não perdeu em 2022 porque Daniel se aninhou sob as asas de Caiado. Vencido por Alcides Rodrigues na disputa para o governo em 2006 quando terminava o mandato de senador e estava na base aliada do PT no Congresso, Maguito foi auxiliar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como vice-presidente da Caixa Econômica Federal. Teve excelente desempenho ao conseguir verbas para quem realmente precisava. Em 2008, elegeu-se em Aparecida de Goiânia e virou mito das administrações municipais. Aparecida passou de lixão a céu aberto a melhor cidade de porte médio do País. Foi reeleito, fez o sucessor, que também se reelegeu, e agora o prefeito é seu sobrinho Leandro Vilela.
Esse início de conversa com o leitor de O Hoje é todo o currículo de Daniel. É só isso aí. Mais nada. Sem emprego, CTPS até hoje zerada, nenhuma fila do Sine, zero marmita térmica num ônibus, bater ponto só no teclado iPhone. Seus êxitos dependeram sempre do pai e, agora, do padrinho Ronaldo Caiado. Fracassou como jogador de futebol, enquanto o atleta Maguito nunca precisou de Seu Joaquim conversar com técnico da Jataiense. Depois, o grande líder e gestor colocou o filho na política. Elegeu-o vereador em Goiânia, deputado estadual e federal. Na Câmara dos Deputados, conseguiu para ele a presidência da principal comissão, a de Constituição, Justiça e Redação, pois até morrer, em 2021, granjeou e conservou o respeito dos graúdos da política nacional. Em 2018, Maguito pressentiu que o ciclo de Marconi estava chegando ao fim e lançou Daniel a governador. Ficou em 2º lugar, à frente de José Eliton, o vice que havia entrado no lugar de Marconi e em quem Daniel parece se inspirar. Mas perdeu para Caiado, a quem criticou passando pó de vidro nas feridas. O Caiado rejuvenescido no Executivo atraiu Daniel, chamou-o para companheiro de chapa e o escolheu sucessor, que deve assumir em abril de 2026.
Adversários com expertise em gestão pública e particular
Para se reeleger, Daniel vai precisar de mais do que ser filho de Maguito e vice de Caiado. Afinal, nunca administrou nem vestiário de time e seus dois principais adversários têm alta expertise, o ex-governador Marconi Perillo na vida pública e o senador Wilder Morais como empresário que foi da fome ao bilhão. Jamais, em tempo algum, um governador fez pelo vice o que Caiado tem feito por Daniel, que nomeou até o coração do Palácio Pedro Ludovico, que é o secretário de Comunicação, seu tio Gean Carvalho. Não é exagero afirmar que Caiado o trata como filho. Daniel aparece em todos os bons clics e frames do governo, de inaugurações a lançamentos de obras, de festas de igreja a posses de aliados. Mesmo assim, até os auxiliares mais fanáticos do caiadismo estão com o pé atrás – por enquanto, ainda não é chute.
Até no companheirismo seria confortável para os caiadistas apoiar Wilder, que acompanhou Caiado de 2009 até agora sem nunca gravar vídeos achincalhando o governador. O senador fez com que seu partido, o PL, abandonasse a ação contra o prefeito de Goiânia, Sandro Mabel, apenas para não causar problemas a Caiado no Tribunal Superior Eleitoral. Marconi, veja só, ele mesmo, esteve mais tempo com Caiado do que a amizade do governador com Daniel: o atual presidente nacional do PSDB foi aliado de Caiado de 1996 a 2003, enquanto o presidente regional do MDB é o xodó do presidente do União de Goiás apenas de 2021 para cá.
O quarentão parece velho e o setentão está firme
A impressão que passa para quem acompanha o dia a dia da política é de um jovem Daniel Vilela (41 anos) com 3x o cansaço de Ronaldo Caiado (75 anos). Parece que o vice é o idoso. O governador chega na hora a seus compromissos e quando se atrasa é porque estava esperando Daniel arrumar o cabelo. Claro que ambos estão cercados de grandes quadros na equipe, como o próprio secretário Gean Carvalho, porém repassar voto é um dos segredos mais bem guardados da humanidade. Gean é irmão de Sandra Carvalho, mãe de Daniel e responsável pelo que ele tem de finesse. Sua missão, mais que talento, exige milagre. Transformar um nepo baby tipo bebê reborn como Daniel num sujeito bruto, rústico e sistemático igual a Ronaldo é mais raro que montar em mula alta antes de ser domada.
A distinção entre o pré-candidato a presidente da República e seu pupilo alcança o espaço sideral no quesito bebê conforto. O pai de Ronaldo, o advogado Edenval Caiado, não era político, não se candidatou. O pai de Daniel era integralmente político. Doutor Edenval jamais deu vida mansa para os filhos no sentido da preguiça. Ronaldo teve de morar sozinho quando era secundarista e começou a ser assalariado ainda cursando Medicina no Rio de Janeiro, onde morava em república, aqueles prédios como quartinhos que agora os chiques batizaram de kitnets. Caiado fala francês, viveu e estudou na Europa. Lê livros. Daniel é uma mistura de Lula com Vampeta e Amaral, não lê nada, sabe nem o que é residir em ambiente tão exíguo — para ele, 4×4 é caminhonete, não a medida do lar.
O post Daniel é filho de Maguito e vice de Caiado. E é só o que tem a mostrar apareceu primeiro em O Hoje.