Nilson Gomes-Carneiro
O perfil do senador Wilder Morais é de articulador. Por isso, pouco é visto na tribuna. Não briga – se aparteia um colega, é para concordar. Não se indispõe – prefere aconselhar a rebater. Sofre horrores com o Gabinete do Ódio, mas nunca reagiu nem procurou os ofensores. A quietude de Wilder durou até domingo, 3 de agosto, ao participar de manifestações em Goiânia (leia mais na coluna Xadrez, pág. 2). Clicou o start da pré-campanha, a 1ª a enfrentar o vice-governador Daniel Vilela.
Em discurso no trio elétrico da manifestação, na Praça Tamandaré, Wilder defendeu a liberdade para o ex-presidente Jair Bolsonaro, uma coragem que da bancada de senadores foi o único a demonstrar. Com isso, marcou posição e acabou com as dúvidas sobre participação no próximo pleito. Sim, Wilder será candidato. Sim, será a governador. Sim, em 2026. Sim, com apoio de Bolsonaro. Sim, com as bandeiras da direita. Sim, contra quem aparecer na frente. Até domingo, só quem havia aparecido era Daniel, do MDB, o partido cujo sonho é lançar o vice do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou ao próprio cargo dele – e um dos pretendentes é o vizinho Ibaneis Rocha (MDB), governador do Distrito Federal.
Desde que começou a estudar Engenharia Civil, Wilder vem reunindo expertise para tocar obras. Quando era empregado, pavimentou milhares de quilômetros de rodovias por todo o Estado, inclusive a GO 154, que liga sua Taquaral natal à GO 070 e a Itaguari. Como empresário, não fez obras públicas. Porém, construiu milhares de casas, inclusive a primeira que sua família possuiu – antes, moraram na roça, de favor ou pagando aluguel.
Nas caminhadas e viagens, Wilder surpreende os políticos a seu lado ao insistir nas análises dos lugares visitados. Onde alguns veem votos, ele enxerga um equipamento público e dá as dicas de como fazer. Discorda que saneamento básico seja caro, afinal, é pouco mais que abrir uma vala e jogar um cano dentro e estação de tratamento que ninguém faz, mas ele tem a ideia de como terminar rapidamente as que deseja construir. Vai apontando o que seria cabível ali, a necessidade de atrair uma empresa acolá, o que seria ideal naquela baixada, naqueles morros, depois da chuva.
Como foram as atuações no Legislativo
Daniel Vilela foi vereador em Goiânia, deputado estadual e federal. Wilder começou no mês passado seu 9º ano como senador. Como pré-candidatos a governador, contaria para valer a experiência de cada um no Executivo. Porém, Daniel ainda não teve essa oportunidade, à exceção das licenças do titular. Wilder foi secretário de Infraestrutura no 3º governo de Marconi Perillo, secretário de Indústria e Comércio na 1ª gestão de Ronaldo Caiado e é empresário bem-sucedido em mais de 50 ramos de negócios.
Como senador, Wilder enviou obras a todos os 246 municípios goianos, mesmo sendo de oposição à então presidente Dilma Rousseff, do PT, seguida de Michel Temer, do MDB. Mesmo sendo da base do governo petista, Daniel não tinha como foco as emendas.
A bancada de Wilder no Senado, com sua concordância, é de oposição ao presidente Lula. Ainda assim, suas redes sociais apresentam bastantes agendas de vistorias e visitas nos municípios levando recursos, máquinas e equipamentos. O vice-governador também tem viajado muito pelo interior do Estado, sobretudo nas ausências de Ronaldo Caiado.
Semelhanças e diferenças entre os concorrentes
Quando o senador Wilder Morais nasceu, o pai, Natalino Alberto, era peão de roça. Quando o vice-governador Daniel Vilela nasceu, o pai, Luiz Alberto, o Maguito, era deputado estadual.
Daniel foi em seguida morar no prédio funcional dos congressistas, em Brasília. Wilder foi morar de favor com a família em casas cujos donos ainda não haviam conseguido locadores.
Com o pai governador, Daniel mudou-se para o Palácio das Esmeraldas, residência oficial dos chefes do Executivo estadual, e foi chupar jabuticabas no pé, fruta abundante no quintal da Praça Cívica. Com o pai na cidade sem profissão urbana, Wilder andava nos quintais dos outros para chupar manga, que servia de almoço e janta.
O pai de Daniel se elegeu senador e a família Vilela voltou para Brasília morar nos residenciais dos parlamentares. O pai ficou em Taquaral fazendo gambira para sustentar a família e Wilder veio para Goiânia morar num prédio abandonado na Avenida Goiás.
Wilder penou para passar no vestibular da Universidade Católica, uma das duas únicas de Goiás com Engenharia Civil, à época sempre com quase 20 candidatos por vaga. Daniel fez Direito na Universo, que nunca teve concorrência.
Wilder quase não conseguiu o dinheiro da matrícula e só estudou por ter sido ajudado por um médico, Sidney Aratake, e um advogado, David Dutra, que o avalizaram no Crédito Educativo. Daniel não teve dificuldade alguma, pois graças ao esforço de seu pai e de sua mãe, Sandra Carvalho, não dependeu de bolsas ou financiamentos.
Wilder precisou trabalhar de peão e guarda na construção civil desde antes do 1º dia de aula na faculdade, cuidando de um prédio no Setor Universitário. Daniel teve como 1º emprego o cargo de vereador, pois terminou o curso no ano em que se elegeu à Câmara de Goiânia.
Ambos são órfãos de pai. O coração levou Natalino aos 68 anos, em 22 de outubro de 2014, um dia antes do 31º aniversário de Daniel. Maguito foi vítima da Covid, em 13 de janeiro de 2021, aos 71 anos, enlutando Goiânia, que havia acabado de elegê-lo prefeito.
Não há qualquer demérito no fato de Daniel ter sido criado no conforto proporcionado por sua família. Nem Wilder tem de louvar o sofrimento. Ao contrário. São hoje dois goianos (Wilder de Taquaral, Daniel de Jataí) em condição de dar a seus filhos o melhor que a vida lhes demandar e ao Estado o que os votos lhe proporcionarem. Comparar a biografia de ambos serve para traçar um retrato do passado, já que agora se equivalem na fortuna – se Wilder, o pobretão de décadas atrás, não for mais rico que o rapazote do palácio.
O que importa em tudo é que tenham inteligência para escolher boas equipes, fazer ótimos projetos e viabilizar suas gestões. A notícia é que Daniel agora tem adversário. E à altura
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