O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), afirmou nesta terça-feira (28) que o governo federal negou apoio a operações policiais anteriores e que, por isso, o estado “estava sozinho” na megaoperação realizada nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio. A ação deixou ao menos 60 mortos e foi considerada a maior da história do estado.
Governador critica falta de apoio federal
Durante coletiva de imprensa, Castro afirmou que três pedidos de empréstimo de blindados foram negados pela União por falta de autorização da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) — instrumento que permite o uso das Forças Armadas em situações excepcionais de segurança pública.
“Tivemos pedidos negados três vezes. Para emprestar o blindado, tinha que ter GLO, e o presidente é contra a GLO. Cada dia uma razão para não colaborar”, disse o governador.
O governador declarou ainda que o Rio está “fazendo a sua parte”, mas que falta integração entre os governos estadual e federal.
“É uma operação de defesa, não é mais só responsabilidade do estado. Já era para haver um trabalho de integração muito maior com as forças federais, o que neste momento não está acontecendo”, afirmou.
O que é a GLO
A Garantia da Lei e da Ordem (GLO) é um dispositivo previsto na Constituição que autoriza o uso das Forças Armadas em ações de segurança pública, quando há esgotamento das forças policiais estaduais. Nessas situações, Exército, Marinha e Aeronáutica podem atuar com poder de polícia de forma temporária, sob comando do presidente da República.
A TV Globo teve acesso aos ofícios enviados pelo governo do Rio ao governo federal, em 28 de janeiro.
Foto: Reprodução
Resposta do governo federal
Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) informou que mantém atuação permanente no Rio de Janeiro desde outubro de 2023, por meio da Operação Nacional de Segurança Pública, que segue vigente até dezembro de 2025.
A pasta destacou que todos os pedidos de uso da Força Nacional foram atendidos e que a Polícia Federal já realizou 178 operações no estado neste ano, sendo 24 voltadas ao combate ao tráfico de drogas e armas.
O ministério também informou que o Rio de Janeiro recebeu mais de R$ 400 milhões em recursos federais destinados à segurança pública e ao sistema penitenciário desde 2019, além de equipamentos, veículos, drones e coletes.
“O MJSP reafirma seu compromisso com o Estado do Rio de Janeiro, promovendo a segurança pública por meio do apoio integrado”, diz o texto.
A maior operação da história do Rio
Segundo Castro, a megaoperação desta terça é “a maior da história do Rio de Janeiro”, superando inclusive a de 2010, quando as forças de segurança ocuparam o Complexo do Alemão.
“Estamos sozinhos nessa luta hoje. É uma operação maior que a de 2010 e, infelizmente, não temos o auxílio de blindados nem de agentes federais”, declarou o governador.
Castro negou motivação política nas críticas e afirmou que o objetivo é buscar apoio para enfrentar o poder bélico das facções.
“O Rio não produz essas armas nem essas drogas. Tudo o que o estado pode fazer está sendo feito”, completou.
Operação Contenção
A ação desta terça-feira faz parte da Operação Contenção, iniciativa permanente do governo estadual para frear a expansão territorial do Comando Vermelho (CV).
A ofensiva reuniu 2,5 mil agentes e foi realizada em 26 comunidades nos complexos da Penha e do Alemão, áreas estratégicas para o tráfico.
Durante os confrontos, traficantes reagiram com tiros, barricadas e bombas lançadas por drones. Imagens mostraram colunas de fumaça e tiroteios em diferentes pontos da cidade.
Entre os presos está Nicolas Fernandes Soares, apontado como operador financeiro do traficante Edgar Alves de Andrade, o Doca, uma das principais lideranças do CV.
Regras da ADPF 635 foram seguidas
Castro afirmou que a operação seguiu as normas da ADPF 635, que estabelece restrições para ações policiais em comunidades, e destacou o acompanhamento do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ).
“Todas as regras da ADPF foram cumpridas, inclusive com a participação do Ministério Público. O procurador-geral está acompanhando tudo”, disse.
O governador afirmou que os confrontos ocorreram, em sua maioria, em áreas de mata, o que teria reduzido os riscos para os moradores.
“Foi planejado para encurralá-los em regiões afastadas, onde a população sentisse o mínimo possível”, concluiu.









