O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que é pré-candidato à Presidência da República, aproveitou a recente soltura do funkeiro MC Poze do Rodo para intensificar seu discurso contra o crime organizado e criticar duramente as autoridades federais. Em vídeo divulgado nas redes sociais, Caiado questionou a ausência de ações efetivas por parte do Poder Executivo, do Poder Judiciário e do Ministério Público ao comentar a liberação do artista, investigado por suspeita de apologia ao crime e suposta ligação com o Comando Vermelho.
“Veja bem a que ponto nós chegamos hoje no Brasil. Aquilo tudo acontecendo como exemplo para os nossos jovens. Onde é que está o presidente da República? Onde está o Poder Judiciário? O Ministério Público? Será possível que somos obrigados a assistir cenas deprimentes como essa? Bandidos assumindo o comando e sendo homenageados como heróis, uma inversão completa dos valores no nosso País”, declarou o governador.
A prisão de MC Poze ocorreu em 29 de maio, sob suspeita de apologia ao crime e envolvimento com o tráfico de drogas. No entanto, no início da semana, o desembargador Peterson Barroso, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), concedeu habeas corpus ao cantor ao decidir que a prisão temporária não era imprescindível para a investigação e criticar a atuação da polícia, que teria tratado o artista de forma desproporcional e com ampla exposição midiática.
O episódio dividiu a opinião pública e Caiado — em discurso a la Nayib Bukele, presidente de El Salvador, conhecido pelo combate bélico ao crime organizado — não suavizou o tom das declarações. O governador goiano afirmou que, se o caso tivesse ocorrido em Goiás, o “bandido” — termo que utilizou para se referir ao funkeiro — não sairia da cadeia, “mesmo com ordem judicial”.
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Ataques a Lula
Além das críticas à soltura de MC Poze, Caiado aproveitou a ocasião para atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Supremo Tribunal Federal (STF), acusando-os de leniência no combate ao crime organizado. O governador também mencionou os atos antidemocráticos de 8 de janeiro e sugeriu que há uma inversão de prioridades por parte das autoridades federais.
Em síntese, o governador aproveitou a situação para ir além do combate às facções criminosas e acusações contra o artista. O chefe do Executivo estadual tem procurado intensificar sua cruzada política ao ampliar sua agenda e compromissos nacionais. Caiado reitera, sempre que possível, suas pautas e valores conservadores. Dessa vez, o discurso em torno da soltura de Poze busca atrair olhares para o enfrentamento ao crime organizado ao utilizar o pânico moral como carro-chefe.
Enfrentamento às facções
O enfrentamento às facções criminosas é tema central nas discussões de segurança pública — principal pauta de Caiado, que busca viabilizar seu projeto político rumo ao Palácio do Planalto. A estratégia do governador é endurecer o discurso de enfrentamento ao crime organizado e, a partir disso, mostrar sua gestão de segurança em Goiás como um “case” de sucesso — que seria sua principal credencial enquanto político para convencer o eleitorado. (Especial para O Hoje)