Quem diz que o Centrão não tem lado? Tem, sim: o de quem ganha. A parte dele incrustada no União Brasil vitimou o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Esperava-se que o partido apoiasse um quadro de qualidade, para o bem do País, porém para esse tipo de sigla o melhor para a nação pode ser o melhor para eles, desde que as nomeações saiam amanhã no Diário Oficial da União e o dinheiro das emendas cheguem rapidamente a suas bases. Por isso, Caiado pode tomar a decisão de ficar na chefia do Executivo em Goiás, até porque se consolidaria como o nº 1 entre os administradores públicos.
Caiado tomou duas decisões por impulso: 1) chamou Daniel Vilela para o seu lado e lhe deu a vice-governadoria sem exigir coisa alguma em troca; 2) lançou-o para sua sucessão, atalhando uma fila imensa, na qual sobravam companheiros de longa data, muitos mais confiáveis e experientes. Como Daniel não se destacou, está empacado com o senador Wilder Morais e o ex-governador Marconi Perillo, Caiado corre o risco de terminar de maneira triste um período cheio de alegrias. Uma forma de concluir o seu tempo só com vitórias é cumprir por inteiro o mandato para o qual foi eleito em 2022.
Se Caiado ficar no Palácio das Esmeraldas até dezembro de 2026, os projetos que estão em andamento serão inaugurados 100% prontos. Haverá também a satisfação de seguir cada canteiro de obras. Terá tempo de aplicar os recursos enviados de Brasília. Implantar as empresas que viajou longe para atrair. Não haverá defecções na equipe, já que governo de coalizão tem gente de todo jeito.
Caso passe o poder para Daniel Vilela, serão imensas as possibilidades de surpresas aterrorizantes. A primeira delas é acordar com alguém lhe dizendo que acaba de sair o Diário Oficial do Estado com as demissões de assessores de Dona Gracinha Caiado e de pessoas fiéis ao projeto do próprio Ronaldo Caiado. Pode ser diferente e nada disso acontecer? Pode, mas seria inédito, porque Caiado tem o sangue doce para aliado traidor. Não se está dizendo que Daniel seja dotado desse defeito, porém, está escrito na Serra Dourada que o MDB não consegue abrir espaço para quem é de fora da sigla.
Marconi era (como continua sendo) do PSDB e elegeu Alcides Rodrigues, do PP. O próprio Caiado se elegeria sem nanico e colocou o Pros na sua vice em 2018, além de ajudar uma chapa para prefeito de Goiânia em 2020 em que o titular e o vice não eram de sua sigla. O MDB, quando tinha um P no começo, tinha governador e vice, prefeito e vice, todos os secretários, a maioria da Assembleia e da bancada em Brasília. Não sobrava nem quirera para outras agremiações. Daniel no poder, depois de 27 anos com seu grupo lambendo embira após derrotas nas urnas, terá a chance de colocar sua turma para agir. Serão nove meses para recuperar o tempo e o dinheiro perdidos nas quase três décadas à margem.
A coleção de traições de Caiado só tem crescido. No momento, quem o está esfaqueando pelas costas, e pela frente e pelos lados, é o diretório nacional do UB e a tal da federação composta ainda pelo PP. Os partidos que integram seu governo em Goiás também o traem, pois desfrutam do bem-bom aqui e o negam todas as vezes na pré-campanha para presidente da República.
Estando no governo até o fim, Caiado terá a chance de consolidar uma revelação para a política nacional, a primeira-dama Gracinha Caiado. Mesmo deixada de lado pelas campanhas de comunicação, seu trabalho é reverenciado pelas famílias carentes de Goiás. A permanência do marido no cargo seria a confirmação de que ninguém faria armações para impedir sua eleição a senadora. Caso Daniel assuma o governo, a possibilidade de Gracinha chegar ao Senado seria andar o Estado só com seus amigos leais — são poucos, quase todos fora do governo, mas bons de campanha. Eles garantiram as conquistas de Caiado para deputado federal e senador. Voltarão sorrindo para as hostes de quem não querem ver chorar.