Bruno Goulart
A movimentação de Ronaldo Caiado (União Brasil) no cenário nacional ganhou novo fôlego após a última pesquisa Atlas/Intel, que o colocou na dianteira entre os governadores da direita, com 15,3% das intenções de voto em um cenário sem Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). O levantamento acendeu sinal verde para o governador de Goiás intensificar sua articulação política e buscar o posto de principal nome da oposição a Lula (PT) em 2026.
Mas o projeto presidencial do goiano enfrenta uma barreira: a falta de enraizamento no eleitorado bolsonarista, que continua sendo o núcleo mais sólido e mobilizado da direita. É nesse contexto que cresce a especulação de uma aliança com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, nome que tem sido trabalhado nos bastidores do PL como possível candidata a vice-presidente nas próximas eleições.
A hipótese de uma chapa Caiado–Michelle seria, segundo aliados, a forma mais eficaz de o governador alavancar seu projeto. Contaria com a ex-primeira-dama, figura de alta popularidade entre o eleitorado evangélico e conservador. Além disso, poderia oferecer a Jair Bolsonaro influência em seu governo. Caiado, inclusive, já declarou que um dos primeiros atos como presidente seria a “anistia geral e irrestrita” aos envolvidos no 8 de janeiro.
No entanto, para que essa aproximação avance, Caiado precisa de um gesto de Bolsonaro. E esse passo depende, primeiramente, de uma autorização do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), já que o ex-presidente está preso em regime domiciliar. Caso o encontro ocorra, seria a oportunidade certa para receber – ou não – a bênção de Bolsonaro.
“Caiado avançaria dez casas”
Ao O HOJE, o cientista político Lehninger Mota avalia que, caso Bolsonaro sinalize positivamente, a chapa teria peso imediato. “Se Caiado conseguisse se viabilizar com apoio do Bolsonaro, tendo a Michelle como vice, avançaria dez casas de uma vez só. O candidato apoiado pelo ex-presidente é quase certo no segundo turno. Mas o problema é que Caiado enfrenta resistência tanto dentro do União Brasil quanto na própria direita, onde há vários nomes disputando o mesmo espaço.”
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De fato, o governador goiano precisa vencer obstáculos internos. O União Brasil, seu partido, ainda não abraçou sua candidatura. Não totalmente. Caiado, inclusive, já se indispôs com o presidente do Progressistas, senador Ciro Nogueira (PI). A aliança entre União Brasil e Progressistas, se autorizada pela Justiça Eleitoral, limitaria ainda mais o protagonismo de Caiado dentro da federação.
Além disso, a direita está longe de unificar um projeto nacional. Tarcísio, embora publicamente voltado à reeleição em São Paulo, segue como principal aposta do bolsonarismo. Segundo Mota, o recuo do governador paulista é mais tático do que definitivo: “Eles estão protegendo o Tarcísio de desgastes. Ele continua sendo o número um. No momento certo, pode voltar para o cenário nacional”.
“Só com chance real de vitória”
O especialista em marketing político Felipe Fulquim, porém, pondera que essa estratégia só se concretiza se as pesquisas confirmarem competitividade. “Bolsonaro só faria essa composição se visse chance real de vitória. E, racionalmente, é mais fácil para ele ter Michelle como cabeça de chapa e escolher outro vice do que apostar em Caiado.”
Para Fulquim, o maior entrave é a desconfiança interna no bolsonarismo, que poderia temer uma postura independente após eventual vitória de Caiado. “Eles não têm certeza de que ele governaria alinhado ao projeto do Bolsonaro. Isso pesa na hora da decisão”, avalia.
“Pouco conhecido”
Já o especialista Luiz Carlos Fernandes adota uma visão mais cética. Para Fernandes, Caiado só se viabilizaria como alternativa se a direita optasse por lançar vários candidatos, em estratégia para tentar levar a disputa ao segundo turno. “Ele é o menos conhecido e vem de uma região que representa apenas 3,2% do eleitorado nacional. O União Brasil parece não acreditar muito em Caiado. Talvez ele precise mudar de partido para seguir adiante.” (Especial para O HOJE)








