Bruno Goulart
Com pouco mais de nove meses até abril de 2026 — prazo em que deve renunciar ao Governo de Goiás para disputar a Presidência da República —, Ronaldo Caiado (União Brasil) parece dividir sua energia entre três frentes estratégicas: intensificar entregas de obras e programas, projetar aliados para sucedê-lo e buscar visibilidade nacional. Embora em alguns momentos sua ausência física em inaugurações tenha chamado atenção, especialistas apontam que a gestão segue ativa e inserida em um cronograma eleitoral típico das últimas fases de mandato no Estado.
A avaliação é do historiador e especialista em Política Pública Tiago Zancopé, que, em entrevista ao O HOJE, afirmou ver “uma agenda bastante acelerada”. “Acho que a agenda do governador segue bastante ativa. E é óbvio que quando você começa a ter muita entrega, você pode começar a delegar para seus aliados mais próximos em quais entregas eles vão participar ou vão exercer o protagonismo. Isso porque você já está de alguma maneira pensando na eleição do ano que vem”, afirmou.
Gracinha, por exemplo, tem ocupado espaço em agendas de cunho social — como a entrega da nova unidade do Restaurante do Bem em Cavalcante, além da Casa da Pessoa Idosa em Goiânia. Já o vice-governador Daniel Vilela, por ser do MDB e natural do Sudoeste goiano, tem sido presença constante em eventos de infraestrutura, como entregas de rodovias.
Três pilares até abril
Zancopé destaca três eixos que devem pautar a reta final do mandato: infraestrutura, segurança pública e gestão fiscal. “Eu acho que o governador Ronaldo Caiado vai tentar catapultar para essa reta final do mandato dois eixos. Um primeiro eixo é a infraestrutura, mostrando que o Estado de Goiás conseguiu recuperar e construir novas rodovias aqui em Goiás e recuperar aquelas rodovias que estavam em más condições”, disse.
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“O segundo eixo seria segurança pública. A gente poderia também apostar num terceiro eixo que é a gestão pública, como o Estado de Goiás conseguiu reorganizar as contas públicas, conseguiu reduzir seu endividamento, conseguiu, de alguma maneira, mostrar que é possível fazer mais com menos”, completou.
O especialista ainda lembra que a imagem de Caiado na segurança pública extrapola Goiás: “Toda vez que eu vou a São Paulo e digo que eu sou de Goiânia, as pessoas falam: ‘Lá vocês têm um governador que põe ordem na casa, lá é seguro, lá vocês não têm problema com violência igual a gente tem aqui’. Então essa percepção de que Goiás é um estado seguro, ela se concretizou.”
Além disso, Zancopé também traçou um paralelo histórico com ex-governadores goianos. “Iris [Rezende], quando era prefeito, sobretudo no segundo mandato, de 2004 a 2008, basicamente saiu inaugurando asfalto por Goiânia inteira e isso o ajudou a ter uma reeleição. Marconi [Perillo (PSDB)] também tinha por hábito fazer isso. Nos dois últimos anos, o tucano sempre acelerava muita entrega. Isso tem a ver até com o comportamento do ecossistema político goiano.”
Boa aprovação
Já Lehninger Mota, cientista político ouvido pela reportagem, avalia que há um movimento claro de Caiado em direção ao projeto presidencial. “Existe por parte do Caiado uma tranquilidade quanto à aprovação, quanto a chegar com o seu governo até o final, de forma que os goianos entendam como uma gestão que foi positiva”, disse.
Para Mota, essa confiança permite ao governador projetar nomes para a sucessão e focar na cena nacional. “Nesse momento, Caiado começa a pensar politicamente: quem são os players que vão o substituir e que precisam de mais visibilidade. E é nesse contexto que ele começa a pensar mais no Brasil e se inserir no cenário nacional, nos debates nacionais, em detrimento de continuar se dedicando a questões de Goiás”, avaliou.
Segundo o cientista político, Caiado busca um equilíbrio delicado com o PL de Jair Bolsonaro. “Claro que existe por parte dele um cuidado em tentar manter a base unida. Quando nós falamos na base unida, é o PL. Ele ainda não desistiu de ter o apoio do Bolsonaro para a sua candidatura. E ele sabe que uma forma de alavancar fortemente nas pesquisas seria esse apoio do Bolsonaro à sua candidatura”, afirmou.
Na avaliação de Mota, o caminho mais curto seria uma composição com o ex-presidente. “O caminho mais curto, o atalho, seria um apoio do Bolsonaro. Talvez, para isso, ele teria que mudar seu candidato aqui em Goiás, talvez ter um apoio ao Wilder Morais, o Daniel Vilela ir a outro cargo. Mas tudo isso seria em nome de um esforço maior, que é tentar se viabilizar como um candidato competitivo para presidente.” Contudo, o terreno está mais que pavimentado para que Vilela seja candidato ao governo em 2026.
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