O governador Ronaldo Caiado (UB) reforçou o tom de seu discurso como pré-candidato à presidência em entrevista ao O Globo, nesta sexta-feira (1º), que teve o goiano e o prefeito de Recife e presidente nacional do PSB, João Campos, como convidados. O chefe do Executivo goiano ressaltou pontos inerentes às conjunturas política e econômica nas quais o Brasil se encontra. A percepção de Caiado, no que diz respeito aos reflexos das sanções aplicadas por Donald Trump ao Brasil, é que Lula se interessa por essa situação, uma vez que o mesmo ganhou popularidade ao debater com o presidente norte-americano sobre as ameaças e tarifações impostas ao Brasil.
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“Essa crise interessa ao Lula mantê-la, porque teve crescimento de popularidade nas pesquisas. Mas essa é uma crise que pode impor a nós sérias consequências econômicas, não pode ficar de brincadeira”, disse Caiado em entrevista ao O Globo. Foram feitas tentativas de diálogo entre Lula e autoridades estadunidenses, mas o governo brasileiro não conseguiu fazer contato direto com os EUA e nem recebeu retorno. As tentativas permanecem por meio da interlocução entre o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT).
Para o sociólogo Jones Matos, “o que os EUA tentam fazer é uma política totalmente equivocada, porque ela está cheia de discurso político e está associada a interferência na política brasileira, sobretudo no judiciário brasileiro”. “É inaceitável que os EUA criem um ambiente desse.” Ao contrário do governador Caiado, que diz acreditar que a crise ocasionada pelo tarifaço é algo que interessa o presidente Lula, Jones discorda ao falar sobre a origem da crise.
“Quem produziu essa crise foi justamente a extrema direita brasileira, que vem a todo momento criando uma desestabilização no governo, fazendo com que o governo se fragilize nesse campo da economia. Agora, onde estão os governadores que apoiam o Bolsonaro? [Romeu] Zema (Novo-MG), Caiado, Ratinho Júnior (PSD-PR), Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP)? Cadê o discurso nacionalista deles? Eu não vi nenhum discurso deles defendendo os interesses do País, com uma postura mais nacionalista, porque esse é o discurso que eles fazem”, expressa o sociólogo.
Ruptura de relações partidárias
Caiado também afirmou que o União Brasil, do qual o governador é presidente estadual, deve romper relações com o Planalto de forma definitiva. “A conversa que tive na semana passada com o Antônio de Rueda [presidente nacional do UB] e com [o senador] Ciro Nogueira [presidente nacional do PP] é que a primeira reunião que vamos ter com a executiva deverá ser para a ruptura definitiva do partido com a estrutura de governo. Não dá mais para ficar numa situação híbrida”, declarou Caiado ao O Globo. “Com essa reunião, a gente espera entregar cargos e anunciar que, realmente, a gente vai lançar uma pré-candidatura para disputar em 2026”, diz o governador goiano.
Ao analisar o discurso de Caiado na entrevista, o cientista político Lehninger Mota afirma que o chefe do Executivo fez falas rasas sobre a atuação da atual gestão da Presidência da República frente às sanções dos EUA. “Em um primeiro momento, o Caiado faz uma crítica de forma rasa, pois ele diz que o governo Lula não quer acabar com a crise porque ele se interessa pela popularidade que tem ganhado. Mas a questão é que o Caiado tenta equilibrar o discurso de várias formas.”
Continua Mota: “Quando Caiado coloca que o União Brasil, em algum momento, vai romper com o governo, você tem aí uma probabilidade pequena disso acontecer, porque nós sabemos que esses partidos de centro dificilmente vão tomar uma decisão agora”.
“Agora, existe um fator que precisa ser analisado: a maioria das pessoas é contra as tarifas aplicadas pelo Trump e o Caiado, para fazer um discurso equilibrado, precisa defender a soberania do Brasil. Então, ele precisa defender a soberania do Brasil ao mesmo tempo em que o governador ainda sonha com o apoio de Bolsonaro, o que impulsionaria muito a sua pré-candidatura”, pontua o cientista político. (Especial para O HOJE)
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