Bruno Goulart
O Brasil continua consolidado como o maior exportador de soja para a China, mesmo diante de uma possível pressão dos Estados Unidos para aumentar suas vendas ao principal importador global de oleaginosas. Segundo traders internacionais, importadores chineses já garantiram cerca de 12 milhões de toneladas de soja da América do Sul para os meses de setembro e outubro, enquanto nenhum grão norte-americano foi comprado para o quarto trimestre, em meio às negociações comerciais ainda não resolvidas entre Washington e Pequim.
No ano passado, a China importou aproximadamente 105 milhões de toneladas de soja, sendo 22,13 milhões provenientes dos Estados Unidos e a maior parte do restante do Brasil. Esse cenário reforça a importância estratégica do Brasil no mercado internacional, que dificilmente perderá sua posição, mesmo com eventuais aumentos de exportações norte-americanas. A expectativa é de que a safra brasileira de 2025/2026 se mantenha robusta, com produtividade acima da média histórica, com a garantia de volumes suficientes para atender tanto o mercado chinês quanto outros destinos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou sobre a situação durante a assinatura de medidas de apoio a exportadores brasileiros impactados pelas tarifas dos EUA. “A verdade é que não é possível imaginar que o governo vai substituir os nossos parceiros comerciais. Vamos ter que procurar outros parceiros. Da minha parte, eu sou vendedor de qualquer coisa”, afirmou. Lula ainda destacou que cerca de 500 empresários brasileiros se reunirão na Índia, em janeiro, para discutir novos negócios, especialmente no mercado de fármacos. “Em vez de ficar chorando aqui o que nós perdemos, vamos procurar ganhar em outro lugar. O mundo é grande e está ávido para fazer negociação com o Brasil”, acrescentou.
Soja brasileira
Para o consultor de mercado Enio Fernandes, engenheiro agrônomo da Terra Agronegócios, ouvido pelo O HOJE, a capacidade do Brasil de manter sua liderança no fornecimento de soja para a China é sólida. “Brasil, EUA e Argentina são os maiores produtores de soja do mundo. Então, eles obrigatoriamente competem no mercado. A Argentina exporta muito pouca soja em grão, ela exporta mais farelo e óleo. Mas não consegue atender o mercado global sozinha. Sobrou espaço para os Estados Unidos”, explicou Fernandes.
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Apesar das políticas norte-americanas de incentivo ao biodiesel e a instalação de novas plantas de esmagamento de soja, Fernandes avalia que o Brasil continuará a ser o maior fornecedor de soja para a China. “Os Estados Unidos poderiam vender mais soja para a China, mas é difícil que consigam superar o Brasil no curto prazo, porque eles não têm volume suficiente. Além disso, a área agrícola dos EUA já está consolidada: se aumentarem a produção de soja, vão reduzir a área de milho. É simples assim”, destacou.
Novas oportunidades
Fernandes também apontou efeitos indiretos da disputa pelo mercado chinês. “Quanto mais soja for vendida pelos EUA para a China, menos farelo é direcionado à Europa. A Europa precisará comprar farelo em outro lugar, aumentando a demanda pelo produto argentino e, sobretudo, pelo farelo brasileiro. Então, mesmo que o mercado fique competitivo, o Brasil continua com papel estratégico.”
Sobre a adaptação do setor, Fernandes observa que o mercado brasileiro é resiliente. “É ruim perder mercado, mas rapidamente nos adaptamos. Nosso potencial de oferta é muito grande. Por exemplo, se não exportarmos toda a soja, podemos processar e vender mais farelo. O farelo e o óleo da soja têm muito mais valor agregado do que o grão em si, porque viram proteína animal. Portanto, mesmo que os EUA aumentem suas vendas, o Brasil encontra alternativas”, explicou.
O consultor de mercado acrescentou que a influência dos preços internacionais também gera oportunidades. “Cada vez que a China compra mais soja norte-americana, os preços em Chicago sobem. Isso afeta os produtos derivados da soja, mas também abre espaço para o Brasil exportar farelo e óleo. Estruturalmente, o Brasil mantém liderança e oferta robusta, e qualquer ajuste no mercado é temporário.” (Especial para O HOJE)
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