Bruno Goulart
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), reafirmou nesta quarta-feira (17), em Araçatuba (SP), que pretende disputar a reeleição em 2026 e não concorrer ao Palácio do Planalto. A fala ocorreu durante um evento em que anunciou R$ 3,3 milhões em investimentos no Noroeste paulista. Questionado por jornalistas sobre uma candidatura presidencial, respondeu: “Eu pretendo concorrer à reeleição”.
A declaração acontece em um momento decisivo para a política nacional. Com a condenação de Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o espaço da direita ficou em aberto, e Tarcísio é considerado o nome mais competitivo para sucedê-lo. Sua opção por permanecer em São Paulo, ao menos no discurso, deixa o campo conservador fragilizado e, segundo analistas, abre ainda mais espaço para o presidente Lula da Silva (PT) buscar um quarto mandato em 2026.
Lula fortalecido
Ao O HOJE, o especialista em marketing político Luiz Carlos Fernandes avalia que Tarcísio é hoje o nome das elites e do mercado, mas que sem ele no Planalto, Lula tem caminho livre. “Tarcísio é o candidato das elites e do mercado. Bolsonaro vai ser rifado. O máximo que vai conseguir é prisão domiciliar e redução de pena. Agora parte do mercado já viu que não tem jeito. Lula ganha de qualquer um no primeiro e no segundo turno. Acho que se a direita continuar peitando o Brasil no Congresso Nacional e o Trump tentando interferir no Brasil, Lula pode até levar já no primeiro turno. Então, a pergunta é: Tarcísio vai deixar uma reeleição com grandes chances para entrar em uma eleição perdida e que vai ter que disputar com outros governadores?”
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Para Fernandes, sem Tarcísio, o cenário fica ainda mais favorável para o petista. “Sem Tarcísio, fica até mais fácil para Lula. Ronaldo Caiado (UB) e Romeu Zema (Novo-MG) juntos não chegam a 10% de intenção de votos. Se o Ciro Gomes concorrer pelo PSDB, aí que eles não terão chances nenhuma.”
Estratégia
Na avaliação do também especialista em marketing político Felipe Fulquim, a fala de Tarcísio funciona como uma forma de não se expor cedo demais e manter um plano B. “Ele está, de fato, tentando tirar o nome dele de evidência nesse momento agora. Caso a candidatura à presidência dele não decole, não ficaria sem alternativa completamente. A gente já viu vários governadores que eram pré-candidatos a presidente ao longo da história fazendo isso. Não é uma estratégia nova. Mas, nesse momento, ela é importante porque, com a iminência da prisão do Bolsonaro, o cenário vai ficar relativamente aberto.”
Entre discurso e prática
O cientista político Francisco Tavares, cientista político e professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás (UFG), lembra que há uma diferença entre o discurso e as ações do governador paulista. “Ele diz: ‘Sou o candidato à reeleição no Governo do Estado de São Paulo’. Contudo, para além do discurso, os gestos dele são inequívocos como um candidato à Presidência da República. Então, é alguém que sobe no palanque na Avenida Paulista, é alguém que larga o Governo de São Paulo e vai fazer articulação pela anistia lá em Brasília. É alguém que, quando vai participar daqueles eventos promovidos na Faria Lima pelo setor financeiro, não fala de São Paulo, mas discute política econômica, discute política monetária. Portanto, é alguém que está se articulando com lideranças para ser candidato a presidente e, nesse momento, é o principal nome não apenas do próprio partido, mas também do PP e do União Brasil.”
Tavares acrescenta que a estratégia de negar até o fim é comum na política. “Não tenho a menor dúvida de que o [senador] Ciro Nogueira (PP-AL) quer se colocar como vice, mas tem muito jogo para ser jogado até lá. Talvez o bolsonarismo ainda mais extremo possa tentar emplacar um ou uma vice de Tarcísio, mas nesse momento não resta a menor dúvida de que ele é o candidato e, até por isso, ele não vai se apresentar enquanto tal para evitar um processo de exposição e de fritura. Esse é um processo que nós, goianienses, conhecemos bem. Lembra do velho Iris [Rezende]? Nunca era candidato até o último dia da inscrição da chapa.” (Especial para O HOJE)
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