Mais uma pausa no andamento do projeto de anistia. Agora, o motivo é a instabilidade entre Brasil e Estados Unidos e as manifestações lideradas pela esquerda contra a blindagem de parlamentares e o projeto de perdão aos envolvidos no 8 de janeiro. Relator da anistia na Câmara dos Deputados, o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-PR) deseja prorrogar a conclusão do texto. Mas, ao ser nomeado para a função, o parlamentar chegou a projetar a votação para esta quarta-feira (24).
Como nem tudo o que é planejado sai do jeito que se espera, o conselho do relator à oposição é que haja a desistência da ideia de anistia a todos os envolvidos na tentativa de golpe de Estado. A advertência foi feita após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fazer comentários favoráveis ao presidente Lula durante a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) e confirmar um encontro com o chefe de Estado brasileiro para a próxima semana.
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“Eu só faço negócios com pessoas que eu gosto. E eu gostei dele, e ele de mim. Por pelo menos 30 segundos nós tivemos uma química excelente, isso é um bom sinal”, disse o norte-americano. Isso foi o suficiente para o projeto de anistia ser inserido em uma situação de considerável instabilidade, o que levou Paulinho da Força, mais do que depressa, a mandar o recado ao Partido Liberal para que deputados aceitem a redução de penas sob o risco de não aproveitarem nada do que pode restar da pauta.
Aliás, o desejo de que a anistia não dê em nada correspondente às expectativas de boa parcela da população, inclusive é o que espera o comunicador e marqueteiro político Léo Pereira. “Na minha opinião, esse projeto tinha que ser jogado no lixo junto com a PEC da Blindagem. É totalmente absurdo e inadequado. A possibilidade de anistia de todo e qualquer réu está expressa na súmula do Mauro Cid, que é um condenado do núcleo crucial e foi agraciado com 2 anos em regime aberto. […] Portanto, qualquer réu que confesse seu crime e peça perdão terá direitos humanos. O que não dá é a pessoa ser anistiada para continuar na razão do crime e sem manifestar nenhuma reeducação”, ressalta Pereira ao O HOJE.
Elogios que geram desconfiança
O sociólogo e analista político, Pedro Célio, comenta sobre a relação de Trump com o presidente Lula na Assembleia da ONU e destaca a imprevisibilidade do presidente norte-americano. “Eu acho que o elogio do Trump ao presidente Lula durante a assembleia da ONU foi algo inusitado, inesperado. Nem o Lula, nem ninguém da comitiva brasileira, nem os mais otimistas contavam com essa postura do presidente norte-americano.” Pedro se diz desconfiado com o posicionamento de Trump e afirma acreditar ser melhor esperar e acompanhar os próximos acontecimentos em torno da relação mais do que conturbada entre Estados Unidos e Brasil.
“Eu prefiro ficar um pouco na moita e ficar a esperar os desdobramentos para a próxima semana, porque o presidente Trump é completamente imprevisível e, além de imprevisível, ele é irresponsável. E, além do mais, ele não dá a mínima para nenhuma questão de protocolo ou de decoro nas relações entre os países”, pontua o professor aposentado da UFG ao O HOJE.
Léo Pereira parte para uma análise histórica e destaca situações em que os Estados Unidos atuaram de forma a prejudicar o Brasil e explicitar que as sanções tarifárias da atualidade não foram as primeiras atitudes dos EUA contra o Brasil. “Eu espero que um dia os Estados Unidos paguem judicialmente por ter gestado o golpe de 1964 no Brasil. Há vastas provas disso. E há, também, vastas provas da participação dos EUA, articulados com o juiz Sergio Moro e outros, para o golpe econômico e antidemocrático contra o Brasil e a presidente Dilma. Que eles paguem judicialmente por esses graves crimes. Todos os envolvidos. Se não for assim, dificilmente a gente vencerá um dia o complexo de vira-lata”, opina o marqueteiro político. (Especial para O HOJE)
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