O melhor negócio do momento é vender pesquisa. Além dos muitos instalados em Goiás, está havendo uma invasão de institutos do Sudeste e do Sul do País. Dos daqui ainda se pode reclamar aos responsáveis, mas os de fora estão distantes do alcance das vítimas, não se sabe sequer o nome de cada autor, para individualizar suas condutas. O truque dos alienígenas é dizer que contratam das empresas locais os entrevistadores, complicando ainda mais as diferenças de dados. No fim da semana que passou, surgiu uma tal Atlas/Intel com informações surpreendentes – um detalhe é que essas surpresas nunca assustam quem contrata.
No geral da Atlas, o vice-governador Daniel Vilela está com 42,3%, o senador Wilder Morais surge com 16,5%, empatado com o ex-governador Marconi Perillo (15,6%) e a deputada federal Adriana Accorsi (15,4%). Telêmaco Brandão tem 0,3%, 6% deram outras respostas, 2,7% disseram que não sabiam e 1,2% promete votar em branco ou nulo. Podicrê: a mais de um ano da votação, somente menos de 3% não sabem em quem votar. É um efeito conhecido na ciência como a psicologia de negação: o Governo de Goiás precisa divulgar semelhante desatino para seus cabos eleitorais mentirem a si mesmos. Aceitar seria nobre e eficiente, dando aos companheiros a oportunidade de reagir.
Os bastidores dos risos diante desses números maquiados ressoam que quem fatura verbas oficiais do Estado ganhou um sarrafo e tem de fincá-lo nos 40%. Portanto, deve-se aguardar o comportamento de institutos como Paraná e Quaest nos próximos levantamentos. Se publicarem algo com a realidade de Daniel, a alternativa é sumir do Rio Paranaíba para baixo, pois em Goiás vai ser difícil fazer negócios.
Ai da Quaest se repetir os resultados do final de agosto, quando encontrou o seguinte retrato das ruas: Daniel 26%, Marconi 22%, Wilder 10%, Adriana 8%, Telêmaco 1%, indecisos 14% e 19% preferindo não voltar, anular ou apertar o “branco”. Nada aconteceu de tão extraordinário para Daniel quase dobrar seu capital político. Em 5 anos e meio na crista da publicidade, das inaugurações, dos lançamentos, dos quindins de iaiá, havia conseguido 20 e poucos por cento. Iria multiplicar tudo isso em menos de um mês?
Em certo trecho dos gráficos da Atlas, Adriana chega a 47,2% dos votos de Goiânia. Há menos de um ano, ela teve 24,44% para prefeita da Capital – é provável que nem a própria acredite nessa ginástica estatística do governo. Outro detalhe das planilhas da pesquisa do fim de semana está nos herdeiros de votos do ex-prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha. Segundo Atlas, os votos do filho do saudoso Léo Mendanha serão distribuídos de forma surreal: 33,7% para Marconi, 29,5% para Daniel, 15,2% para Wilder e 12,3% para Adriana.
Chega ou ainda sobrou alguém que acredite? Atlas quer fazer crer que o eleitorado do ex-deputado federal major Vitor Hugo, candidato a governador em 2022 e hoje vereador em Goiânia, tem 61,2% para Wilder, 19,2% para Daniel e – truco! – 16,3% para Marconi. Hugo foi votado por bolsonaristas fanáticos. O que faria 35% dos fanáticos bolsonaristas votarem em lulistas como Daniel e Marconi?
Num quadrinho que deveria ter o título de “Vou aplicar esse golpe porque aqui só tem trouxa”, o instituto alinha em quem vão votar no próximo ano quem escolheu cada pretendente a senador em 2022. Marconi foi candidato àquele cargo naquele ano e ficou em 2º, havia uma vaga, perdeu. Quantos por cento dos eleitores de Marconi vão votar em Marconi? 100%, claro. Nem claro nem tim: apenas 61,8%. Wilder foi candidato ao Senado e ganhou. Quantos por cento dos eleitores de Wilder vão votar em Wilder? 100%, claro. Nem claro nem vivo: só 54,9%. Com quem ficariam os demais eleitores de Wilder e Marconi? Precisa nem apostar nas bets: ele, Daniel, atrairia 30,8% dos votos de Wilder e 19,4% dos de Marconi. É pá cabá cos pequi do Goiaisi.
Tática é insistir num nº fictício até chegar a ele
A História de Goiás com as pesquisas de opinião pública é tempestuosa, com enxurrada de reclamações, bueiros cheios de fake news e galhos quebrados pelos prestadores de serviços. Um quebra-galhos bem bacana é imaginar um número ou percentual e insistir nele até virar realidade, mesmo que se restrinja à bolha dos cargos comissionados, ocupados por pessoas levadas ao governo que podem ser demitidas quando o chefe quiser.
Em 1998, o governador Maguito Vilela tinha aprovação tipo a de Ronaldo Caiado agora, na faixa dos 90%. O PMDB mentiu para si mesmo ao considerar que ganharia com qualquer nome, fosse Maguito ou o então senador Iris Rezende, que mandava no partido e no grupo inteiro. Se o candidato fosse Maguito, estaria reeleito com os dois pés nas costas. Iris usou um só dos pés e o tirou da jogada. Saiu a chapa Iris governador, Maguito senador. Iris tinha esses índices estranhos, 90%, por aí. Foram negando a si mesmos o crescimento de Marconi e o final está até escrito no diretório do MDB: Iris perdeu, Maguito ganhou, Marconi destruiu os institutos.
Àquela época, as pesquisas eram menos desavergonhadas. Cada pormenor das 38 páginas da Atlas é tão pornográfico que deveria ser proibida para menor. Fiquemos com o item rejeição. Conseguiram encontrar somente 1,2% de jovens de 16 a 24 anos que não gostam de Daniel. Por extenso, para eliminar dúvidas: um vírgula dois por cento. É provável que esteja menos rejeitado que Jesus Cristo, pois ateus, judeus, muçulmanos, hindus e outros ignoram o Filho de Deus. O mesmíssimo público está pronto a dar pauladas na oposição: 71,6% rejeitam Lula, 55,1%
Adriana, 53,7% Rubens Otoni (deputado federal do PT), 38,7% o deputado federal do PL Gustavo Gayer, 38,6% Wilder. Respondam bem baixinho: é possível que existam em Goiás 3.000% a mais de jovens que tenham mais pavor de Wilder que de Daniel? De onde saíram essa repulsa pelo liberal e esse amor pelo emedebista?
Atlas lista 16 políticos que de acordo com seu relatório detêm 99,9% da rejeição dos goianos e 99,5% das goianas. Quem estiver fora do rol, bem-vindo ao Paraíso, ninguém o odeia.
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