Bruno Goulart
A intervenção da Guarda Civil Metropolitana (GCM) de Goiânia contra a ação do Projeto Banho Solidário para população de rua, realizada no último sábado (17/5), provocou forte reação de entidades civis, parlamentares e defensores dos direitos humanos. O caso foi denunciado ao Ministério Público de Goiás (MP-GO), à Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO) e ao Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) pelo vereador Fabrício Rosa (PT), que classificou o episódio como “muito preocupante” e sintomático da ausência de políticas públicas efetivas para a população em situação de rua em Goiânia.
A denúncia surge após voluntários do projeto — organizado por membros da comunidade da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e Santa Edwiges — relatarem que agentes da GCM impediram a realização da ação social, que costuma levar banho quente, roupas limpas, kits de higiene e refeições a moradores de rua da Praça Joaquim Lúcio, na região de Campinas. Segundo os voluntários, os guardas afirmaram: “Não é para dar banho, nem distribuir roupas, nem comida, nem água, nem nada para quem vive nas ruas.”
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Fabrício Rosa, que atua como ouvidor de Combate a Crimes Raciais e de Intolerância da Câmara Municipal, encaminhou ofícios a diversas autoridades cobrando providências. Ao O HOJE, o parlamentar criticou duramente o prefeito Sandro Mabel (UB) pela proibição de ações voluntárias de apoio à população em situação de rua na Praça Joaquim Lúcio, chamando a atitude de “desumanidade”. Ele destacou que a negação de alimentos, banhos e kits de higiene representa violência institucional e exclusão, e defendeu que as pessoas em situação de rua têm direitos e precisam de políticas públicas, como saúde mental, moradia e oportunidades de emprego.
Além da denúncia formal, Rosa disse que apresentará uma moção de apelo ao prefeito Sandro Mabel e ao comandante da GCM, Gustavo Toledo da Silva Lima, durante a sessão da Câmara nesta terça-feira (20). A proposta solicita que a gestão municipal assegure às entidades da sociedade civil o direito de prestar assistência humanitária à população em situação de vulnerabilidade.
O que diz a GCM e Prefeitura
Em nota oficial, a GCM informou que “apura a situação relatada” e reafirmou seu apoio a projetos da Prefeitura voltados ao acolhimento de pessoas em situação de rua. A corporação pontuou que sua atuação tem como foco garantir a segurança nos espaços públicos.
O prefeito Sandro Mabel, por sua vez, também divulgou nota afirmando que determinou a imediata apuração do episódio, enfatizando que a conduta dos agentes não condiz com os princípios de sua gestão. Segundo a nota, o prefeito “compartilhou preocupações com o Arcebispo de Goiânia, Dom João Justino, e expressou intenção de ampliar ações para cuidar com dignidade das pessoas que vivem nas ruas.”
Declarações do prefeito
Contudo, o jornal O HOJE resgatou declarações do prefeito Sandro Mabel que, à época, foram alvo de críticas por aparentarem uma postura higienista diante da população em situação de rua. Durante uma visita ao setor Campinas, em março, Mabel dirigiu-se a um morador de rua dizendo: “Assim não vai ter mais jeito de ficar não, porque meu coração dói demais ver vocês na rua” — e completou, referindo-se ao homem como “um caboco forte que nem você”.
A fala foi interpretada por especialistas e defensores de direitos humanos como um indicativo de que a gestão enxerga essas pessoas como um problema a ser retirado do espaço público, e não como cidadãos a serem incluídos por meio de políticas de acolhimento e reintegração.
Segundo dados da Coordenação de Apoio Técnico Pericial do MP-GO (Catep), Goiânia tinha em 2024 cerca de 2.500 pessoas em situação de rua, um aumento expressivo em relação às 1.500 estimadas pela Prefeitura em 2019.