Bruno Goulart
O prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (União Brasil), protagonizou uma cena curiosa na noite da última quarta-feira (16) ao participar pessoalmente de uma operação da Guarda Civil Metropolitana (GCM) em parques da Capital. De colete à prova de balas, acompanhado por cerca de 30 agentes, assessores e seguranças pessoais, Mabel entrou na mata fechada do Jardim Botânico e do Bosque dos Buritis enquanto afirmava que o objetivo era combater o tráfico de drogas, a prostituição e práticas sexuais em áreas públicas. A ação foi registrada em vídeos divulgados em suas redes sociais e rapidamente ganhou repercussão.
Durante os registros, Mabel aparece ao lado do comandante da GCM, Gustavo Toledo, e anuncia que estava “dentro da mata do Parque Jardim Botânico procurando uns traficantes, umas coisas”. Em outro momento, já no Bosque dos Buritis, reforçou a necessidade de “liberar os nossos parques desse tráfico de drogas e de outros crimes”.
“Sem ganho político”
Ao O HOJE, o professor e consultor em marketing político Marcos Marinho avaliou com ceticismo a estratégia do prefeito. “Tudo em comunicação política tem que ser feito em prol de um objetivo claro e estruturado no planejamento. Essa ação do Sandro Mabel, eu confesso que tenho dificuldade de entender qual foi o possível ganho político”, afirmou.
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Para Marinho, a presença do prefeito em uma missão ostensiva de segurança pública levanta questionamentos sérios, como o risco de desvio de função e o desrespeito às atribuições institucionais. “Prender traficante é papel da Polícia Militar. Então tem uma dificuldade de entender até que ponto não houve uma invasão de prerrogativas. A cena ficou parecendo uma tropa de caça, sem entrega social concreta. Montou-se uma cena de filme de ação sem nada sólido por trás”, analisou.
Segundo o estrategista, ao se expor dessa forma, Mabel arrisca mais desgaste do que capital político. “Você abre margem para virar meme, para virar piada. Não teve ação efetiva, não teve resultado. Honestamente, não vi ganho político e não entendo como isso seja benéfico para a imagem do Sandro Mabel. Por mais que alguns batam palma, geralmente a claque bate palma, mas o cidadão comum pensa: ‘Será que o prefeito tinha que estar fazendo isso?’.”
Marinho ainda lembrou que o cargo de prefeito carrega consigo a responsabilidade institucional de representar a capital de um Estado estratégico como Goiás. “Existe uma liturgia, uma expectativa sobre quem ocupa esse cargo. Goiânia vem de uma gestão problemática e enfrenta sérios problemas estruturais. E o prefeito acha que liderar batida em bosque é prioridade?”
Repercussão nas redes
A ação dividiu opiniões. Nas redes sociais, seguidores comentaram diretamente nos vídeos publicados no Instagram oficial do prefeito. Parte dos comentários foi de apoio, como o de Thiago Vinícius: “Agora você foi longe… parabéns pelo seu esforço”. Outros, no entanto, criticaram duramente a iniciativa, ao apontar falta de prioridades e o estado precário da saúde pública. “Quero ver você fazer isso nos Cais”, comentou Sueyde Costa. Maria José dos Santos reforçou: “Tem é que arrumar os Cais que não têm remédio e gente pra atender”. Já Alessandro Almeida cobrou mais iluminação no Bosque dos Buritis, enquanto Fernando Henrique questionou o foco da operação: “Moro em frente ao Jardim Botânico e não vejo traficante, só sujeira”.
A gestão promete melhorar a iluminação e reforçar a presença da GCM, mas internautas pedem medidas mais concretas. “Podia criar uma unidade de vigilância permanente aí no bosque. Uma de cada lado e 24h”, sugeriu Sacha Witkowski. Outros pedem foco em problemas mais urgentes. “Muito marketing e pouco serviço. Nunca mais ganha nada”, resumiu Fábio Edson. “Cadê a ação pra tirar a cracolândia do Setor Central?”, questionou Hygor Matheus.
Histórico dos parques
O Jardim Botânico e o Bosque dos Buritis, em Goiânia, há muito tempo são conhecidos por encontros sexuais noturnos, especialmente entre homens. Em 2021, a gestão do então prefeito Rogério Cruz (Solidariedade) promoveu uma operação de limpeza no Bosque que recolheu cerca de 3 mil preservativos nas trilhas. Na época, também foram fechados os portões de acesso às trilhas durante a noite.
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