Superando as expectativas de um parlamentar da Câmara Municipal de Goiânia, a vereadora Aava Santiago (PSDB-GO) tornou-se símbolo dos evangélicos progressistas. A projeção da tucana, que a levou a participar do Conversa com Bial, programa da TV Globo, representa a força política da parlamentar e reafirma o perfil de Aava, que se transformou em uma representante do progressismo no meio evangélico — dominado majoritariamente pelos pensamentos conservadores, sobretudo em Goiás.
No programa que foi ao ar na madrugada da última quarta-feira (18), a parlamentar e o jornalista e escritor Gutierres Fernandes Siqueira, autor do livro “Igreja Polarizada”, foram entrevistados por Pedro Bial. O episódio do programa tratou da “guerra cultural nas igrejas” — tema pertinente para que a vereadora defendesse seus ideais com base em premissas religiosas.
Ao tratar sobre uma suposta dicotomia entre ser evangélica e feminista, Aava afirmou: “É impossível ser transformada pelo evangelho e permanecer inerte perante as injustiças. De todas as formas de injustiças. Das desigualdades, da fome, dos feminicídios, da violência de gênero… é impossível. Não é o feminismo que me move, é o evangelho”.
Durante a entrevista, Aava criticou o “terrorismo moral” praticado nas igrejas e relembrou o caso da ex-ministra das Mulheres, Damares Alves (Republicanos) — atualmente senadora pelo Distrito Federal. Em 2022, a então titular da pasta relatou, em um culto na Assembleia de Deus – denominação à qual Aava pertence -, abusos sexuais que crianças teriam sofrido na Ilha de Marajó. Damares nunca provou suas acusações e foi desmentida pelo Ministério Público Federal (MPF).
Sobre o caso, a parlamentar criticou a falta de sensibilidade da ex-ministra e a utilização do caso para benefício do projeto político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “É curioso porque ela falou disso no 2° turno [das eleições de 2022]. Ela foi ministra por quatro anos e não tinha trazido essa história à tona. Então quer dizer que as tragédias das crianças são meramente eleitorais?”, questionou Aava.
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Projeção política
Em alta e próxima do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a parlamentar é cotada para disputar uma vaga no Senado Federal nas eleições do ano que vem em uma chapa com apoio do governo federal. Com seu perfil único no Estado, sua candidatura teria potencial de unir dois polos que pouco dialogam em Goiás: os evangélicos — ou pelo menos parte deles — e a centro-esquerda. Na conversa com Bial, a vereadora não colocou-se à esquerda, porém, não dispensou o rótulo.
Para o especialista em marketing político pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Luiz Carlos Fernandes, é uma característica da “mulher evangélica” saber “diferenciar os governos Lula e Bolsonaro”. Segundo Fernandes, esse grupo “avalia melhor as entregas do PT” em comparação à gestão do ex-presidente. Nesse sentido, o especialista argumenta que há espaço para Aava no espectro à esquerda. “Quem realmente segue o evangelho à risca, é mais parecido com a Aava do que com o [pastor Silas] Malafaia”, disse o especialista.
A postura combativa, aliada ao perfil de mulher evangélica progressista, coloca a vereadora nos holofotes, já que, em Goiás, é uma personagem política única. (Especial para O Hoje)
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