Bruno Goulart
O Conselho de Ética da Câmara abriu, nesta terça-feira (23), um processo que pode levar à cassação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O parlamentar é acusado de defender sanções dos Estados Unidos contra o Brasil para pressionar instituições republicanas. O deputado foi para os EUA no início do ano e perdeu o posto de líder da minoria.
O cenário se complicou ainda mais com a fala de Donald Trump na Assembleia Geral da ONU. Apesar de criticar o Brasil, o presidente norte-americano elogiou o presidente Lula (PT) e confirmou um encontro para tratar de tarifas e sanções. “Ele parece um cara muito legal, ele gosta de mim e eu gostei dele. Por 39 segundos, nós tivemos uma ótima química e isso é um bom sinal”, disse Trump. A declaração surpreendeu aliados bolsonaristas e fortaleceu a posição do presidente brasileiro.
Especialistas analisam
Para a advogada internacionalista Melissa Borges, ouvida pelo O HOJE, a situação é grave para Eduardo Bolsonaro: “Os bolsonaristas foram pegos de surpresa, haja vista que o presidente Trump, em sua fala, fez críticas ao Brasil, porém, fez elogios ao presidente Lula, inclusive falando que quer negociar com ele”.
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Melissa aponta que o deputado apostou muito nas sanções para proteger o pai, mas a realidade econômica americana fala mais alto: “Vejo que ele apostou muito sobre as fortes tarifas e sobre as sanções do governo americano. Porém, nas relações internacionais, nós vemos que quem manda não é o jogo político, sim, onde vai o dinheiro. E dinheiro não segue ideologia”.
A advogada destaca que setores americanos pressionaram Trump contra as tarifas e o episódio enfraquece Eduardo: “Eu vejo que a cabeça dele vai ser posta a prêmio, não agora, mas está caminhando para isso. Tanto é que seu caso já foi até encaminhado para o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados pelo presidente Hugo Motta e foi barrado de ser o líder da minoria. É o que irá acontecer com ele: perder o seu mandato e principalmente seu capital político”.
O especialista em marketing político Luiz Carlos Fernandes também nota a mudança de cenário: “O disco virou. Esse Projeto de Lei da Anistia não vai nem ser pautado, nem como dosometria. O Senado vai derrubar qualquer possibilidade de uma ou da outra”.
Segundo Fernandes, Trump tentará vender a aproximação com Lula como resultado de negociação, enquanto o Congresso brasileiro volta a se concentrar em pautas centrais. “Eu acho que a bola da vez agora é Lula e companhia. O Congresso vai ter que botar o pé no chão e abaixar. Motta deu entrevista dizendo que vai tirar pautas tóxicas de cena para votar as coisas que importam: Imposto de Renda, Reforma Tributária… Eles estão vendo que se não fizerem vai ser uma lavada o ano que vem nas eleições. Esse Congresso vai ser renovado 80%. Eles estão muito mal na fita.”
Futuro incerto
Eduardo Bolsonaro enfrenta um processo que pode durar até 90 dias, mas tende a avançar mais rápido. O fato de estar nos EUA, distante do plenário e da base eleitoral, aumenta sua vulnerabilidade. Com Trump a cortejar Lula e o Congresso a se afastar de pautas radicais, o deputado se vê cada vez mais isolado. A pergunta que circula nos bastidores já não é se ele será cassado, mas quando.
Especialistas dizem acreditar que o episódio não só fragiliza Eduardo, mas também pode dividir ainda mais o bolsonarismo. Melissa Borges ressalta que “as sanções inflaram o patriotismo do Brasil e deram uma forcinha a mais à esquerda, que estava perdendo essa luta ideológica para direita”, o que indica mudanças profundas no cenário político nacional. (Especial para O HOJE)
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