Nilson Gomes Carneiro
Donald Trump ficou preocupado demais com o Brasil, pois o PIB dos Estados Unidos está próximo de 30 trilhões de dólares e o daqui encalacrou em 2 trilhões e 180 bilhões de dólares. É a mesma relação do Governo Federal com Goiás: 3,2% ou R$ 342 bilhões. Daí nasce o equívoco de não se temer representantes de Estados com menos população ou economia menor. Aí está um dos axiomas da candidatura do governador Ronaldo Caiado. Há diversos. Com base em análises assim, foi possível selecionar 10 motivos para se animar com suas chances de ocupar o Palácio do Planalto e outros tantos que o distanciam do cargo.
A favor
1) O partido – Caiado é do União Brasil, agremiação com grandes quadros e capilaridade. Em todos os municípios do Brasil há militantes prontos para uma campanha que nunca vem com filiados do próprio partido. Em 1989, na volta das disputas presidenciais, lançou Aureliano Chaves, que havia sido vice de João Figueiredo, o último general do regime militar. Foi um fiasco nas urnas. Teve 0,89% dos votos, pouquíssimo acima do 0,72% de Caiado, apoiado por ninguém e no então minúsculo PSD.
2) O Estado – Os 7 milhões de goianos parecem poucos diante dos 211 milhões de brasileiros. Mas a conta não é essa. Lula nasceu no Pernambuco e foi para São Paulo. Fernando Henrique nasceu no Rio de Janeiro e foi para São Paulo. Ambos chegaram a presidente. Mas Fernando Collor fez o caminho inverso: nasceu num Estado muito populoso, o Rio de Janeiro, e foi para Alagoas. E também chegou a presidente. Aliás, teve presidente de diversos Estados com menos habitantes que Goiás. Ou seja, esse quesito não tira candidato do páreo.
3) A ideologia – Até há pouco tempo, direita era um xingamento. E Caiado era de direita. Agora, é o momento de colher. A polarização é mais entre Lula e Jair Bolsonaro que entre direita e esquerda, mas a ausência do ex-presidente na urna viabiliza os nomes do mesmo ramo de pensamento.
4) Segurança pública – O grande problema do país é uma grande solução em Goiás. A criminalidade foi tratada, desde 2019, como urgência a ser resolvida rapidamente, na velocidade de um disparo. Ou mais de um. Caiado já disse que, sendo presidente, quer dormir na Rocinha e em outras favelas do Rio de Janeiro até resolver o problema.
5) Facções – Organizações criminosas como o PCC e o Comando Vermelho já estão na esfera da segurança nacional, são organizações terroristas. Prejudicam a economia. Acabam com a profissionalização. Esse problema deve ser exterminado, pois como governador Goiás tratou as facções no bico do fuzil e apenas vai nacionalizar a estratégia.
6) Agropecuária – O primeiro nicho de Caiado foi a política classista, como líder agropecuarista. Fundou a União Democrática Ruralista, que fez contraponto às esquerdas durante o preparo da Constituição de 1988. Sem a UDR, entre outras facetas, é provável que o direito de propriedade tivesse ficado fora da nova Carta. Por isso, Caiado tem o respeito do produtor de todos os tamanhos de propriedade. O presidente da Federação da Agricultura de Goiás, José Mário Schreiner, diz que toda agricultura é familiar, pois envolve as famílias, todas as famílias.
7) Empreendedorismo – Lula ainda não percebeu o mal que faz ao futuro do Brasil desacostumando da luta um povo tão guerreiro e empreendedor. Ao privilegiar a doação de dinheiro, premia a inanição da vontade de crescer. Caiado faz o contrário em Goiás, com financiamento e outros incentivos a quem quer abrir uma loja, um açougue, uma agroindústria, enfim, qualquer porta ou portal. Tem os programas sociais, porém casados com a vocação das pessoas.
8) Educação de vencedores – Os vídeos na internet, feitos estudantes sem qualquer participação oficial, mostram a diferença dos alunos goianos. Caiado os cerca de zelo e estrutura. Só não estuda quem não quer. E quem quer é premiado. Para todos, os que querem e os que não querem, uniforme, calçado, mochila, computador, alimentação, dinheiro. Quem não quer, vai embora, e o governo, como os quer de voltar, corre atrás. Investiu em pesquisa, ciência, tecnologia. Está formando uma geração de vitoriosos.
9) Saúde – Espalhou unidades por todo o Estado. Goiás só tinha UTI na Capital e em cidades grandes. Hoje, o tratamento intensivo está para todo lado. Está fazendo o maior hospital do país dedicado a tratamento de câncer infantil, o Cora. Teve excelente desempenho na pandemia e no pós.
10) Economia – Cabe dar um Google ou pedir para inteligência artificiar resumir o crescimento de Goiás. O agro no Sudoeste, no Sul, no Norte. A mineração no Vale do São Patrício e no Norte. A industrialização em Anápolis, Aparecida, Catalão e Goiânia. A avicultura em Itaberaí, Pires do Rio e Rio Verde. Os serviços no Entorno do Distrito Federal. A cada exercício, Goiás obtém melhores índices que a média do Brasil.
E quais são os fatores que pesam contra Caiado
1) O partido – O União Brasil tem quem combate a esquerda e os que se amontoam com ela, inclusive presente no ministério de Lula. É um mistério saber como vai se comportar para não trair Caiado.
2) O Estado – Goiás tem brasileiros de todas as regiões, mas é realmente pequeno em população e economia. Caiado está percorrendo o País levando a tiracolo a expertise de um modelo aplaudido de gestão que pode ser escalada.
3) A ideologia – Um problema para o governador de Goiás é que 30% do eleitorado permanece avesso a seu pensamento liberal, a tal bolha de esquerda. Ainda o veem como um fazendeiro do interior – e ele é mesmo.
4) Grandes regiões metropolitanas – O maior desafio para Caiado e qualquer outro candidato fora Lula e Bolsonaro são as zonas densamente habitadas, como as regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Salvador, Manaus, Belém, Porto Alegre, Curitiba. A aposta é compensar com o interior dos Estados, que já o apoia em grande parte, como no Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
5) Gabinetes do ódio – Os grandes partidos prepararam seu exército para guerrear nas mídias sociais e nos aplicativos. Não consta que Caiado tenha o seu gabinete do ódio.
6) Desconhecimento – As regiões agropecuárias conhecem Caiado, mas seu currículo e sua cara ainda não chegaram às cidades grandes.
7) Divisão da direita – Sem Jair Bolsonaro, a expectativa é quanto ao comportamento do eleitor de direita, se vai votar em massa em quem o ex-presidente indicar. O perigo é a divisão do 1º turno contaminar o 2º.
8) Projeto nacional – É necessário ter um plano de governo, mas, por enquanto, Caiado está por uma frase, que certamente não é o atual slogan prometendo endireitar o Brasil. Sua expertise é bem mais ampla.
9) Aliança – O UB está dividido e precisa convencer os próprios filiados, para depois conversar com outros partidos. Caiado tem articulações com o MDB de seu vice Daniel Vilela, com o PP de seu secretário Alexandre Baldy, com o PSD de seu ex-companheiro de chapa Vilmar Rocha.
10) Tempo – Para ser candidato, Caiado precisa passar o cargo para Daniel no início de abril. O prazo até outubro é curto para o país continental que deseja dirigir. A prova é sua capacidade de comunicação (e ele é bom de vídeo e ótimo de debate) voar mais rápido que o B-2 mandado por Trump ao Irã.
O post 10 motivos que afastam e 10 que aproximam Caiado da Presidência apareceu primeiro em O Hoje.