Mais de 460 civis foram mortos dentro da Maternidade Saudita, em El Fasher, capital de Darfur do Norte, no Sudão, durante a ofensiva das Forças de Apoio Rápido (RSF), na quarta-feira (29), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O ataque ocorreu quando o grupo consolidava o domínio sobre a cidade, último reduto controlado pelo Exército sudanês na região. A instituição era o único hospital ainda em funcionamento, e, de acordo com a OMS, pacientes, acompanhantes e profissionais estavam no local no momento da invasão.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou que a agência está “consternada e profundamente chocada com as informações sobre a trágica morte de mais de 460 pacientes e acompanhantes na Maternidade Saudita de El Fasher”. Segundo o diretor, também há registro do sequestro de seis profissionais de saúde, quatro médicos, uma enfermeira e um farmacêutico, levados pelas forças paramilitares durante o ataque. Ainda, a OMS reiterou em comunicado que: “As instalações de saúde devem ser locais protegidos, nunca alvos de guerra”.
A cidade, antes habitada por mais de um milhão de pessoas, foi tomada no domingo (26), após semanas de combates intensos. Dois dias depois, o governo sediado em Porto Sudão acusou as RSF de atacar mesquitas e voluntários da Cruz Vermelha. “Mais de 2 mil civis morreram durante a invasão da milícia em El Fasher, que atacou as mesquitas e os voluntários da Cruz Vermelha”, declarou Mona Nur Al Daem, responsável pela ajuda humanitária no país. O governador de Darfur, Minni Minawi, confirmou o número de mortos e descreveu a destruição das estruturas médicas.
Guerra Civil no Sudão
A conquista de El Fasher marcou um novo avanço das RSF, que há mais de três anos e meio enfrentam as Forças Armadas do Sudão em uma guerra civil iniciada após o golpe de 2021, liderado pelo general Abdel Fatah al Burhan. Desde então, segundo dados da ONU e de organizações independentes, mais de 150 mil civis morreram e cerca de 13 milhões foram deslocados. O colapso humanitário no país se agravou, com fome, doenças e escassez de medicamentos se espalhando pelas principais cidades.
O Conselho de Segurança da ONU condenou o ataque e alertou para “o aumento do risco de atrocidades de grande escala, incluindo as de motivação étnica”. A União Europeia também repudiou o episódio e denunciou a “brutalidade” das forças paramilitares. Em resposta, o chefe das RSF, general Mohamed Dagalo, declarou em um discurso transmitido pelo Telegram que busca “a unidade do Sudão pela paz ou pela guerra”. “Lamentamos profundamente a catástrofe que ocorreu com os habitantes de El Fasher (…) mas a guerra nos foi imposta”, afirmou.
De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), mais de 36 mil pessoas fugiram da cidade desde o início da semana em direção a Tawila, que já abriga cerca de 650 mil deslocados. Outros 177 mil civis permanecem em El Fasher, onde a falta de alimentos e medicamentos se agrava. O bloqueio das rotas de acesso dificulta o envio de ajuda humanitária ao Sudão. Médicos locais relatam que tratam feridos e doentes com recursos escassos, sob risco constante de ataques com foguetes e drones.
Ainda, autoridades dos Estados Unidos acusaram as RSF e milícias aliadas de promover limpeza étnica em Darfur. A perda de El Fasher simboliza o colapso do último bastião militar do governo na região, ampliando o isolamento das forças leais ao general Burhan e aprofundando a tragédia humanitária no país.
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