Relatórios de inteligência entregues a países europeus indicam que o estoque de urânio enriquecido do Irã resistiu aos bombardeios lançados pelos Estados Unidos contra instalações nucleares no país. Os documentos, revelados por fontes oficiais ao Financial Times, apontam que o material não estava nos alvos atingidos — as usinas de Fordow, Natanz e Isfahan — contrariando declarações do presidente norte-americano Donald Trump, que havia classificado os ataques como um golpe definitivo contra o programa nuclear iraniano.
De acordo com os relatórios, parte significativa do urânio foi deslocada para outros locais antes das ofensivas. A movimentação dificultou a destruição do material e reforçou a suspeita de que o Irã ainda mantém a capacidade técnica para retomar rapidamente o enriquecimento. O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, reconheceu danos estruturais nos complexos atacados, mas afirmou que as alegações de eliminação total do programa são exageradas. Ele defendeu a retomada das inspeções presenciais para verificar o destino de cerca de 400 quilos de urânio enriquecido a 60%, nível considerado próximo ao necessário para armas nucleares.
Ainda, a justificativa usada pelos Estados Unidos e por Israel para realizar os ataques também vem sendo alvo de críticas. Em entrevista à Agência Brasil, o major-general português Agostinho Costa, especialista em geopolítica e segurança, afirmou que o estopim do conflito foi um relatório baseado em inteligência artificial. “É a primeira guerra iniciada por IA”, disse, ao se referir ao uso do software Mosaic pela AIEA. Segundo ele, a tecnologia não apresentou evidências concretas de que o Irã estivesse construindo uma bomba atômica, mas sim projeções interpretadas como fato pelo Conselho de Governadores da agência.
O Mosaic é um sistema de previsão criado pela empresa norte-americana Palantir, especializada em segurança e contraterrorismo. O programa foi adquirido pela AIEA em 2015 por € 41 milhões, com o objetivo de ampliar a vigilância sobre programas nucleares no mundo. Fundada por Peter Thiel, bilionário do Vale do Silício e apoiador declarado de Donald Trump, a Palantir tem ligações com figuras influentes da política americana, como JD Vance, atual vice-presidente dos EUA.
Na avaliação de Costa, a influência de potências ocidentais no conselho da AIEA comprometeu a imparcialidade do relatório que embasou o ataque. “Esses são os riscos do novo mundo, os riscos da IA”, afirmou. O general acrescentou que o enriquecimento de urânio a 60% por parte do Irã foi uma resposta a sabotagens anteriores promovidas por Israel, e não uma iniciativa voltada à produção de armamento nuclear. Para fins bélicos, o urânio precisa atingir 90% de pureza.
Após o cessar-fogo mediado pelos EUA, o Parlamento iraniano aprovou a suspensão da cooperação com a AIEA, acusando a agência de agir politicamente. A medida incluiu a proibição da entrada de inspetores e o envio de relatórios técnicos. Teerã alega que não descumpriu o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e sustenta que o seu programa sempre teve fins civis.
Embora o relatório da AIEA aprovado no início de junho não apresentasse provas concretas de militarização do programa iraniano, o texto alertava para o risco de avanço em direção a esse objetivo. Após isso, os bombardeios começaram e desde então, o governo de Trump tem indicado disposição para negociar com Teerã, mas também afirma que um novo acordo pode não ser necessário após os ataques.
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