O início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro nesta terça-feira (2) ganhou repercussão imediata na imprensa internacional. O Supremo Tribunal Federal (STF) analisa o caso de Bolsonaro, que cumpre prisão domiciliar, e de outros sete réus, por tentativa de golpe de Estado. A expectativa é de que a sentença seja proferida até 12 de setembro.
Nos Estados Unidos, o New York Times publicou uma reportagem em que reconstitui as nove semanas entre a derrota eleitoral e a invasão aos prédios dos Três Poderes, nomeando como “plano sinistro” . O jornal afirmou que há um “vasto conjunto de provas” contra Bolsonaro e detalhou o roteiro traçado por ele: desacreditar o resultado das urnas, planejar assassinatos de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, refugiar-se nos EUA e estimular o ataque em Brasília. A reportagem ressaltou ainda que o Brasil realiza algo inédito, ao levar um ex-presidente a julgamento por tentar permanecer no poder, o que segundo o veículo, os EUA não conseguiram fazer.
O The Guardian deu destaque a um símbolo de protesto que marcou o processo. O jornal britânico entrevistou o trompetista Fabiano Leitão, que viralizou ao tocar uma marcha fúnebre e o hino antifascista Bella Ciao após Bolsonaro se tornar réu. Leitão afirmou que promove o “velório político” do ex-presidente e disse que estará diante do STF para recebê-lo. A reportagem relatou que milhões de brasileiros progressistas aguardam a condenação com “champanhe metafórico no gelo”.
Outro veículo norte-americano, o Washington Post, avaliou que o Brasil enfrenta seu próprio passado autoritário e também Donald Trump, que pressiona com ameaças de retaliação econômica. O jornal escreveu que o julgamento marca “uma reviravolta significativa” na história nacional, num país que tradicionalmente escolheu a conciliação. A análise classificou o processo como uma saga que polarizou ainda mais a sociedade e testou a solidez do Judiciário.
A revista britânica The Economist apelidou Bolsonaro de “Trump dos trópicos” e publicou diversas análises. Em uma delas, chamou a tentativa de golpe de “esquisita e bárbara”, lembrando o clima de festa nos acampamentos bolsonaristas antes da invasão. Para a publicação, o ex-presidente fracassou por incompetência, e não por falta de intenção, e agora o julgamento se torna um marco histórico ao ditar os rumos da democracia brasileira. A Economist também afirmou que o Brasil dá uma lição aos EUA ao processar Bolsonaro, enquanto Trump tenta interferir com tarifas, sanções e cancelamento de vistos.
A rede britânica BBC relatou que o julgamento entrou na fase final, com decisão a ser tomada por cinco ministros da 1ª turma do STF. A emissora destacou que Trump classificou o processo como “caça às bruxas” e que sua defesa pública ao ex-presidente brasileiro acirra a tensão entre os dois países. A reportagem lembrou ainda a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros como gesto de retaliação americana.
Na Europa, o jornal espanhol El País considerou o caso “o julgamento mais importante da história recente do país”, enfatizando que o Brasil jamais levou um ex-presidente ou militar a tribunal por tentativa de golpe. Já o argentino Clarín relacionou o processo ao futuro político de Bolsonaro, avaliando que uma eventual condenação impactará diretamente a reorganização de sua base e o cenário para as eleições de 2026.
Com a expectativa de condenação e o olhar atento da comunidade internacional, o julgamento de Jair Bolsonaro no STF é visto como um divisor de águas na democracia brasileira.
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