O papa Leão XIV condenou na segunda-feira (30/6) o uso da fome como instrumento de dominação em conflitos armados. Em mensagem lida durante a 44ª Conferência da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em Roma, o pontífice classificou a prática como “um modo muito barato de fazer guerra” e defendeu a punição dos responsáveis por abusos dessa natureza. “Hoje assistimos desolados ao uso iníquo da fome como arma de guerra”, declarou.
A intervenção do líder da Igreja Católica reuniu duras críticas à politização da ajuda alimentar, ao atraso das respostas institucionais diante da pobreza e à degradação ambiental promovida por modelos econômicos que, segundo ele, colocam os lucros acima das pessoas. O pontífice cobrou a mobilização de recursos por parte de governos, empresas e organismos multilaterais para combater a fome e proteger comunidades vulneráveis, como os povos indígenas. “Adiar a solução para esse panorama dilacerante não ajudará; pelo contrário, a angústia e as dificuldades dos necessitados continuarão se acumulando.”
O papa americano não citou diretamente nenhum conflito específico, mas sua fala ocorre em meio a crescentes questionamentos internacionais sobre a condução da distribuição de alimentos na Faixa de Gaza. Desde o início do envio de suprimentos por meio de paraquedas, organizado por Israel e pelos Estados Unidos, há um mês, grupos humanitários têm denunciado a falta de acesso seguro e a manipulação da logística de abastecimento. Apesar de não mencionar o Hamas nem a guerra em curso, Leão XIV apontou a tática de obstrução da ajuda como uma das formas contemporâneas de fazer da fome um instrumento de guerra: “Queimar plantações, roubar gado, bloquear a ajuda humanitária são táticas cada vez mais utilizadas por aqueles que pretendem controlar populações inteiras e indefesas.”
O discurso também incluiu uma crítica direta aos investimentos em armamentos: “Recursos financeiros e tecnologias inovadoras, que deveriam ser destinados à erradicação da pobreza e da fome no mundo, são desviados para a fabricação e o comércio de armas.” Para o papa, há uma urgência inédita em estabelecer “limites claros” para sancionar tais práticas e punir seus responsáveis.
Em outro trecho, Leão XIV atacou o que chamou de “retórica estéril” de autoridades internacionais, alertando para a desconexão entre promessas públicas e ações efetivas. “Devemos encerrar de vez a era dos slogans e das promessas enganadoras”, afirmou. A crítica foi direcionada a governos que, apesar dos compromissos assumidos em pactos multilaterais, seguem postergando medidas de combate à insegurança alimentar.
O pontífice também relacionou a fome à crise climática, defendendo uma transição ecológica justa. “Sem uma ação climática decidida e coordenada, será impossível garantir sistemas agroalimentares capazes de alimentar uma população mundial em crescimento. Trata-se de repensar e renovar nossos sistemas alimentares, superando a lógica da exploração selvagem.”
Na conclusão da mensagem, Leão XIV convocou líderes e instituições a se tornarem “artesãos da paz” e pediu união diante dos desafios globais. “Jamais foi tão urgente como agora que nos tornemos artesãos da paz, trabalhando para o bem comum — do que beneficia a todos e não apenas a alguns poucos.” O papa reafirmou ainda o compromisso da Santa Sé com os esforços da FAO e de outros organismos internacionais na proteção dos mais vulneráveis.
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