A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, venceu o Prêmio Nobel da Paz de 2025, anunciado nesta sexta-feira (10) em Oslo, na Noruega. A decisão do Comitê Norueguês do Nobel encerrou as expectativas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que realizou uma campanha aberta para conquistar a premiação, mas não foi escolhido.
Segundo o comitê, a venezuelana foi reconhecida “por seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo venezuelano e por sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”. O texto oficial destacou que “María Corina Machado mantém acesa a chama da democracia em meio à escuridão crescente”.
Engenheira de formação, nascida em 1967, Machado se tornou uma das principais vozes da oposição ao regime de Nicolás Maduro. Fundou a Fundação Atenea em 1992, dedicada ao acolhimento e educação de crianças em situação de rua em Caracas, e, em 2002, criou a organização Súmate, voltada à promoção de eleições livres e transparentes. Em 2010, foi eleita deputada da Assembleia Nacional com recorde de votos, mas foi expulsa do cargo em 2014 pelo governo chavista.
Desde então, lidera o partido Vente Venezuela e ajudou a fundar a aliança Soy Venezuela. Em 2023, lançou sua candidatura à Presidência, mas foi impedida de concorrer por decisão judicial. Nas eleições de 2024, apoiou Edmundo González Urrutia, cuja vitória foi negada pelo governo de Maduro, que se reelegeu sem divulgar os resultados detalhados da apuração.
Foto: WIkimedia Commons
Reações ao Nobel expõem impacto político
Impedida de disputar o pleito, Machado enfrentou perseguições, viu aliados presos e percorreu o país em condições precárias para apoiar a campanha da oposição. O comitê ressaltou que ela “sempre falou pelos direitos humanos e pelo povo venezuelano” e a descreveu como “o equilíbrio contra os tiros [do regime Maduro]”.
O presidente da Argentina, Javier Milei, parabenizou Machado em publicação nas redes sociais. “Parabéns por este reconhecimento mais do que merecido por sua enorme luta na corajosa defesa da liberdade e da democracia”, escreveu. “Agradeço a inspiração com que você ilumina o mundo lutando contra a narcoditadura na Venezuela”, completou.
Em contato telefônico com Edmundo González, a própria premiada afirmou estar “chocada” com o resultado e agradeceu o apoio recebido.
Enquanto isso, Donald Trump, que buscava o prêmio, não foi contemplado. Desde que voltou à Casa Branca, em janeiro deste ano, o presidente norte-americano vinha destacando suas ações diplomáticas como justificativa para receber o Nobel. Nesta semana, ele anunciou um cessar-fogo e um acordo de reféns para encerrar a guerra entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza, e citou esforços para pôr fim ao conflito na Ucrânia.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, comentou o resultado, afirmando que “Houve casos em que o Comitê Nobel concedeu o prêmio a pessoas que nada fizeram pela paz” e que “o prestígio do prêmio se perdeu em grande parte” e elogiou os esforços de Trump. Segundo ele, o líder norte-americano “está sinceramente atento à crise na Ucrânia e tenta resolvê-la por meios pacíficos”.
Após o anúncio, o diretor de Comunicação da Casa Branca, Steven Cheung, disse que o Comitê do Nobel “coloca a política acima da paz” e afirmou que Trump “vai continuar fazendo acordos de paz, encerrando guerras e salvando vidas”.
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