O governo de Israel determinou nesta terça-feira (28) que suas forças retomassem ataques aéreos “poderosos” contra a Faixa de Gaza, interrompendo o cessar-fogo firmado com mediação dos Estados Unidos. A decisão foi anunciada após o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reunir seu gabinete de segurança e acusar o Hamas de romper os termos do acordo. Segundo o comunicado oficial, as ações militares ocorreram em resposta a disparos palestinos contra tropas israelenses.
A ofensiva reacendeu a tensão diplomática e interna, já agravada pela polêmica em torno da devolução, pelo Hamas, de restos mortais dos reféns, um em especial que Israel acreditava já ter sido recuperado em 2023. A confusão sobre a identidade dos restos devolvidos intensificou a pressão sobre o governo de Netanyahu e provocou revolta entre famílias de sequestrados.
Faixa de Gaza (Foto: UNRWA/ Wikimedia Commons)
Impasse com a devolução dos reféns
Na noite de segunda-feira (27), o Hamas entregou à Cruz Vermelha fragmentos de um corpo que, segundo o grupo, pertenceria a um dos reféns israelenses mortos durante a guerra. No entanto, exames laboratoriais revelaram que os restos eram de Ofir Tzarfati, um refém cujo corpo havia sido recuperado dois anos antes. O gabinete de Netanyahu confirmou o erro, classificando o episódio como uma violação direta do cessar-fogo.
“Após a conclusão do processo de identificação esta manhã, foi descoberto que os restos mortais pertencentes ao refém morto Ofir Tzarfati, que havia sido devolvido da Faixa de Gaza em uma operação militar há cerca de dois anos, foram devolvidos na noite passada”, informou o governo israelense.
A família Tzarfati reagiu com indignação. Em comunicado do Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas, os parentes afirmaram que esta foi a terceira vez em que foram obrigados a exumar o corpo do filho. “Fomos dormir ontem à noite com expectativa e esperança de que outra família fechasse um ciclo agonizante de dois anos e trouxesse seu ente querido para casa”, disseram. “Esta manhã, nos mostraram um vídeo dos restos mortais do nosso amado filho sendo removidos, enterrados e entregues à Cruz Vermelha — uma manipulação abominável destinada a sabotar o acordo.”
Netanyahu ordena ataque
A reação do governo foi imediata. O porta-voz de Netanyahu, David Mencer, declarou que “o Hamas violou a estrutura ao não devolver os reféns e atacar nossas forças”. Poucas horas depois, o gabinete do premiê ordenou novos bombardeios contra alvos em Gaza. Segundo o Exército israelense, militantes palestinos haviam disparado contra suas tropas de engenharia perto de Rafah, no sul do enclave, usando atiradores de elite e um míssil antitanque.
A porta-voz do governo, Shosh Bedrosian, afirmou que a devolução dos restos de Tzarfati foi encenada. “Posso confirmar a vocês hoje que o Hamas cavou um buraco no chão ontem, colocou os restos mortais parciais de Ofir dentro dele, cobriu-o com terra e o entregou à Cruz Vermelha”, declarou. Bedrosian acrescentou que “nada está fora de cogitação neste momento” e que as próximas decisões serão tomadas “em total coordenação com os Estados Unidos”.
O Hamas rejeitou as acusações do governo de Netanyahu, afirmando que Israel é quem violou o cessar-fogo ao retomar as operações militares. As Brigadas Ezzedine al-Qassam, braço armado do grupo, comunicaram que a entrega de outros corpos de reféns seria suspensa “em resposta à agressão israelense”.
Nas redes sociais, o ministro da Segurança Interna, Itamar Ben Gvir, escreveu que o Hamas “usa o sofrimento das famílias israelenses como arma” e defendeu uma resposta militar mais dura. “É hora de quebrar as pernas dele de uma vez por todas”, publicou no X.
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