Menos de uma semana após o início do cessar-fogo entre Israel e Hamas, a trégua enfrenta um momento delicado. Nesta quinta-feira (16), o governo israelense afirmou que se prepara para reabrir a passagem de Rafah, fronteira com o Egito, mas não anunciou quando isso ocorrerá. A promessa, porém, esbarra em um novo impasse: a devolução dos corpos de reféns israelenses mortos durante a guerra.
Segundo o governo israelense, o Hamas é responsável por entregar os restos mortais de 28 reféns. Até agora, apenas dez corpos foram devolvidos, mas um deles, de acordo com Israel, não pertence a um refém. O porta-voz do governo israelense, declarou na quarta-feira (15), que não haverá concessões até que os “reféns mortos retornem, até o último deles”.
Segundo o Hamas, a demora na entrega dos corpos ocorre por causa da destruição causada pelos bombardeios e pela dificuldade de remover os corpos sob os escombros. O grupo diz necessitar de maquinário pesado e tem recebido ofertas de ajuda do Egito e da Turquia para realizar as buscas.
Violência após trégua
O Hamas, por sua vez, acusa Israel de seguir realizando ataques em Gaza, mesmo após o início da trégua. O hospital Nasser Medical Complex, na cidade de Khan Younis, informou que 24 pessoas foram mortas desde sexta-feira passada.
Ainda, de acordo com o Escritório de Direitos Humanos da ONU, forças israelenses continuam matando civis no território, mesmo após a trégua. O órgão afirmou na quarta-feira, que ao menos 15 palestinos foram mortos em áreas próximas às tropas de Israel nos últimos dias. O relatório foi divulgado um dia depois de o Hamas libertar 20 reféns vivos, o que estava previsto no acordo mediado por Washington. Ainda assim, famílias israelenses aguardam a devolução de quase 20 corpos que não foram entregues.
As Forças Armadas israelenses negam responsabilidade por novas ofensivas e alegam que abriram fogo apenas quando palestinos se aproximaram de posições militares próximas à linha de cessar-fogo.
O cessar-fogo, estabelecido com intermediação dos Estados Unidos, previa a libertação de reféns em troca de prisioneiros palestinos e da suspensão dos ataques. Desde então, cerca de dois mil palestinos foram libertados das prisões israelenses. O documento também determina a reabertura gradual das passagens e o envio de ajuda humanitária, mas a execução dessas etapas foi interrompida.
Ainda, o Ministério da Saúde de Gaza afirmou que Israel já entregou 90 corpos de prisioneiros palestinos, e o acordo determina a proporção de 15 corpos para cada refém israelense falecido devolvido.
Hamas pressionado
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou nesta quinta-feira em Jerusalém, que está “determinado a conseguir o retorno de todos os reféns”.
O premiê declarou durante um evento que marca o segundo aniversário do ataque de 7 de outubro de 2023 do Hamas, que “O combate ainda não terminou, mas há uma coisa muito clara: quem levantar a mão contra nós sabe que pagará um preço elevado”.
Trump e Netanyahu em declaração sobre “Plano de Paz” (Foto: Divulgação/ Casa Branca)
Os EUA também vem adotando um tom de pressão sob o Hamas. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quarta-feira, que pode autorizar Netanyahu a retomar a guerra se o grupo não cumprir sua parte no cessar-fogo. Em entrevista à CNN norte-americana, ele declarou que “Israel retornará àquelas ruas assim que eu disser” e que “se Israel pudesse entrar e acabar com eles, eles fariam isso”.
Apesar disso, o republicano disse estar confiante de que a milícia palestina aceitará os termos do acordo, afirmando que “o que está acontecendo com o Hamas será resolvido rapidamente”.
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