O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, determinou a retomada dos testes de armas nucleares no país, medida que gera preocupação internacional. O anúncio foi feito na quarta-feira (30), em publicação nas redes sociais, na qual o republicano afirmou ter instruído o Departamento de Defesa a iniciar “imediatamente” os testes para manter os EUA “em pé de igualdade” com outras potências nucleares.
A decisão foi divulgada pouco antes de um encontro de Trump com o presidente da China, Xi Jinping, na Coreia do Sul, na quinta-feira (30) e após o presidente russo, Vladimir Putin, anunciar o teste bem-sucedido de um drone submarino movido a energia atômica e com capacidade nuclear, chamado Poseidon. Segundo Trump, a medida responde aos programas de testes conduzidos por Rússia e China, que “avançam rapidamente”.
“Devido aos programas de testes de outros países, instruí o Departamento de Guerra a iniciar os testes de nossas armas nucleares em igualdade de condições”, escreveu Trump. Ele afirmou ainda que o país possui “mais armas nucleares do que qualquer outro”, seguido por Rússia e China, mas alertou que os chineses poderão alcançar o mesmo nível “em cinco anos”.
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O anúncio ocorre em meio à crescente tensão global sobre o uso de armas de destruição em massa, reacendida pela guerra na Ucrânia. O Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBT), assinado pelos EUA em 1996, mas nunca ratificado, veda qualquer explosão nuclear. A Rússia havia ratificado o tratado em 2000, mas Putin revogou essa ratificação em 2023, igualando a posição russa à norte-americana.
De acordo com a Associação de Controle de Armas, a Rússia possui cerca de 5.580 ogivas nucleares, enquanto os EUA mantêm 5.225, juntas, as duas nações concentram quase 90% do arsenal nuclear mundial. Além de Rússia, EUA e China, outros seis países detêm armas atômicas: França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte, segundo levantamentos de 2025 da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (Ican) e da Federação de Cientistas Americanos (FAS).
Reação internacional é crítica aos EUA
A decisão de Washington provocou reações imediatas. No Japão, na sexta-feira (31), o grupo de sobreviventes das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, Nihon Hidankyo, laureado com o Prêmio Nobel da Paz de 2024, classificou a medida como “totalmente inaceitável”. Em carta enviada à embaixada norte-americana em Tóquio, o coletivo afirmou que a ordem de Trump “contradiz diretamente os esforços das nações em todo o mundo que se empenham por um mundo pacífico, sem armas nucleares”.
O prefeito de Hiroshima, Shiro Suzuki, questionou se a decisão não tornaria Trump “indigno do Prêmio Nobel da Paz”, em referência à intenção da primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, de indicá-lo ao prêmio. Enquanto o prefeito de Nagasaki, Iccho Itoh, disse que a medida “despreza os esforços de pessoas em todo o mundo que têm suado sangue e lágrimas por um mundo sem armas nucleares”.
Sobrevivente do bombardeio atômico em Nagasaki, “Hibakusha”, contando sua história (Foto: WIkimedia Commons)
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, reforçou o apelo: “O teste nuclear nunca pode ser permitido sob nenhuma circunstância.”
A ONU e a Organização do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBTO) condenaram a intenção dos EUA. “O risco de guerra nuclear já está alarmantemente alto”, alertou o porta-voz da ONU, Farhan Haq. Em Viena, Robert Floyd, da CTBTO, disse que “qualquer teste seria prejudicial e desestabilizador”.
Os EUA não realizam testes de armas nucleares desde 1992, quando executaram o experimento Divider, no campo de Nevada.










