O Congresso do Peru aprovou na madrugada de sexta-feira (10) o afastamento da presidente Dina Boluarte, acusada de “incapacidade moral”. A votação foi unânime: 122 deputados votaram a favor e nenhum se posicionou contra, o maior número registrado em um processo de impeachment no país, superando até a destituição de Alberto Fujimori, condenado por crimes contra os direitos humanos.
José Jerí, chefe do Congresso, assumiu interinamente a presidência em cerimônia logo após a votação. Ele é do partido conservador “Somos Peru” e será o sétimo presidente do país desde 2016. Jerí afirmou que pretende conduzir um governo de reconciliação e enfrentar o crime nas ruas, garantindo a soberania do Peru até a posse do vencedor das eleições marcadas para abril de 2026.
José Jerí, presidente interino do Peru. (Foto: Reprodução/ @presidenciaperu)
O afastamento de Boluarte ocorre em meio a acusações de corrupção, incluindo o caso “Rolexgate”, que investiga relógios de luxo não declarados utilizados pela presidente em eventos oficiais, revelados pelo programa “La Encerrona”. A líder de 63 anos, que assumiu o cargo em dezembro de 2022 após a destituição e prisão de Pedro Castillo, destacou as conquistas de sua gestão: “Não pensei em mim mesma, mas nos peruanos”.
Congresso marca afastamento histórico
Durante seu governo, Boluarte enfrentou forte rejeição popular, com aprovação variando entre 2% e 4%, e foi alvo de mais de 500 protestos nos primeiros três meses de mandato. Em julho, o aumento do próprio salário intensificou as críticas. As manifestações, lideradas em grande parte por jovens da chamada Geração Z, expressaram insatisfação com reformas no sistema de aposentadoria, corrupção e aumento da criminalidade.
Multidões se concentraram em frente ao Congresso e à embaixada do Equador, onde circulavam rumores de que Boluarte poderia pedir asilo. O atual Congresso, de maioria conservadora, havia barrado tentativas anteriores de impeachment, mas aprovou a moção diante da pressão política e da proximidade das eleições gerais. O país segue marcado por instabilidade, com quatro ex-líderes presos e protestos frequentes contra a corrupção e a violência.
Leia mais: Nobel da Paz 2025 premia María Corina Machado