O governo de Donald Trump anunciou nesta sexta-feira (24) mais um dos ataques a embarcações na América Latina, o décimo desde o início das operações norte-americanas na região. A ofensiva ocorreu no mar do Caribe, em águas internacionais, mas próxima à costa da Venezuela. O secretário de Guerra dos Estados Unidos, Pete Hegseth, informou que seis tripulantes da embarcação foram mortos durante dos ataques e afirmou que se tratava de traficantes de drogas.
“Se você é um narcoterrorista traficando drogas em nosso hemisfério, nós o trataremos como tratamos a Al-Qaeda. Dia ou noite, mapearemos suas redes, rastrearemos seu pessoal, o caçaremos e o mataremos”, declarou Hegseth. Desde o início do mês, navios e caças das Forças Armadas americanas têm sido deslocados para o Caribe, em uma operação ordenada por Trump sob a justificativa de impedir o tráfico de drogas.
Tensão em Caracas
A imprensa norte-americana, no entanto, especula que o objetivo real dos ataques ao Caribe, seria enfraquecer o regime de Nicolás Maduro. O presidente venezuelano, por sua vez, pediu a Trump que evite uma guerra. “No crazy war, please. Não à guerra louca. A Venezuela quer paz”, disse Maduro em pronunciamento televisionado na quinta-feira (23). Em tom enfático, ele afirmou: “Não à guerra… Sim, paz, para sempre.”
A escalada militar ocorre enquanto o governo venezuelano acusa a presença de agentes da Agência Central de Inteligência (CIA) em seu território. O ministro da Defesa, Vladimir Padrino, afirmou que as ações de inteligência americanas já estão em andamento e advertiu: “Qualquer tentativa vai fracassar.” Na semana passada, o jornal The New York Times publicou que Trump autorizou a realização de “operações letais” contra alvos ligados ao chavismo.
Apesar de justificar os ataques como combate ao narcotráfico, dados da Organização das Nações Unidas (ONU) contradizem o discurso do governo norte-americano. O Relatório Mundial sobre Drogas de 2025 indica que a substância que mais causa overdoses nos EUA, o fentanil, vem do México e não da Venezuela. Mesmo assim, a frota militar norte-americana foi enviada para o mar do Caribe, ampliando as tensões com Caracas.
Lula critica ataques
Durante coletiva de imprensa em Jacarta, na Indonésia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a política externa de Washington. Ele afirmou que não concorda com ataques e invasões sob o pretexto de combater o tráfico. “Se o mundo virar uma terra sem lei, vai ficar muito difícil”, disse. Lula adiantou que pretende discutir o tema com Trump.
Lula e Prabowo Subianto na Indonésia. (Foto: Ricardo Stuckert/RP)
Para o brasileiro, os EUA deveriam buscar cooperação internacional em vez de agir unilateralmente. “Se a moda pega, cada um acha que pode invadir o território do outro para fazer o que quer. Onde é que vai surgir a palavra respeitabilidade à soberania dos países?”, questionou.
Lula também reagiu à declaração de Trump de que não precisaria pedir autorização ao Congresso para eliminar traficantes. “Acho que falta um pouco de compreensão da questão da política internacional”, afirmou o petista. Ele ainda destacou, causando polêmica, a necessidade de olhar para o problema interno das drogas: “Possivelmente fosse mais fácil a gente combater os nossos viciados internamente. Os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também.”
Na mesma linha, Lula completou que o tráfico é consequência da demanda. “Você tem uma troca de gente que vende porque tem gente que compra, e tem gente que compra porque tem gente que vende”, finalizou.
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