O apaixonado por futebol vive de momentos históricos. Ele clama, anseia, vibra por uma jogada plástica. Algo que o levante do sofá, um gol antológico, segundos inexplicáveis, uma finta mágica, é como respirar após um longo mergulho. Contudo, não só de alegrias vive o torcedor. Lágrimas podem tomar conta de momentos únicos, com diversos significados: tristeza, raiva, alegria, alívio, enfim, sentimento. Entre as histórias que o futebol carrega, os clássicos duelos rivais são, provavelmente, os que mais levam carga emocional para dentro do estádio.
O peso de um clássico ultrapassa as barreiras racionais. As ruas de uma cidade parecem pulsar, a arquibancada pula sem ninguém, as farpas e provocações tomam conta das coletivas, e o torcedor não vê a hora de gritar. Não importa se ao fim dos 90 minutos, ele vai proferir palavrões na frente de uma criança, ou se aquele 1 a 0 para o maior rival vai acabar com a sua semana. Ele corre o risco, afinal, o ódio pelo rival é quase intrínseco, ele não consegue explicar em palavras, o importante é vencer.
Goiânia vive esse roteiro há décadas. O clássico disputado entre Goiás e Vila Nova já recebeu diversos nomes ao longo da história, hoje, buscam popularizar o ‘Derby do Cerrado’. Independente da nomenclatura, é um dos maiores embates do futebol brasileiro, entretenimento para o amante de futebol, guerra para os respectivos torcedores. A história já entregou diversos capítulos deste confronto, e o Onésio Brasileiro Alvarenga recebeu mais um na noite deste sábado (16).
O Vila Nova provou que não há favorito em dia de clássico. O Colorado superou o Goiás por 2 a 0, adicionou três pontos na tabela, e almeja um sonho. A vitória aumenta mais um duelo de tabu sobre o Goiás, 10 jogos de invencibilidade na maior rivalidade do Centro-Oeste, a próxima tentativa, só no ano que vem.
Paulo Turra apresentou um esquema tático parecido com o da vitória sobre o Paysandu, com nomes de diferentes, mas conceitos parecidos. O equilíbrio entre ataque e defesa foi notável, com personagens essenciais. Novamente, o eixo da vitória passa por Ralf e João Vieira. O primeiro volta para o time titular para auxiliar no que faz de melhor, na parte defensiva. Ralf é conhecido por ser um volante físico, com grandes valências no setor, exatamente o que faltava. A ideia é criar dois pilares entre linha de defesa e ataque, onde Ralf lidera a cabeça da área, e entrega liberdade para João Vieira pisar na área, trazendo um povoamento na defesa do Vila e no setor ofensivo.
O primeiro gol aos 40 segundos de jogo evidencia isso. Quando a bola é arremessada por Elias para a grande área, quem pressiona a posse do Goiás na linha de fundo é o próprio João Vieira com André Luís. A intensidade prometida por Paulo Turra gritou nesse lance, o centroavante e o segundo volante brigando por uma bola praticamente perdida, que culminou no primeiro gol do embate.
Ao longo dos minutos, o Goiás entregou pressão, dominou a posse de bola, mas finalizou tanto quanto o Vila Nova. As investidas esmeraldinas foram neutralizadas pela linha de cinco, formada por Elias, Pagnussat, Ralf, Weverton e Formiga. Com os laterais mais estáticos em suas posições, a dupla de zaga, mais o primeiro volante, souberam encaixar a dinâmica defensiva sem abrir espaços, nem sobrecarregando ninguém.
Além disso, o Vila Nova obteve momentos de contra-ataque, com nuances ofensivas características de Paulo Turra. Dodô e João Vieira lideraram as construções dos chamados ‘quadrados de ataque’, uma movimentação típica, onde o camisa 10 e um volante, formam quartetos de passe nas alas do campo. É uma forma de acelerar a bola e armar jogadas a partir de passes rápidos, uma ideia vinda de Paulo Turra que pode potencializar diversas virtudes no elenco colorado.
Ao final dos 90 minutos, a explosão no OBA tomou conta dos bairros vizinhos, ecoou no coração do torcedor, que vislumbra uma luz, um sonho, uma história. Paulo Turra, que se debruçou no gramado ao gol de pênalti de João Vieira, chora no banco de reservas após o apito de Daronco. As lágrimas de um treinador que no seu segundo jogo pelo Vila Nova exalam: nada explica um clássico.
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