A baixa adesão da população à vacinação contra a gripe tem preocupado gestores da saúde pública em Goiás. Na Capital, apenas 22% do público-alvo havia se vacinado até o início de maio, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
No total, 120 mil pessoas já foram vacinadas. A meta, no entanto, é imunizar 544 mil pessoas, até o fim da Campanha Nacional de Vacinação contra a gripe, que se iniciou no dia 7 de abril de 2025 e termina no dia 31 de maio, com o foco em imunizar diversos grupos. Oferecendo imunizantes como vacina trivalente, que protege contra as cepas H1N1, H3N2 e tipo B, as variantes mais comuns do vírus Influenza.
O foco da campanha de vacinação eram os grupos prioritários definidos pelo Ministério da Saúde: crianças de 6 meses a menores de 6 anos, gestantes, puérperas, idosos com 60 anos ou mais, trabalhadores da saúde e da educação, pessoas com comorbidades ou deficiência permanente, indígenas, quilombolas, caminhoneiros, trabalhadores do transporte coletivo, forças de segurança, população privada de liberdade e servidores do sistema prisional.
Mas pela falta de procura a vacinação no Estado ela foi liberada para todos os públicos e está disponível nas 72 salas das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do município.
Cenário estadual
O cenário é ainda mais crítico em nível estadual: Goiás está entre os Estados com pior cobertura vacinal do País, apenas 20% do público-alvo aderiram a vacinação, pouco mais de 700 mil pessoas haviam se vacinado até o dia 10 de maio, de acordo com o Ministério da Saúde, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO). A meta é atingir 3,5 milhões de indivíduos dos grupos prioritários, o que equivale a uma cobertura de 90%.
A superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim, alerta para a urgência em aumentar a cobertura vacinal para evitar surtos. “A gripe não é uma doença leve. Ela pode levar a internações e até à morte, principalmente em grupos mais vulneráveis. A vacina é segura, gratuita e está disponível em todo o Estado”, ressalta.
Entre os grupos com menor adesão a vacinação em Goiás estão crianças pequenas, gestantes, puérperas e idosos. Pessoas com doenças crônicas, como diabetes, asma, doenças cardíacas e imunodepressão, também têm buscado pouco os postos de saúde. Municípios como Aparecida de Goiânia, Anápolis, Rio Verde e Luziânia apresentam índices abaixo de 25%, muito distantes da meta nacional.
Alta de casos e mortes por gripe reforça urgência da vacinação
O aumento nos casos de gripe e de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em 2024 reforça a importância da imunização. Segundo o boletim epidemiológico da SES-GO, entre janeiro e abril foram registrados 1.280 casos de SRAG no estado, com 43 mortes confirmadas. Dessas, 12 foram causadas pelo vírus Influenza.
Em Goiânia, os dados apontam um crescimento de 22% nas internações por gripe e SRAG no primeiro quadrimestre de 2024, em comparação com o mesmo período do ano passado. A maioria dos internados é composta por idosos, pessoas com comorbidades e crianças pequenas – todos incluídos nos grupos prioritários da vacinação.
“Vacinar-se é um ato de proteção coletiva. Quanto menor a cobertura vacinal, maior o risco de circulação viral e de surtos em comunidades vulneráveis”, afirma a infectologista Maria Tereza Ribeiro, do Hospital de Doenças Tropicais de Goiás.
Faltas a consultas médicas comprometem prevenção e orientação sobre a gripe
Além da baixa cobertura vacinal, a capital enfrenta outro desafio: o número reduzido de consultas médicas agendadas nas unidades. Levantamento da SMS mostra que apenas 54% dos agendamentos realizados pela população entre janeiro e abril de 2024 foram efetivamente cumpridos.
A baixa adesão às consultas de rotina dificulta o acompanhamento de grupos prioritários, como crianças, gestantes, idosos e portadores de comorbidades, justamente os mais vulneráveis às complicações da gripe.
“Temos observado um número expressivo de faltas às consultas agendadas nas unidades básicas, o que interfere no monitoramento e orientação da população, inclusive sobre a importância da vacinação”, explica o secretário municipal de Saúde, Durval Pedroso.
Desinformação, fake news e barreiras de acesso dificultam adesão à vacinação
Entre os motivos apontados para a baixa procura pelo imunizante estão a desinformação, o medo de reações adversas e a falsa sensação de que a gripe é uma doença leve.
A cobertura vacinal no Brasil já vinha em queda antes da pandemia de covid-19, mas a crise sanitária agravou esse cenário. Com o avanço das redes sociais e a circulação de fake news, o movimento antivacina ganhou força e passou a influenciar negativamente a percepção da população sobre a importância da imunização.
“Muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre a eficácia da vacina. Além disso, há quem pense que só deve se vacinar quando o frio começa, o que é um erro. O ideal é tomar a vacina antes do pico de circulação do vírus”, explica Flúvia.
O movimento antivacina, apesar de representar uma minoria, tem causado grande impacto nas coberturas vacinais. Pais e responsáveis por crianças pequenas, público prioritário da campanha, muitas vezes hesitam em vacinar seus filhos por medo infundado de reações ou por acreditarem em teorias conspiratórias disseminadas na internet. Essa desconfiança, segundo especialistas, compromete não só a proteção individual, mas também a imunidade coletiva.
Outro fator que influencia na baixa procura é a dificuldade de acesso aos postos de saúde, especialmente em regiões periféricas. Para tentar ampliar o alcance da campanha, a SES-GO e prefeituras têm promovido ações itinerantes em locais de grande circulação de pessoas, como escolas, feiras, igrejas e supermercados — priorizando os públicos de maior risco, como idosos, crianças, gestantes, puérperas e profissionais da saúde.
A campanha de vacinação contra a gripe segue até o dia 31 de maio em todo o país. Em Goiás, a expectativa é de que a busca pela vacina aumente nas próximas semanas, com a chegada de frentes frias e a maior circulação de vírus respiratórios.
Todas as pessoas podem se vacinar gratuitamente nas UBSs, com apresentação de documento com foto e, quando necessário, comprovação da condição clínica (como atestado, laudo ou receita médica).
A vacina contra a gripe pode ser aplicada junto com outras vacinas do calendário nacional, incluindo a da covid-19, sem a necessidade de intervalo entre as doses.
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