O uso constante de celulares se tornou parte da rotina diária, mas especialistas alertam para os riscos que esse hábito pode trazer à saúde da coluna. A chamada “Síndrome do Pescoço de Texto” surge quando a cabeça permanece inclinada para baixo por longos períodos, sobrecarregando os músculos e vértebras cervicais.
Thiago Brustolini, ortopedista, explica que essa postura incorreta pode gerar uma carga de até 27 quilos sobre o pescoço. “Quando a cabeça se projeta para frente, os músculos e articulações da cervical sustentam um peso muito maior do que o projetado pelo corpo. Com o tempo, isso pode causar inflamações, dor crônica, desgaste das vértebras e até alterações posturais, como ombros arredondados”, alerta o especialista. Brustolini reforça ainda que o problema não se limita à cervical: a lombar também sofre sobrecarga, principalmente em quem passa muitas horas sentado.
Entre os sintomas mais comuns estão dores no pescoço, rigidez, tensão nos ombros, sensação de peso na nuca, dores de cabeça e até formigamento nos braços. “Se alguém percebe esses sinais com frequência, especialmente após longos períodos no celular ou computador, é provável que a postura esteja prejudicando a saúde”, afirma o especialista. Ele alerta que, além do desconforto físico, a má postura pode interferir em tarefas simples do cotidiano, como dormir, dirigir ou realizar atividades domésticas.
Ana Laura, estudante de 24 anos, conta como o uso excessivo do celular afetou sua postura: “Vou precisar usar coletes para correção de postura. Eu sou alta e minha postura já não era perfeita, mas ficar horas olhando para o celular agravou o problema” relatou.
Além disso, a jovem destacou que irá precisar fazer exercícios físicos específicos para fortalecer o pescoço e os ombros. O relato de Ana Laura mostra que adolescentes e jovens, que passam muitas horas em telas, estão entre os grupos mais afetados.
Brustolini ressalta que os adolescentes ainda estão em fase de crescimento, o que torna os ossos e músculos mais suscetíveis a deformidades posturais. “A coluna cervical e a lombar de jovens ainda estão em desenvolvimento. Quando adotam posturas incorretas por longos períodos, podem surgir alterações irreversíveis, incluindo a famosa corcunda ou ombros arredondados. Quanto mais cedo se adotar hábitos corretos, menores serão os impactos futuros”, reforça o ortopedista.
A prevenção passa pelo fortalecimento muscular e ajustes ergonômicos no dia a dia. O médico recomenda usar cadeiras com bom apoio, posicionar a tela do computador na altura dos olhos, levantar-se regularmente, alongar-se e evitar trabalhar na cama ou sofá.
“Fisioterapia e exercícios específicos ajudam a fortalecer o pescoço, melhorar a postura e aliviar dores. Além disso, suportes para celular e computador podem reduzir a necessidade de inclinar a cabeça”, diz Thiago.
Ana Laura reforça a importância desses cuidados: “Agora, além do colete, que uso, mesmo sendo feio esteticamente, faço alongamentos todos os dias e presto atenção à altura do celular e do computador. Sinto a diferença, mas sei que preciso manter essa rotina para não piorar o quadro”. Brustolini acrescenta que alongamentos simples, como girar o pescoço lentamente, encolher os ombros e esticar a coluna, podem reduzir a tensão acumulada ao longo do dia.
Pequenos ajustes diários podem prevenir a ‘Síndrome do Pescoço de Texto’
Para Brustolini, é possível prevenir e até reverter os efeitos da síndrome com medidas simples. Entre as recomendações estão manter o celular na altura dos olhos, fazer pausas a cada 30 ou 40 minutos, alongar o pescoço e os ombros, sentar-se corretamente com os pés no chão e evitar o uso de celulares deitados na cama.
“A tecnologia faz parte da vida, mas é preciso utilizá-la sem sacrificar a saúde. Pequenos ajustes diários podem reduzir significativamente os impactos sobre a coluna”, orienta o ortopedista.
O home office também contribui para o agravamento da postura incorreta. Mobiliário inadequado, como sofás e camas improvisadas, aumenta a sobrecarga na cervical e lombar.
O especialista explica que o peso da cabeça, cerca de 5 kg, aumenta exponencialmente quando inclinada para frente, somado ao tempo prolongado na mesma posição e à má regulação de monitores e celulares. “A postura incorreta prolongada gera compressão de nervos, hérnias de disco, dor crônica e até alterações posturais graves”, completa.
Além disso, o médico alerta que a má postura pode afetar outras funções corporais. “Quando há sobrecarga na coluna cervical e lombar, pode ocorrer compressão de nervos e da medula espinhal, resultando em dormência, fraqueza muscular e, em casos mais graves, perda do controle de funções como bexiga e intestino. É um efeito que muitos desconhecem, mas que reforça a necessidade de prevenção”, afirma Brustolini.
Outro ponto importante é a prática regular de exercícios físicos que fortaleçam a musculatura do tronco e da coluna. “Atividades como pilates, natação ou musculação voltada para a postura ajudam a distribuir melhor o peso do corpo e evitam sobrecarga cervical e lombar. Isso é fundamental, principalmente para quem passa horas no computador ou celular”, explica.
O ortopedista alerta também para o uso de mochilas pesadas em adolescentes, postura incorreta ao sentar e vibrações no corpo em certas profissões. “Motoristas, estudantes e profissionais de home office precisam estar atentos. Cada detalhe conta para reduzir os efeitos da sobrecarga e prevenir complicações graves no futuro”, finaliza.
Além das recomendações posturais e exercícios, especialistas alertam para a importância de pausas digitais conscientes. Reduzir o tempo contínuo no celular, intercalar atividades físicas leves e realizar alongamentos frequentes ajuda a aliviar a tensão acumulada na coluna, prevenindo dores e problemas crônicos no pescoço e lombar.
Com a tecnologia cada vez mais presente, a atenção à postura torna-se essencial. Pequenas mudanças, combinadas a pausas regulares e exercícios de fortalecimento, podem reduzir significativamente os impactos da má postura e garantir uma vida mais saudável, longe das dores e complicações causadas pela “Síndrome do Pescoço de Texto”.
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