O varejo alimentar brasileiro fechou agosto com sinais opostos: faturamento em alta e consumo em queda. De acordo com levantamento da Rock Encantech, as vendas nominais subiram 4,5% frente a julho. O avanço foi liderado pelos supermercados, que cresceram 3,7% impulsionados pelo aumento de 5,9% no número de itens por carrinho e de 4,4% no ticket médio. A frequência de compras caiu 1,3%, mas não impediu o resultado positivo. Os atacarejos também registraram evolução, com alta de 2,2%, sustentada por 1% a mais de produtos por carrinho, 0,8% no ticket médio e 1,8% na frequência de clientes. Para Fernando Gibotti, vice-presidente de Varejo e Indústria da Rock Encantech, a elevação de preços segue como motor do desempenho. “Apesar dos cinco fins de semana de agosto terem contribuído para a frequência de compras, o avanço do segmento está diretamente relacionado ao aumento do preço médio e do ticket médio”, afirma.
Bebidas puxam retração em volume de vendas
Apesar da receita em alta, o consumo efetivo caiu. O Radar Mensal da Scanntech apontou retração de 4,4% nas vendas em unidades na comparação com agosto de 2024. O maior impacto veio da cesta de bebidas, que encolheu 7,3% em volume e 1,3% em faturamento. As alcoólicas responderam por 22% dessa queda, enquanto as não alcoólicas representaram 10%. O clima foi decisivo: agosto de 2025 teve temperaturas mais baixas que no mesmo mês de 2024, quando o calor intenso favoreceu o consumo. “Em 2024 as temperaturas mais elevadas impulsionaram categorias sensíveis ao calor, enquanto neste ano o clima ameno reduziu a demanda. Essas categorias representaram 41% da queda em unidades”, explica Felipe Passarelli, head de Inteligência de Mercado da Scanntech.
Acumulado do ano revela perda de poder de compra
Com o resultado de agosto, o varejo alimentar acumula em 2025 uma queda de 1,3% nas vendas em unidades – até julho a retração era de 0,7%. O faturamento, porém, segue em expansão: alta de 6,1% no ano, sustentada pelo aumento do preço médio, que subiu 7,5%, acima do IPCA de 12 meses (5,2%). O descompasso reforça a perda de poder de compra da população. “O consumidor está comprando menos, mas pagando mais caro. O avanço do faturamento está muito mais ligado ao repasse de preços do que a um crescimento real da demanda”, avalia Passarelli.
Tarifas americanas mexem nos preços internos
Além do clima, fatores internacionais influenciaram o mercado. A tarifa de exportação imposta pelo governo de Donald Trump reduziu os embarques de carnes e café para o exterior, aumentando a oferta interna e provocando recuo de preços. Frente a julho, o frango caiu 2,3% e o café 2,1%. A carne bovina, que vinha acumulando mais de 20% de alta no ano, registrou leve queda de 0,7%. Essa maior disponibilidade de produtos deu algum alívio ao consumidor, ao menos temporariamente.
Regiões e canais mostram ritmos distintos
Na divisão por canais, os supermercados mostraram maior resiliência: retração de 2,8% em volume, mas alta de 4,4% no faturamento. Os atacarejos sentiram mais: queda de 7,2% em unidades e de 0,9% em receita, reflexo da menor procura de pequenos comerciantes e ambulantes, especialmente no segmento de bebidas alcoólicas. Regionalmente, Sudeste e Nordeste lideraram as quedas, com recuos de até 6,1% em unidades – destaque para interior e leste de São Paulo. Na comparação anual, agosto de 2025 frente a agosto de 2024, os supermercados acumulam crescimento de 2,9% e os atacarejos recuo de 2,6%. Em ambos, o ticket médio avançou: 5,7% nos supermercados e 3,5% nos atacarejos.
O quadro de agosto confirma um varejo em busca de equilíbrio: preços mais altos e sazonalidade ajudam a sustentar o faturamento, mas o volume de compras diminui e expõe a pressão sobre o bolso do consumidor em meio às oscilações econômicas e à influência de decisões externas sobre o mercado interno.
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