O mercado brasileiro de cosméticos vive um momento de expansão e transformação impulsionado pela chamada “onda do skincare”. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), em parceria com a Statista, o setor movimentou cerca de US$ 27 bilhões em 2024 e deve alcançar US$ 32 bilhões até 2027, mesmo diante de um cenário macroeconômico desafiador.
O crescimento é alavancado por um consumidor mais atento à composição dos produtos, ao impacto ambiental e à presença de ativos naturais, como óleo de rosa mosqueta e vitamina C. Também influencia a busca por soluções personalizadas e a valorização do autocuidado como parte do bem-estar físico e emocional.
Segmento cresce acima da média nacional, estimulado por tendências importadas
Empresas tradicionais se reinventam
Nesse contexto, o Laboratório Aclimação, dono das marcas Epilê e Rugól, é um exemplo de como empresas centenárias podem se adaptar às novas exigências do mercado. Fundado há mais de 100 anos, o grupo comercializa cerca de 3 milhões de unidades por ano e vem apostando em inovação, reposicionamento de marca e digitalização.
“O legado é uma vantagem e uma responsabilidade. A tradição nos traz autoridade, mas também exige reinvenção constante”, afirma o diretor Mateus Enrique Argentieri, que assumiu a liderança da empresa em 2020 após passar por diferentes setores internos.
A Epilê é voltada ao público entre 25 e 45 anos, enquanto a Rugól mantém um apelo nostálgico entre mulheres acima dos 50 anos. Com presença consolidada em perfumarias e farmácias e avanço nas vendas online, o laboratório também prepara sua internacionalização e ampliação do portfólio com foco em sustentabilidade e ativos naturais.
Geração skincare: cuidados começam cada vez mais cedo
Mas o boom do skincare também levanta preocupações, especialmente quanto ao uso de cosméticos por crianças e adolescentes. Segundo dados da The Benchmarking Company, 69% das meninas e 50% dos meninos demonstram interesse por produtos de beleza antes dos 10 anos. Influenciados por redes sociais, tutoriais e influenciadores mirins, muitos começam a usar ácidos e antioxidantes precocemente.
“A moda do skincare entre crianças e adolescentes está provocando um consumo exagerado, muitas vezes sem orientação médica e com produtos inapropriados para essa faixa etária”, alerta a dermatologista Claudia Marçal, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Ingredientes como ácido salicílico, retinóides e vitamina C em altas concentrações podem causar manchas, dermatites, alergias e até alterar a microflora cutânea.
A farmacêutica Patrícia França chama atenção para os efeitos emocionais do fenômeno. Um dos riscos é o desenvolvimento de dismorfofobia, transtorno que gera preocupação excessiva com supostos defeitos físicos, o que pode desencadear ansiedade, baixa autoestima e depressão. “O skincare deve ser introduzido com parcimônia. Para crianças menores de 12 anos, sabonete neutro e protetor solar são suficientes”, explica.
Geração Z e o medo precoce de envelhecer
Enquanto crianças experimentam o skincare por curiosidade e influência digital, jovens da geração Z adotam rotinas sofisticadas por medo do envelhecimento precoce. Em 2012, menos de 20% das mulheres norte-americanas entre 18 e 24 anos consideravam importante o cuidado antienvelhecimento. Em 2018, esse número já superava 50%.
O influenciador Zac Mathias, de 18 anos, ilustra esse comportamento: sua rotina inclui microagulhamento, hidrafaciais, terapia de luz vermelha e sauna infravermelha. “Não foi por antienvelhecimento, mas um acidente feliz. Cuidar da pele me ajuda a relaxar”, afirma.
Postagens de adolescentes em fóruns como o Reddit revelam angústias com rugas aos 16 anos e dúvidas sobre botox antes dos 20. No TikTok, vídeos com gua sha, retinol e protetor solar acumulam milhares de curtidas, com comentários como “tenho medo de envelhecer”.
Negócio bilionário
O medo de parecer mais velho tornou-se um motor poderoso para o mercado. O segmento de cuidados antienvelhecimento deve movimentar mais de US$ 88 bilhões globalmente até 2026, segundo a Statista.
Diante desse cenário, especialistas reforçam que a educação sobre o uso adequado dos cosméticos é tão urgente quanto a inovação. “Mesmo com produtos personalizados, é fundamental que o uso seja feito sob recomendação médica, respeitando o tipo e a idade da pele”, conclui a dermatologista Claudia Marçal.
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