A culinária japonesa, marcada pela delicadeza, frescor e apuro técnico, enfrenta desafios importantes ao se adaptar ao formato de delivery no Brasil. Com a consolidação desse modelo durante a pandemia e sua manutenção como parte estratégica dos negócios, cresce o número de restaurantes especializados que apostam na entrega como forma de ampliar o alcance da marca. No entanto, manter a qualidade e a apresentação dos pratos durante o transporte ainda é um dos principais obstáculos enfrentados por empresários do setor.
Desde a escolha de embalagens até o treinamento das equipes de entrega, cada etapa do processo requer planejamento minucioso. Para especialistas da área, a adaptação da gastronomia japonesa ao delivery exige mudanças nos formatos dos pratos, testes de resistência dos recipientes e atenção à temperatura dos alimentos. Mesmo com essas medidas, a logística urbana e o tempo de deslocamento seguem como entraves à fidelização do cliente.
Interior do Brasil amplia consumo de pratos orientais
No Centro-Oeste, o crescimento do delivery de comida japonesa é perceptível em cidades como Goiânia, Anápolis e Rio Verde, refletindo a consolidação do consumo dessa culinária em regiões fora do eixo Rio-São Paulo. Em Goiás, por exemplo, a presença de comunidades de descendência japonesa e a crescente sofisticação do público consumidor têm impulsionado a abertura de novos restaurantes, inclusive com propostas voltadas exclusivamente ao delivery.
Dados do setor ajudam a dimensionar o avanço. Somente em 2024, a comida japonesa figurou como a quarta culinária mais pedida no maior aplicativo de entregas do país, com quase 21 milhões de pedidos realizados apenas em São Paulo. Ficou atrás de lanches (95 milhões), comida brasileira (44,2 milhões) e pizza (33 milhões), mas superou as marmitas (19 milhões), mostrando seu apelo entre os consumidores urbanos. O faturamento do setor, considerando redes e estabelecimentos independentes, chega a R$ 19 bilhões por ano, segundo levantamento de uma feira especializada em alimentação fora do lar.
Técnicas tradicionais precisam ser adaptadas para o transporte
Especialistas apontam que o desafio não está na demanda, mas na manutenção da experiência gastronômica no ambiente doméstico. O preparo do sushi, por exemplo, requer técnicas rigorosas para preservação da textura, temperatura e frescor. Muitos restaurantes passaram a adaptar os formatos dos alimentos, investindo em cortes mais compactos ou opções mais estáveis para o transporte. Também são realizados testes com diferentes tipos de vedação, para garantir que os pratos não percam qualidade até a chegada ao consumidor.
Outro ponto crítico é o treinamento da equipe. Do cozinheiro ao entregador, é necessário que todos compreendam os cuidados envolvidos no manuseio dos itens. Uma única falha pode comprometer a fidelização do cliente. Além disso, os estabelecimentos têm recorrido a métodos tecnológicos para rastrear pedidos, controlar temperatura e mapear tempos de entrega.
Demanda crescente exige inovação para preservar qualidade fora do salão
Comportamento do consumidor impulsiona expansão
O avanço da culinária japonesa por meio do delivery também está ligado ao comportamento do consumidor. A praticidade, aliada à percepção de que essa é uma alimentação saudável, estimula pedidos frequentes. A combinação de peixe cru, arroz, vegetais e baixa utilização de óleos ou açúcares reforça essa ideia entre o público, que passa a consumir os pratos não só em datas especiais, mas como parte da rotina alimentar.
Esse crescimento acompanha um movimento mais amplo de valorização dos sabores asiáticos no Brasil. Segundo estimativas, mais de 13 mil restaurantes com tipologia asiática operam no país, sendo 85% deles de comida japonesa. A comunidade nipo-brasileira, que representa a segunda maior população de descendentes fora do Japão, contribui para essa expansão. Além disso, o interesse do público em séries, filmes e produtos culturais asiáticos ampliou a familiaridade com os ingredientes e modos de preparo, impulsionando o consumo.
Tendências indicam uso de tecnologia e novos perfis de pratos
Para o futuro, especialistas apontam que o delivery de comida japonesa deve evoluir em direção à personalização, com menus ajustados ao gosto individual e embalagens desenvolvidas com foco na experiência sensorial. Há também espaço para a popularização de pratos menos conhecidos do público brasileiro, como ramens, bentôs e opções veganas. Essas inovações podem ampliar o repertório da culinária japonesa no país e torná-la ainda mais acessível.
Outro fator que pode impactar o setor é o consumo de peixe no Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Piscicultura, o brasileiro consome cerca de 10 quilos de peixe por ano. Esse dado, apesar de inferior à média mundial, mostra uma tendência de crescimento, especialmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que vêm aumentando a oferta e a variedade de espécies. Goiás, por exemplo, tem investido em piscicultura e fortalecido a cadeia produtiva, o que pode facilitar o abastecimento de restaurantes e incentivar a criação de pratos com insumos locais.
Mesmo diante das dificuldades logísticas e operacionais, o setor de delivery de comida japonesa se mostra resiliente e em expansão. Para manter esse crescimento, especialistas defendem investimentos em tecnologia, capacitação e inovação. O desafio, como resume um chef especializado, é “levar a experiência do restaurante para dentro da casa do cliente sem perder a essência da culinária japonesa”. Esse equilíbrio será decisivo para a sustentabilidade do modelo nos próximos anos.
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