O avanço acelerado da digitalização e a explosão de crimes virtuais no Brasil e no mundo transformaram a segurança cibernética em prioridade estratégica para empresas de todos os portes. Nesse cenário, o mercado de seguros contra riscos cibernéticos vem registrando crescimento exponencial, tanto em arrecadação quanto em demanda, consolidando-se como uma ferramenta de proteção financeira e de gestão de riscos indispensável no ambiente digital.
Segundo dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), o setor cresceu 880% em cinco anos, passando de R$ 20,7 milhões em prêmios arrecadados em 2019 para R$ 203,3 milhões em 2023. Em 2024, o montante já alcançava R$ 240 milhões, representando uma alta acumulada de mais de 500% desde 2020. Apesar do ritmo impressionante, o mercado brasileiro ainda é considerado pequeno quando comparado a economias maduras: apenas nos Estados Unidos, a arrecadação ultrapassou US$ 10 bilhões no último ano.
Crimes digitais em alta
A busca crescente pelo seguro cibernético é reflexo direto da escalada dos ataques digitais. Estimativas internacionais projetam que os prejuízos globais com crimes cibernéticos devem chegar a US$ 12 trilhões em 2026, um salto em relação aos US$ 8 trilhões registrados em 2023.
No Brasil, a vulnerabilidade é ainda mais preocupante. O Índice Global de Proteção de Dados (GDPI) apontou que seis em cada dez empresas brasileiras sofreram algum tipo de incidente de bloqueio de dados em 2023. Apenas no segundo trimestre de 2024, o país registrou aumento de 67% no número de ataques, consolidando-se como o terceiro país mais afetado por ransomware no mundo — crime caracterizado pelo sequestro de informações ou sistemas mediante pagamento de resgate.
A multiplicação de malwares também ilustra a gravidade da situação: cerca de 400 mil novos programas maliciosos são identificados todos os dias em escala global, o que amplia o risco de empresas de diferentes segmentos serem vítimas de invasões, fraudes ou interrupções de suas operações.
Ataques cibernéticos cresceram 67% no segundo trimestre
Como funciona o seguro cibernético
Diferente das apólices tradicionais, voltadas a bens físicos ou patrimoniais, o seguro contra riscos cibernéticos cobre danos financeiros e reputacionais decorrentes de incidentes digitais. As coberturas costumam envolver três eixos principais:
Resposta a incidentes: inclui reembolso de custos com investigação, recuperação de sistemas e assessoria técnica para restabelecer operações. Muitas apólices preveem atendimento emergencial 24 horas.
Responsabilidade civil: cobre despesas jurídicas e eventuais indenizações em casos de vazamento de dados pessoais ou corporativos, em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Prejuízos diretos ao segurado: abrange perdas financeiras por lucros cessantes, extorsão digital ou sequestro de dados, além de custos operacionais adicionais para manter a atividade empresarial em funcionamento.
Embora seja um instrumento fundamental, especialistas alertam que o seguro deve ser entendido como complemento — e não substituto — de boas práticas de cibersegurança, que incluem criptografia, autenticação multifatorial, auditorias e capacitação de equipes.
Crescimento sustentado
De janeiro a junho de 2025, a procura por seguros cibernéticos no Brasil cresceu 12,7% em relação ao mesmo período do ano passado, movimentando R$ 110,6 milhões em prêmios. O resultado reforça a tendência de consolidação do setor como um dos mais promissores do mercado segurador. Desde que a LGPD entrou em vigor, em 2020, a busca por apólices também ganhou impulso, já que a legislação impõe às empresas a responsabilidade de proteger dados de clientes, funcionários e parceiros.
Outro fator que explica o crescimento é o impacto financeiro e reputacional dos incidentes cibernéticos. Além das perdas diretas, ataques podem gerar paralisações longas, perda de confiança de clientes, litígios judiciais e multas regulatórias. Para muitas companhias, especialmente as que operam de forma intensiva no ambiente digital, o seguro passou a ser visto não apenas como precaução, mas como diferencial competitivo e de governança.
Desafios e perspectivas
Apesar do crescimento de dois dígitos anuais, o mercado brasileiro ainda enfrenta desafios. O nível de conscientização das empresas sobre os riscos cibernéticos permanece desigual, especialmente entre pequenos e médios negócios. Além disso, ainda existe dificuldade em precificar corretamente os riscos em um ambiente marcado pela constante evolução das ameaças.
Globalmente, projeções indicam que o setor de seguros cibernéticos deve atingir US$ 32,2 bilhões até 2030, com taxa média de crescimento anual de 14,2%. No Brasil, a expectativa é que a expansão siga firme, acompanhando a digitalização acelerada da economia e o aumento da dependência tecnológica das organizações.
Mais do que um produto de transferência de risco, o seguro cibernético vem se consolidando como parte integrante das estratégias de continuidade de negócios, combinando proteção financeira, resiliência operacional e respaldo jurídico. Em um mundo cada vez mais conectado, a tendência é que se torne, em breve, tão indispensável quanto os seguros tradicionais que cobrem riscos físicos e patrimoniais.
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