O mais recente relatório sobre a qualidade da água do Córrego Santa Bárbara, em Padre Bernardo (GO), revela que a contaminação causada pelo desmoronamento de uma pilha de resíduos no lixão da Ouro Verde diminuiu, mas ainda apresenta índices acima do limite permitido pela legislação ambiental.
Entregue à Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) em 23 de outubro, o documento atribui a melhora parcial às ações emergenciais de contenção e limpeza, mas alerta que o córrego permanece vulnerável à presença de substâncias nocivas e precisa de monitoramento contínuo.
Análise e riscos ambientais
O estudo, elaborado com base na Resolução nº 357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), avaliou amostras coletadas entre julho e setembro em quatro pontos do Córrego Santa Bárbara e do Rio do Sal. Os locais mais próximos ao lixão — denominados P2 e P3 — seguem como áreas de maior risco, com variações pontuais de metais pesados e episódios intermitentes de toxicidade.
“As variações observadas em metais e fósforo, especialmente nos pontos mais próximos ao lixão, indicam que o ambiente segue vulnerável e exige acompanhamento contínuo”, destaca o relatório.
A Ouro Verde e a Semad discutem, neste momento, medidas de recuperação ambiental de médio prazo, com foco na segurança das barreiras de contenção e no controle do chorume.
Impactos e parâmetros de contaminação
Logo após o desmoronamento, a água do córrego entrou em colapso ambiental. O oxigênio dissolvido chegou a 0,8 mg/L — valor incompatível com a vida aquática — e a demanda bioquímica de oxigênio (DBO) atingiu 30,4 mg/L, seis vezes acima do limite legal. “Aquela foi a fase mais crítica, em que praticamente não havia oxigênio disponível para peixes e outros organismos”, aponta o documento.
Foto: Semad
A partir de agosto, o cenário começou a melhorar, resultado das ações emergenciais determinadas pela Semad e da autodepuração natural do curso d’água, processo em que microorganismos e a corrente do rio ajudam a degradar poluentes.
Entre as medidas adotadas estão a retirada de 62,8 mil metros cúbicos de lixo das margens e do leito, o escoamento controlado das lagoas de chorume, a construção de uma nova bacia de contenção e a instalação de barreiras físicas para impedir o carreamento de sedimentos contaminados.
Metais acima do limite legal
Mesmo com a melhora, alguns parâmetros continuam fora dos padrões estabelecidos pelo Conama. O manganês, que deveria estar abaixo de 0,1 mg/L, chegou a 5 mg/L em agosto. Em excesso, o metal pode causar danos neurológicos e afetar a respiração dos peixes.
O fósforo também ultrapassou o limite legal, chegando a 0,6 mg/L — seis vezes acima do permitido. O relatório explica que o excesso causa eutrofização, fenômeno que aumenta o crescimento de algas e reduz o oxigênio disponível na água, podendo levar à morte da fauna aquática.
Outros elementos como níquel e zinco registraram picos entre julho e agosto. Esses metais são bioacumulativos, ou seja, podem se concentrar nos tecidos dos peixes e contaminar a cadeia alimentar. Já os fenóis, que chegaram a 0,29 mg/L, ultrapassaram em quase cem vezes o limite permitido e são potencialmente cancerígenos, com efeitos tóxicos sobre fígado e rins.
Em setembro, todos os parâmetros apresentaram queda expressiva, e alguns já ficaram dentro dos limites legais. Ainda assim, o relatório recomenda monitoramento intensivo durante o período chuvoso, reavaliação das fontes de poluição ao redor do aterro e continuidade dos testes de toxicidade biológica.
Proibição preventiva e uso da água
Embora o córrego não seja utilizado para abastecimento doméstico, ele é fundamental para irrigação e dessedentação animal na região. Por precaução, a Semad mantém suspenso o uso da água até que novas análises confirmem a estabilidade dos indicadores durante as chuvas.








