O setor florestal brasileiro encerrou 2024 em ritmo acelerado, movimentando R$ 44,3 bilhões — um crescimento de 16,7% em relação a 2023, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado reflete a força de uma cadeia produtiva que vai da silvicultura industrial à extração sustentável, com destaque para a celulose, responsável pela maior fatia da produção e das exportações do segmento.
O avanço confirma a consolidação do Brasil como um dos grandes players globais da economia verde, atraindo investimentos e impulsionando empregos em regiões antes pouco industrializadas. Em uma década, a produção florestal brasileira mais do que dobrou, sustentada por ganhos de produtividade, expansão de áreas plantadas e aumento da demanda internacional por produtos de base renovável.
Celulose puxa o crescimento florestal
A celulose segue como carro-chefe do setor, representando quase dois terços do valor total da produção florestal. Em 2024, o produto gerou R$ 28,8 bilhões, com alta de 20,5% sobre o ano anterior.
A expansão foi puxada pela retomada das exportações para a China e os Estados Unidos, além da entrada em operação de novas linhas industriais no Mato Grosso do Sul, estado que hoje concentra alguns dos maiores projetos de eucalipto e celulose do mundo. O setor florestal emprega cerca de 1,2 milhão de pessoas, entre empregos diretos e indiretos, e deve abrir novas vagas nos próximos dois anos.
Produção florestal de Eucalipto cobre 77% da área plantada. Foto: Divulgação
Destaques regionais: Minas, Mato Grosso do Sul e Paraná
Entre os estados, Minas Gerais mantém a liderança na produção florestal nacional, com R$ 9,1 bilhões em 2024 — alta de 11% em relação ao ano anterior. O estado é referência na produção de carvão vegetal e lenha, impulsionada pela siderurgia e pelo mercado de energia.
O Mato Grosso do Sul teve o maior crescimento proporcional do país, com aumento de 25% no valor da produção, reflexo da expansão da silvicultura de eucalipto e da modernização do parque industrial.
No Paraná e no Espírito Santo, o destaque foi a diversificação: além da madeira para papel e móveis, cresceram as áreas destinadas ao manejo de pinus e espécies voltadas para o mercado de biomassa. Já Goiás registrou crescimento moderado, mas vem atraindo empresas interessadas em integrar madeira e biotecnologia.
Florestas nativas ganham espaço na bioeconomia
Apesar do domínio das florestas plantadas, o extrativismo vegetal proveniente de florestas nativas teve papel importante na composição do valor total. Em 2024, esse segmento movimentou R$ 3,8 bilhões, um avanço de 4,2%. Produtos como açaí, castanha-do-pará, erva-mate, piaçava e látex se destacam pela relevância econômica e social, principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste.
Essas atividades geram renda a comunidades tradicionais e cooperativas locais, reforçando o papel do setor na bioeconomia. O Pará, líder nacional em produtos extrativos, respondeu por quase metade da produção do país, seguido por Amazonas e Acre. Para especialistas, a valorização do extrativismo sustentável representa uma oportunidade de aliar conservação ambiental e inclusão produtiva.
Exportações fortalecem balança comercial
Os produtos florestais tiveram papel decisivo na balança comercial brasileira em 2024. As exportações de celulose, papel e madeira processada somaram US$ 18,2 bilhões, alta de 18% em valor. O desempenho foi favorecido pela desvalorização cambial e pelo aumento dos preços internacionais da celulose.
A China permanece como principal destino, absorvendo quase 40% da produção nacional, seguida por Estados Unidos e União Europeia. O crescimento das exportações também reflete o avanço dos selos de sustentabilidade, que ampliaram o acesso do Brasil a mercados mais exigentes.
Sustentabilidade e novos investimentos
Com a crescente pressão global por práticas ambientais responsáveis, a silvicultura brasileira vem se destacando por adotar modelos de manejo com baixa emissão de carbono e alta produtividade. As empresas do setor investem cada vez mais em reflorestamento, tecnologias digitais e aproveitamento de resíduos industriais.
Segundo projeções da Ibá, o país deve receber mais de R$ 60 bilhões em novos investimentos até 2030, voltados à expansão de áreas plantadas e à inovação em bioeconomia.
Os desafios, no entanto, permanecem. A escassez hídrica em algumas regiões, a necessidade de diversificação das espécies e o combate à informalidade na extração de madeira exigem políticas públicas mais consistentes. Ainda assim, analistas avaliam que o Brasil reúne as condições ideais para liderar a transição global para uma economia florestal sustentável, combinando ganhos econômicos, ambientais e sociais.











