O setor coureiro brasileiro fechou o primeiro semestre de 2025 com dados que demonstram expansão na produção, mas também alertam para os desafios no mercado internacional. Segundo dados compilados pelo setor, os curtumes nacionais adquiriram 10,08 milhões de peças de couro cru bovino entre janeiro e março, o que representa uma alta de 8,4% em relação ao mesmo período do ano passado e de 1,3% na comparação com o trimestre anterior.
Aumento no abate impulsiona produção
Esse crescimento está diretamente ligado ao aumento no número de abates de bovinos. No mesmo intervalo, o país abateu cerca de 9,87 milhões de cabeças de gado sob inspeção sanitária, número 4,6% superior ao registrado no primeiro trimestre de 2024. Com isso, houve maior disponibilidade de matéria-prima para a cadeia coureira, o que favoreceu também o aumento nas exportações em volume.
De janeiro a junho de 2025, o Brasil exportou aproximadamente 306 milhões de metros quadrados de couro bovino. Houve crescimento de 2,9% no peso total exportado e de 3,7% no volume de couro acabado. Apesar disso, o valor total arrecadado com as exportações caiu 11,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando US$ 572 milhões. A queda no faturamento, mesmo com aumento em quantidade, indica um recuo nos preços médios internacionais.
Principais destinos e mudanças no mercado externo
Os principais compradores do couro brasileiro seguem sendo China, Estados Unidos e Itália. Juntos, esses três países responderam pela maior parte da área e do valor exportados. A China, por exemplo, foi destino de 44% da área exportada e concentrou 30% do faturamento total. Já os EUA ficaram com 13,6% e a Itália com 12,3%.
Apesar disso, o setor observou um recuo na participação desses mercados em valor, indicando possíveis ajustes de preços ou concorrência mais acirrada. Em contrapartida, países como Espanha e Coreia do Sul registraram crescimento expressivo na compra de couro brasileiro. A Espanha quase dobrou sua participação em valor, com alta de 98%, enquanto a Coreia aumentou em 31%.
Aquisição de couro cru bovino cresceu 15,7%
Tipos de couro e comportamento do mercado
A análise por tipo de produto também revela movimentos importantes. O couro acabado segue como o principal item de exportação, representando 37,8% da área total vendida ao exterior. Apesar disso, o faturamento gerado por esse tipo de produto caiu 4,4%.
Já o couro wet blue, uma etapa intermediária no processo de curtimento, teve queda de 25,3% no valor exportado e de 3% na área. Por outro lado, o couro salgado, ainda pouco expressivo na balança, dobrou em valor e já representa quase 4% da receita do semestre. O crescimento sugere maior interesse global por essa forma de matéria-prima, que exige menor processamento e tem custo mais acessível.
Sustentabilidade e rastreabilidade ganham protagonismo
Além dos números, o setor tem apostado fortemente em ações voltadas à sustentabilidade e rastreabilidade ambiental. Um dos destaques do primeiro semestre foi o Fórum de Sustentabilidade realizado em março durante uma feira internacional do setor. O evento reforçou a necessidade de rastrear impactos ambientais ao longo de toda a cadeia de produção, desde a origem da matéria-prima até o consumidor final.
Atualmente, cerca de 86% das empresas do setor já contam com certificações ambientais — um salto significativo em relação aos 78% registrados em 2021. A busca por padrões mais exigentes visa atender aos critérios de mercados como Europa e Estados Unidos, onde a pressão por práticas sustentáveis vem crescendo.
Desafios e perspectivas
Apesar do avanço em produção e da manutenção de importantes mercados, o setor coureiro brasileiro enfrenta o desafio de recuperar valor nas exportações. A redução nos preços médios internacionais tem pressionado as margens de lucro, tornando ainda mais essencial o investimento em produtos de maior valor agregado.
A diversificação de mercados, com destaque para o crescimento em países como Espanha, Coreia do Sul e México, pode oferecer novas oportunidades. Além disso, a valorização de práticas sustentáveis e o fortalecimento da rastreabilidade podem se tornar diferenciais competitivos nos próximos anos.
Com produção distribuída em 222 unidades no país — concentradas especialmente no Rio Grande do Sul e São Paulo — o setor coureiro brasileiro mantém sua relevância na cadeia do agronegócio e da indústria. A expectativa é que, com estratégias bem definidas, o país mantenha sua posição entre os maiores exportadores de couro do mundo.
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