O mercado de moda típica para festas juninas, tradicionalmente centrado em roupas industrializadas de baixo custo, vem passando por uma transformação silenciosa, mas significativa. O crescimento da customização artesanal de peças juninas – como saias jeans com bandeirinhas, camisas xadrez com aplicações, tops feitos a partir de retalhos e chapéus de palha decorados manualmente – vem impulsionando microempreendedores, movimentando redes sociais e aquecendo setores ligados à economia criativa em todo o país.
A tendência não é nova, mas ganhou tração após a pandemia, quando o faça-você-mesmo se tornou alternativa de renda e expressão pessoal. Em 2024, os dados do setor de vestuário apontaram uma movimentação de R$ 188,8 bilhões no país, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Dentre esse total, as vendas sazonais ligadas às festas juninas representaram um crescimento de 12% em relação ao mesmo período de 2023, com destaque para o segmento de produtos personalizados.
Identidade visual como valor de mercado
“A gente percebe uma mudança no perfil de consumo. As pessoas estão buscando peças únicas, com identidade visual própria e mais vínculo com o afeto e a memória das festas. Isso favorece quem trabalha com customização”, explica uma artesã do Distrito Federal, que há mais de 10 anos atua com costura criativa. Ela afirma que o volume de encomendas para o São João praticamente dobrou em relação ao ano passado.
Esse movimento também tem sido impulsionado pela viralização de vídeos curtos nas redes sociais, especialmente no TikTok e no Instagram, com tutoriais de reaproveitamento de roupas antigas, aplicação de bandeirinhas, bordados temáticos e reaproveitamento de tecidos. A geração Z tem desempenhado papel central na disseminação dessa estética, muitas vezes associando-a ao conceito de upcycling – técnica de transformar resíduos ou peças descartadas em produtos de maior valor agregado.
Explosão de buscas e novos consumidores
Segundo levantamento feito por uma empresa de análise de tendências digitais, só entre maio e a primeira semana de junho de 2025, houve um crescimento de 65% na busca por termos como “look junino customizado” e “roupa de São João feita à mão”. Esse aumento é acompanhado pelo crescimento das vendas online de materiais como fitas, tecidos de chita, cola quente e adereços para decoração de roupas. Com isso, o mercado de insumos também sente o impacto positivo dessa onda criativa.
Em regiões tradicionalmente ligadas aos festejos de São João – como o Nordeste e o interior do Centro-Oeste –, a movimentação é ainda mais intensa. Oficinas de costura familiar têm operado no limite da capacidade, muitas com agendas fechadas desde o fim de maio. Em alguns casos, o preço médio de uma peça customizada chega a ser quatro vezes superior ao de uma roupa junina padronizada vendida em grandes lojas de departamento. Ainda assim, a demanda segue aquecida.
Peças feitas à mão ganham destaque em escolas e festas de São João
Negócios locais ganham força com a festa
“A peça feita à mão carrega um valor simbólico que o industrial não oferece. E isso tem valor de mercado. A gente vê muitas mães procurando looks exclusivos para os filhos nas festas escolares, mas também adolescentes e adultos que querem se destacar nas festas maiores, com roupas que traduzam sua personalidade”, relata uma costureira do interior de Goiás. Ela começou fazendo roupas para a família e hoje vive exclusivamente do ateliê caseiro.
Além das roupas, o movimento também tem impulsionado a venda de acessórios temáticos customizados: tiaras, laços, suspensórios, gravatas e até calçados decorados. Muitos desses produtos são vendidos em feiras locais, lojas colaborativas ou por meio de marketplaces digitais, sem que seus produtores precisem manter lojas físicas ou estoques volumosos. Esse modelo reduz custos e favorece a lucratividade dos pequenos negócios, além de estimular a formalização via MEIs.
Crescimento do setor aparece nas estatísticas
De acordo com dados do Sebrae, o número de microempreendedores individuais no segmento de confecção e acessórios cresceu 8% entre janeiro e maio deste ano, em relação ao mesmo período do ano anterior. Especialistas atribuem parte desse crescimento à sazonalidade das festas juninas e julinas, que têm ganhado espaço inclusive em capitais do Sudeste e Sul do país, tradicionalmente menos associadas à celebração.
Outra tendência observada é o aluguel de roupas customizadas. Muitas famílias preferem pagar por uma peça exclusiva que será usada apenas uma vez, sem necessidade de aquisição definitiva. Plataformas de economia compartilhada, além de grupos de venda e troca por aplicativos de mensagens, vêm abrindo espaço para esse tipo de negócio. Para os empreendedores, trata-se de uma estratégia adicional de monetização das peças produzidas, com menor descarte e maior rotatividade.
Desafios ainda existem, mas potencial é evidente
Apesar do entusiasmo, o crescimento do setor ainda esbarra em desafios como a falta de acesso a crédito, capacitação técnica e logística eficiente para o escoamento dos produtos, especialmente para quem está fora dos grandes centros urbanos. Ainda assim, iniciativas autônomas seguem proliferando com criatividade e resiliência.
“A customização se encaixa muito bem na lógica da economia criativa: baixa escala, alto valor agregado, identidade regional e uso intensivo de talento e cultura local. É uma forma de fazer moda que dialoga com a tradição e ao mesmo tempo com as tendências globais”, explica um pesquisador de cultura popular e design sustentável.
Para os próximos anos, a expectativa é de que o movimento continue ganhando fôlego, com mais visibilidade institucional, apoio a feiras criativas regionais e capacitação de artesãos. A customização junina, que já foi vista como nicho informal, agora se consolida como oportunidade real de negócios – com potencial de renda, sustentabilidade e afirmação cultural.
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