Uma mulher de 43 anos foi resgatada pela Polícia Militar após ser sequestrada e levada à força para uma clínica de reabilitação, na tarde de domingo (2/11), em Goiânia. Segundo o relato da vítima, o crime foi articulado pelo próprio pai, de 64 anos, motivado por uma disputa pela herança deixada pela avó, que morreu há cinco dias. Três homens, de 23, 36 e 39 anos, contratados para realizar a internação forçada, foram presos em flagrante.
De acordo com a PM, a mulher foi abordada por quatro homens na Avenida T-28, no Setor Bueno, por volta das 15h50. O grupo a imobilizou e tentou colocá-la à força dentro de um carro prata. O destino seria uma clínica de recuperação localizada no Jardim Privé das Oliveiras, região do Madre Germana II.
O pai da vítima é apontado como o responsável por contratar o serviço. Ele alegou que a filha seria usuária de drogas, o que ela nega. A mulher afirmou que está em tratamento médico por depressão e que a tentativa de internação teria ligação com o controle dos bens herdados da avó. “Meu pai quer me tirar da casa que herdei porque quer ficar com a maior parte do imóvel”, disse.
Os três suspeitos foram interceptados por equipes do 45º Batalhão da PM, às 18h25, na GO-040, no Setor Garavelo. Eles informaram aos policiais que haviam deixado a mulher na Casa de Acolhimento Save New Life, onde ela seria transferida posteriormente para outra unidade, em Trindade.
Durante a investigação, os policiais tiveram acesso a mensagens de áudio enviadas por um representante da clínica, que orientava os homens sobre como deveriam agir durante o sequestro.
Em um dos trechos, o tom de frieza chama atenção:
“Chegar, não tem conversa. Já vai direto nela, bota ela no carro. Se resistir, segura por baixo dos braços, prende as mãos atrás da nuca. Um segura nas pernas e leva pro carro. Depois um de vocês acerta o dinheiro com o pai dela.”
O mesmo homem também fala sobre o pagamento combinado:
“É R$ 400 da remoção e R$ 1,6 mil da matrícula.”
As mensagens foram encaminhadas à Central de Flagrantes de Aparecida de Goiânia. A vítima foi resgatada em estado de choque e acompanhada por policiais durante o depoimento. Os três envolvidos foram autuados por sequestro e cárcere privado. A Polícia Civil investiga a participação do pai e se a clínica atuava de forma irregular, já que a internação não tinha autorização judicial.
“Meu pai mandou me bater”, diz mulher sequestrada
Em depoimento , a mulher relatou à polícia como tudo aconteceu e como foi surpreendida pelo próprio pai dentro de casa:
“Eu estava em casa, tinha acabado de fazer o almoço e liguei para o meu pai dizendo que estava com saudade dos meus filhos. Ele disse que ia me buscar pra vê-los. Quando chegou, sentou à mesa, e de repente falou que tinha recebido uma ameaça e que ia me internar. Eu perguntei por quê, mas ele disse que não tinha conversa, que era pra eu ir agora.”
Segundo a vítima, três homens entraram na residência logo em seguida.
“Um pegou meu braço, outro as pernas, e começaram a me empurrar. Tentei me soltar, quebrei um prato tentando me defender. Eles me enforcaram pra eu ficar quieta. Meu pai gritava que eu era louca, que precisava ser internada. Pedi ajuda, e ele me deu três murros na testa. Me colocaram no carro como se eu fosse um objeto, todo mundo da rua vendo.”
Foto: Divulgação/PMGO
A mulher contou que foi levada a uma clínica, mas não sabia o nome do local.
“Pedi um remédio pra dor de cabeça, não me deram. Mandaram eu calar a boca e disseram que era pra eu ficar quieta. Eu só dizia: eu não fiz nada, eu sou mãe de família, trabalho. Só quero viver a minha vida em paz.”
Ela encerrou o relato afirmando que o sequestro teria sido motivado por uma disputa de herança:
“Minha avó faleceu há cinco dias e deixou uma casa pra mim. É uma casa com três kitnets. Meu pai quer me tirar de lá pra ficar com tudo. Foi por isso que ele mandou me internar à força.”










