A mais nova obsessão nacional viralizou inicialmente em Goiás. Inspirado na tradicional maçã do amor, o morango do amor é o doce que invadiu as redes sociais, bombou em feiras e confeitarias e tem gerado filas — e memes — por todo o Brasil. O que pouca gente sabe é que a febre começou em Goiânia, onde a combinação de morango fresco, brigadeiro de ninho e calda crocante de açúcar conquistou o público e mudou a rotina de quem vive da confeitaria.
O impacto do sucesso é direto no comércio local. Em uma frutaria em Aparecida de Goiânia, a procura por morangos dobrou desde o dia 1º de julho, segundo a proprietária Adriana Pereira. A caixa estava sendo vendida a R$ 38 até o dia 18, sem nenhuma previsão de aumento, de acordo com ela o preço só costuma subir em época de chuva ou datas comemorativas.
O cenário que se repete em outras feiras e mercados da cidade vem sendo aproveitado por empreendedores como Silvana Silva, técnica em alimentos, que viu sua vida mudar com o doce. “No início, achei que não conseguiria. Não é um doce tão fácil de fazer, principalmente a calda, que é a parte mais difícil”, conta.
Mas, motivada pelos pedidos dos clientes, ela resolveu tentar. “No primeiro dia, fiz 30 unidades e venderam em minutos. No segundo dia, fiz 60, e assim foi até meu marido sugerir que ele vendesse na feira. Em duas horas, vendeu 120 morangos. Hoje, estamos com seis funcionários na cozinha e cinco vendedores nas feiras de Aparecida e de Goiânia”, revela Silvana.
Segundo a doceira, a técnica exige paciência. “Um minuto de distração a calda pode passar do ponto, o meu morango é conhecido por não grudar nos dentes, então prezo muito para que nada saia dos trilhos e se caso sair, não é colocado para venda”, explica. Atualmente, ela comercializa cerca de 500 unidades por dia, a R$ 12 cada, e no melhor dia de vendas chegou a vender 1.000 morangos, com um faturamento de R$ 12 mil. A produção, que antes usava duas caixas de morango por semana para bolos, agora consome cerca de 80 caixas semanais.
Além de movimentar a economia informal e as feiras locais, o fenômeno também gerou um novo comportamento de consumo. Nas redes sociais, vídeos de receitas, tentativas frustradas e caldas que deram errado viralizam todos os dias. O bordão “virou morango do terror” passou a identificar os erros — muitas vezes cômicos — de quem tentou fazer o doce em casa. A hashtag #morangodoamor já ultrapassou 200 milhões de visualizações em vídeos curtos e tutoriais no TikTok, Instagram e YouTube.
A estética do doce, com sua casquinha vermelha brilhante e recheio de brigadeiro cremoso, também contribui para seu sucesso. Ele é fotogênico, instagramável e atende a um paladar nostálgico, que lembra festas juninas e momentos afetivos. A mistura de técnica e emoção fez com que o morango do amor se tornasse um produto cobiçado e, para muitos, sinônimo de “confeitaria raiz”.
E não é apenas no Brasil que o doce tem ganhado espaço. Em comunidades brasileiras nos Estados Unidos, em Portugal e até no Japão, confeiteiras estão relatando o aumento repentino de pedidos. A combinação entre saudade, afeto e sabor tem sido o motor dessa demanda. Em grupos de WhatsApp, pessoas compartilham dicas para acertar a calda, sugerem utensílios específicos e recomendam quem faz bem o doce em sua cidade ou bairro.
Para muitos pequenos produtores, o morango do amor chegou como uma resposta em meio a um cenário econômico desafiador. Além de ser uma nova fonte de renda, ele resgatou sonhos, movimentou famílias e trouxe autoestima para quem estava fora do mercado há meses ou até anos.
Em Goiânia, não é raro ver filas formadas em frente a barracas de feiras e empreendimentos especializados no doce. Algumas padarias e confeitarias, que inicialmente subestimaram o apelo do doce, agora estão incorporando a novidade ao cardápio. “No início achamos que era só modinha. Mas os clientes começaram a pedir tanto que tivemos que nos adaptar”, conta o gerente de uma confeitaria na região Oeste da capital.
Especialistas do setor de alimentos apontam que essa tendência pode ser mais duradoura do que aparenta. A união entre um produto visualmente atrativo, sabor marcante e forte engajamento nas redes é, segundo eles, o segredo de qualquer sucesso gastronômico atual.
E se depender do entusiasmo de quem compra — e principalmente de quem vende — o morango do amor ainda vai render muitos likes, doces lucros e histórias emocionantes pelos quatro cantos do mundo.
Tendência viral reacende negócios de brasileiras fora do País
O sucesso do “morango do amor” não ficou restrito ao Centro-Oeste, a viralização do doce chegou ao exterior, levando o sabor e a criatividade brasileira para outros países. A repercussão internacional do doce também tem gerado renda e esperança para as brasileiras que vivem fora do país. É o caso de Kalita Anacleto, confeiteira residente em Londres, que encontrou no sucesso do morango do amor uma chance de retomar sua atividade profissional mesmo em meio à maternidade.
Em Londres, a confeiteira Kalita Anacleto voltou à ativa graças à febre do morango do amor — e não para de receber encomendas. Foto: Divulgação
“Como moramos fora, tudo o que é típico do Brasil bate uma saudade. Então, quando virou febre aí, a vontade aqui também aumentou. Mesmo com muitas confeiteiras na comunidade, ninguém estava fazendo. Quando uma amiga me pediu, divulguei só para meus contatos. A repercussão foi imediata”, lembra.
Com uma produção ainda limitada por conta dos cuidados com o bebê, Kalita consegue entregar até 50 morangos por dia, sempre esgotando os pedidos. “Teve gente que encomendou 25 de uma vez. Quem compra, não quer só um”, relata.
Para ela, o doce tem representado mais do que um lucro pontual. “Foi além de uma renda extra. Eu ouvi alguém dizer que é uma ‘Páscoa fora de época’. E eu concordo. Muitas confeiteiras conseguiram pagar contas atrasadas com o morango do amor. Ele realmente salvou muita gente.”
Enquanto muitos tentam acertar o ponto da calda — e acabam viralizando com o famigerado “morango do terror” — o fenômeno segue ganhando força. O doce, que parecia mais um modismo passageiro, tem provado ser um verdadeiro fenômeno de vendas, criatividade e afeto, conectando pessoas, movimentando negócios e adoçando histórias no Brasil e no mundo.
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