O mercado de relógios de luxo usados, antes restrito a círculos de colecionadores e apaixonados por relojoaria, se consolidou como uma frente econômica bilionária em expansão. Mais do que um símbolo de status ou um hobby sofisticado, os relógios seminovos passaram a representar também uma alternativa de investimento tangível e menos volátil, atraindo cada vez mais investidores atentos à valorização de ativos físicos.
Segundo dados da Business Research Insights, o setor foi avaliado em cerca de 26,5 bilhões de dólares em 2024 e deve ultrapassar os 59 bilhões até 2033, crescendo a uma taxa média anual de 9,3%. Um dos fatores centrais desse crescimento acelerado é a valorização constante de modelos de alta demanda, cuja escassez no mercado primário impulsiona a revenda no setor secundário.
Mercado digital impulsiona revenda
O movimento vem acompanhado da consolidação de plataformas digitais especializadas, que garantem maior liquidez, segurança e transparência nas negociações. Estima-se que, até 2026, mais de 60% das transações de relógios usados de luxo sejam realizadas online, indicando uma mudança de comportamento no consumo e revenda desses bens. Para o Boston Consulting Group, as vendas globais de relógios usados movimentaram cerca de 22 bilhões de dólares em 2021, representando quase um terço do mercado total, avaliado em 75 bilhões naquele ano. A projeção é que esse número supere os 35 bilhões nos próximos dois anos.
No Brasil, o setor também acelera
No Brasil, o segmento também ganha força. Dados da Horizon Grand View Research apontam que o mercado nacional de relógios de luxo usados movimentou cerca de 465 milhões de dólares em um único ano, algo em torno de R$ 2,5 bilhões. A tendência é de crescimento contínuo, com projeções de que esse volume ultrapasse os R$ 4 bilhões até 2030, acompanhando o fortalecimento do setor global e a maior familiaridade dos brasileiros com plataformas de revenda.
Especialistas avaliam que o apelo desses itens vai além do valor monetário. “Relógios de luxo carregam histórias, representam feitos da engenharia e simbolizam conquistas. Muitos modelos têm um caráter quase afetivo, que transcende o tempo e gerações”, destaca um avaliador independente do mercado secundário. Modelos vintage e raros, com produção limitada ou associados a figuras históricas, se tornam peças de coleção com alto poder de valorização.
Setor projeta dobrar de tamanho até 2033
Pandemia, finanças e o equilíbrio nos preços
Além da atratividade emocional, há também razões práticas. Durante a pandemia, com a queda nas viagens internacionais e o redirecionamento dos gastos de lazer para produtos duráveis, houve um aumento expressivo na procura por relógios de luxo. O interesse crescente gerou filas de espera no mercado primário e contribuiu para um boom de preços no mercado secundário. Posteriormente, a volatilidade nos mercados financeiros, aliada à queda das criptomoedas, levou muitos colecionadores a venderem suas peças, promovendo um movimento de reequilíbrio nos preços.
Dados do Índice Bloomberg Subdial, que acompanha os 50 modelos mais negociados no mundo, indicam que o mercado de relógios de luxo passa por uma fase de recuperação após uma baixa registrada no início de 2023. A recuperação é impulsionada, sobretudo, pela retomada da demanda nos Estados Unidos, onde o consumo desses bens está altamente correlacionado com o desempenho de ativos financeiros.
Riscos, desafios e futuro promissor
Embora a demanda tenha crescido em países ocidentais, o setor ainda enfrenta desafios no mercado asiático, tradicionalmente um dos maiores destinos de exportação da indústria relojoeira. A contração do mercado de luxo na China e as oscilações nas exportações têm gerado incertezas, ainda que as projeções globais permaneçam otimistas. Em abril de 2023, por exemplo, as exportações aumentaram consideravelmente, mas caíram novamente em maio, revelando uma instabilidade ainda presente.
Outro ponto de atenção são as tarifas sobre relógios suíços, que impactam diretamente a cadeia de revenda em países como os Estados Unidos. Itens já importados, no entanto, não sofrem essas tributações, o que pode estimular o mercado de seminovos como alternativa mais viável. Além disso, as grandes fabricantes têm adotado posturas mais ativas nesse segmento, lançando programas de autenticação e venda de usados com selo oficial, o que demonstra o reconhecimento da importância estratégica desse nicho.
De acordo com um consultor internacional de investimentos em bens de luxo, “a revenda de relógios de alto padrão oferece hoje uma combinação rara, exclusividade, durabilidade e retorno financeiro. Para muitos, é uma forma de diversificar a carteira com um ativo que você pode literalmente carregar no pulso.”
Apesar do ar de discrição, o mercado de relógios de luxo usados reúne tradição, inovação e valorização cultural. Em um cenário global de incertezas econômicas, o interesse por bens duráveis e simbólicos tende a crescer, especialmente aqueles que unem valor emocional e potencial de rentabilidade. Entre colecionadores, herdeiros, entusiastas e investidores, o tic-tac do mercado secundário de relógios segue pulsando forte, e ainda promete marcar tempo por muitos anos.
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