Em um cenário de transformações sociais e mudanças nos hábitos de leitura dos brasileiros, o mercado de livros religiosos apresenta crescimento contínuo e acima da média do setor editorial como um todo. Mesmo com o avanço do número de pessoas sem religião no Brasil — de 7,9% em 2010 para 9,3% em 2022, segundo o IBGE —, os dados mais recentes indicam que a procura por obras com temática espiritual não apenas se mantém, mas se intensifica.
Segundo a pesquisa “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, divulgada em 2023, o subsetor de livros religiosos cresceu 4,5% nas vendas ao mercado em comparação ao ano anterior. Já o levantamento anual da Nielsen BookScan apontou que o segmento de livros devocionais — que incluem reflexões e orações diárias — registrou um crescimento expressivo de 12% no último ano. Esses números contrastam com o desempenho geral do setor editorial, que cresceu 3,7% no mesmo período.
Espiritualidade em alta após a pandemia
O desempenho do segmento está relacionado ao fortalecimento do consumo de conteúdo espiritual, intensificado no período pós-pandemia. A busca por conforto emocional e por respostas diante de incertezas sociais e econômicas parece ter impulsionado a leitura devocional e o interesse por obras de orientação espiritual. “Estamos vendo um movimento de retorno às raízes espirituais e um desejo profundo por momentos de reflexão e conexão com o divino”, analisa um executivo do setor.
Outro indicador do vigor do mercado vem da pesquisa “Reading Habits”, conduzida pelo Instituto Pró-Livro. O levantamento aponta que 34% dos leitores brasileiros incluem livros religiosos em suas leituras regulares, sendo que 62% consomem esse tipo de conteúdo diariamente. A literatura devocional, portanto, passou a ocupar um espaço fixo na rotina de muitos leitores.
Novos canais e estratégias impulsionam vendas
Esse fenômeno também se reflete na reorganização de livrarias e marketplaces, que vêm ampliando o destaque dado a essas obras. Canais de venda antes considerados secundários, como os sites das próprias editoras e os marketplaces generalistas, ganharam força. Em 2023, essas plataformas responderam por um crescimento de 21,5% no faturamento das editoras religiosas, revelando uma adaptação eficiente às novas formas de consumo.
Além disso, estratégias de marketing editorial vêm contribuindo para ampliar o alcance das publicações religiosas. Uma das apostas do setor tem sido o lançamento de kits com brindes, como canecas, marcadores de páginas personalizados ou acessórios temáticos. Essa abordagem tem gerado um apelo emocional e simbólico nos leitores, especialmente em datas comemorativas, como Natal e Dia das Mães.
Segmento se diversifica com novos públicos
Apesar da dominância histórica de livros teológicos ou de orientação pastoral, novas categorias têm se destacado. A ficção cristã e os livros religiosos infantis ganharam força nos últimos anos, ampliando o alcance do segmento para públicos diversos. O crescimento desses nichos é considerado estratégico para manter o fôlego do setor nos próximos anos.
Em termos de participação de mercado, o segmento de livros religiosos representa cerca de 17% do mercado editorial brasileiro. Segundo representantes de entidades do setor, como a Associação de Editores Cristãos, há otimismo quanto ao futuro. “Levando em conta o crescimento das igrejas evangélicas e o perfil leitor desse público, que consome em média oito livros por ano, a expectativa é de expansão contínua”, afirmou um dirigente da entidade.
Obras devocionais e infantis ampliam público
Futuro do setor combina tradição e inovação
Outro ponto importante citado por editores e especialistas é o desempenho de obras cristãs nos canais de venda não religiosos. Livrarias seculares e grandes redes passaram a incluir com mais força os livros devocionais e de ficção cristã em seus catálogos. O avanço nos espaços físicos e digitais ampliou o acesso dos leitores, sem que o setor abrisse mão de sua rede tradicional de distribuição.
Ainda que o Brasil permaneça como um país majoritariamente cristão, o poder de compra segue sendo uma variável que influencia o mercado editorial. Diante disso, especialistas defendem a necessidade de políticas públicas de incentivo à leitura, ampliação de bibliotecas e apoio às editoras comprometidas com a difusão cultural e espiritual.
Por fim, a consolidação do mercado de livros religiosos no Brasil parece estar diretamente ligada à sua capacidade de adaptação, inovação e fidelização de leitores. A combinação entre tradição e novas linguagens tem sido a fórmula para garantir não apenas a sobrevivência, mas o protagonismo de um dos segmentos mais resilientes do mercado editorial nacional.
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