A indústria de jogos eletrônicos deixou de ser uma atividade de nicho para se consolidar como uma das principais forças da economia criativa global. Com receitas anuais que já ultrapassam, somadas, as das indústrias do cinema e da música, o setor se tornou um dos pilares do entretenimento e um vetor de inovação tecnológica.
De acordo com dados de consultorias internacionais, o mercado global de jogos movimentou mais de 180 bilhões de dólares em 2023. No mesmo período, o cinema faturou em torno de 100 bilhões, enquanto a música registrou cerca de 30 bilhões. Essa diferença ilustra não apenas a força da indústria dos games, mas também a mudança de hábitos de consumo das novas gerações, que têm nos jogos digitais sua principal forma de lazer.
Do lazer ao investimento
O crescimento vertiginoso do setor é resultado de múltiplos fatores. O acesso facilitado por dispositivos móveis ampliou o público consumidor, incluindo pessoas que antes não tinham contato com consoles ou computadores. Paralelamente, a expansão das plataformas online transformou os jogos em espaços de convivência social, onde milhões de usuários se encontram para interagir, competir e compartilhar experiências.
Essa dimensão social foi decisiva para a transformação da indústria em um negócio bilionário. Hoje, os jogos não se limitam à venda do produto em si, mas incorporam modelos de monetização contínuos, como assinaturas, conteúdos extras e itens digitais personalizáveis. Em alguns casos, jogos gratuitos alcançam receitas superiores às de lançamentos pagos, mostrando a força das microtransações e da publicidade inserida nas plataformas.
O Brasil aparece entre os cinco maiores mercados do mundo em número de jogadores
Inovação e cultura digital
Os jogos também se tornaram um espaço de experimentação tecnológica. O avanço dos gráficos, da inteligência artificial, da realidade virtual e da realidade aumentada permitiu experiências cada vez mais imersivas. Ao mesmo tempo, o setor se abriu para a produção independente, com pequenos estúdios criando jogos inovadores e conquistando reconhecimento internacional.
O impacto cultural é outro aspecto relevante. Personagens icônicos ultrapassaram as telas e viraram parte da cultura pop, inspirando filmes, séries e produtos licenciados. Os eventos de lançamentos e campeonatos profissionais atraem públicos milionários, tanto presencialmente quanto em transmissões online, rivalizando com grandes competições esportivas.
A força do mercado brasileiro
No Brasil, o setor de jogos se consolidou como o mais dinâmico da indústria do entretenimento. Pesquisas recentes apontam que mais de 70% da população joga algum tipo de game, seja em celulares, computadores ou consoles. Isso representa um universo superior a 115 milhões de pessoas, colocando o país entre os cinco maiores mercados em número de jogadores.
Em termos de receita, o Brasil ainda ocupa a décima posição mundial, mas já lidera o setor na América Latina, movimentando aproximadamente 13 bilhões de reais por ano. Esse crescimento se reflete no número de estúdios nacionais: em 2014, havia cerca de 200 empresas desenvolvedoras, enquanto em 2023 esse número ultrapassou a marca de mil.
Grande parte dessas empresas é formada por desenvolvedores independentes, que encontram no setor de serviços uma fonte importante de receita, além da criação de jogos autorais. A internacionalização também tem avançado: mais da metade dos estúdios brasileiros já exporta seus produtos, e uma parcela crescente possui filiais no exterior.
Desafios e oportunidades
Apesar do cenário promissor, o setor enfrenta desafios que vão desde a carga tributária elevada até a necessidade de maior apoio em políticas públicas e formação profissional. Especialistas destacam que a redução de impostos e o incentivo à pesquisa e desenvolvimento poderiam acelerar a consolidação do Brasil como referência internacional na área.
Outro ponto é o potencial cultural do país. A diversidade brasileira, ainda pouco explorada no desenvolvimento de jogos, pode gerar narrativas e experiências únicas, com identidade própria, diferenciando-se dos padrões dominantes na indústria internacional.
Perspectivas para o futuro
O horizonte aponta para ainda mais expansão. O início de uma nova geração de consoles e o lançamento de títulos aguardados prometem movimentar bilhões nos próximos anos. Paralelamente, novas tecnologias, como o metaverso e o streaming de jogos, devem ampliar o alcance do setor, permitindo experiências mais acessíveis e integradas.
Para o Brasil, a tendência é de fortalecimento do mercado interno e aumento da presença no cenário global. Com uma base crescente de consumidores e talentos criativos, o país tem potencial para se destacar não apenas como consumidor, mas também como produtor de conteúdo digital.
Um motor da economia criativa
A economia dos jogos já não pode ser vista como simples entretenimento. Ela envolve geração de empregos, inovação tecnológica, exportação de serviços e fortalecimento cultural. Com lucros superiores ao cinema e à música, o setor se consolidou como protagonista da indústria cultural do século XXI.
Mais do que diversão, os jogos digitais se tornaram um dos principais motores da economia criativa global. E o Brasil, com sua base de jogadores e estúdios em expansão, tem diante de si a chance de transformar esse potencial em uma verdadeira estratégia de desenvolvimento econômico e tecnológico.
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