A malária permanece como um dos principais problemas de saúde pública em países tropicais, incluindo o Brasil. Transmitida pela picada da fêmea do mosquito Anopheles, conhecido como mosquito-prego, a doença ainda concentra grande parte dos registros na região amazônica. Apesar da queda progressiva nos casos clínicos, pesquisadores identificam um desafio crescente: as infecções assintomáticas, que mantêm o ciclo de transmissão sem que o portador perceba.
Na Amazônia, levantamentos indicam que boa parte das pessoas infectadas não apresenta febre, calafrios ou outros sinais clássicos da malária. Esse cenário faz com que muitas não procurem atendimento médico, dificultando a detecção e o controle da doença.
Um estudo conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) em Mâncio Lima, no Acre, acompanhou 2.700 moradores ao longo de alguns anos e apontou que mais de 90% das infecções ocorreram de forma silenciosa. Os diagnósticos só foram possíveis por meio da reação em cadeia da polimerase (PCR), um exame de alta precisão.
Diagnóstico vai além da microscopia tradicional
Adriana Vega, gerente de Life Sciences da QIAGEN na América Latina, explica por que esses casos representam um obstáculo ao combate à malária. “Quando a infecção não dá sinais, o portador continua servindo de fonte para novos mosquitos, que por sua vez mantêm a circulação do parasita na comunidade. É um ciclo oculto que dificulta o controle da malária”, afirma.
A especialista ressalta que os exames mais utilizados atualmente, como a análise microscópica, não identificam infecções com baixa carga parasitária. “Esse tipo de exame é o padrão na rede pública brasileira, mas falha justamente nos casos assintomáticos. As técnicas moleculares, como a PCR, conseguem detectar até níveis mínimos do parasita e fornecem dados mais confiáveis para a vigilância”, explica.
Pesquisas na Amazônia mostraram que, ao aplicar a PCR, foi possível identificar até dez vezes mais infecções do que pela microscopia. Essa sensibilidade ampliada faz com que a técnica seja considerada essencial para mapear a circulação oculta da doença e orientar políticas de bloqueio.
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Tecnologis de apoio à vigilância
Novas ferramentas vêm sendo desenvolvidas para facilitar a aplicação da PCR em estudos epidemiológicos. Uma delas é o QIAprep & Plasmodium Kit, da QIAGEN, que combina a preparação das amostras com a PCR quantitativa em um processo único. O método permite a análise de sangue total ou manchas de sangue seco, reduzindo custos e tempo de processamento.
De acordo com Adriana Vega, o avanço desse tipo de tecnologia pode contribuir para alcançar a meta nacional de eliminação da malária até 2035. “Quanto mais cedo o diagnóstico é feito, mais rápido o paciente recebe tratamento e menores são as chances de transmissão. Além disso, os dados moleculares ajudam a direcionar as ações de bloqueio em áreas vulneráveis, evitando surtos e a reintrodução da doença em locais já controlados”, destaca.
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