Um levantamento inédito em escala nacional, o Projeto MicroMar, aponta que sete em cada dez praias brasileiras apresentam contaminação por microplásticos. O estudo, que é considerado o maior já realizado sobre o tema no Brasil, revela o alcance da poluição plástica no litoral e projeta a ciência de Goiás no cenário internacional.
O dado alarmante é o primeiro resultado do artigo científico “Microplastic pollution across the Brazilian coastline: Evidence from the MICROMar project, the largest coastal survey in the Global South”. Publicado em outubro pela revista internacional Environmental Research, da editora Elsevier, o trabalho integra o Projeto MicroMar, coordenado a partir do Instituto Federal Goiano (IF Goiano – Campus Urutaí), e teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).
Escala da Contaminação dos microplásticos
O Projeto MicroMar analisou 1.024 praias em 211 municípios, cobrindo 7.500 quilômetros do litoral brasileiro, no período entre abril de 2023 e abril de 2024. Das praias analisadas, 709 apresentaram a presença das partículas de microplástico.
Invisíveis a olho nu, os microplásticos representam uma ameaça crescente ao meio ambiente e à saúde humana. A pesquisa demonstrou que a poluição plástica é ampla, persistente e afeta tanto áreas urbanas quanto regiões de conservação.
As partículas encontradas têm origem em diversas fontes, incluindo embalagens, tecidos sintéticos, produtos de uso doméstico e materiais de pesca. Essa descoberta comprova a ligação direta entre o consumo cotidiano e a contaminação marinha.
O estudo reúne mais de 100 pesquisadores e técnicos de todo o país, englobando universidades federais, estaduais e centros de pesquisa públicos e privados. O coordenador do projeto, professor Guilherme Malafaia, classificou o MicroMar como “um marco para a ciência goiana, nacional e global”.
O professor Malafaia destacou que o trabalho preenche uma lacuna histórica na compreensão da poluição por microplásticos nas praias brasileiras. Ele ressaltou a capacidade científica e organizacional de Goiás, um estado sem litoral, para liderar a maior investigação costeira já realizada no Brasil, o que evidencia a maturidade da ciência feita no interior do país.
O Projeto MicroMar posiciona o estado como referência nacional em ciência ambiental e reforça o papel da Fapeg no incentivo à pesquisa de impacto global / Foto: Fapeg
O projeto é visto como um marco para a ciência brasileira e posiciona Goiás como liderança nacional em pesquisas de impacto global. A Fapeg, que investe cerca de R$ 3,9 milhões no edital que apoia doutorandos de excelência, foi decisiva para o avanço da pesquisa.
Thiarlen Marinho da Luz, um dos autores e bolsista do Programa de Bolsas de Doutorado de Excelência da Fapeg, afirmou que o apoio da fundação vai além da formação individual, representando a aposta do estado em jovens pesquisadores capazes de enfrentar desafios ambientais de escala global. Segundo o pesquisador, compreender a origem dos microplásticos no continente é essencial para conter a contaminação dos oceanos.
O presidente da Fapeg, Marcos Arriel, reforçou o compromisso da Fundação, notando que a pesquisa de fronteira é o meio pelo qual surgem soluções para desafios complexos, traduzindo-se em tecnologias, serviços e políticas públicas que beneficiam a sociedade.
Os dados obtidos pelo MicroMar oferecem subsídios concretos para políticas públicas e estratégias de gestão costeira. O estudo está em consonância com a Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP), do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
O Projeto MicroMar posiciona o estado como referência nacional em ciência ambiental e reforça o papel da Fapeg no incentivo à pesquisa de impacto global / Foto: Fernando Frazão/ABr
Além disso, a pesquisa fortalece a base técnica e social para a implementação de projetos de lei em tramitação no Congresso, como o PL 2524/2022, que visa restringir o uso de plásticos descartáveis, e o PL 1874/2022, que institui a Política Nacional de Economia Circular. Para o professor Malafaia, o MicroMar é crucial para uma transição sustentável “da fonte ao mar”.
O projeto já está preparando um relatório técnico detalhado para o MMA e as secretarias estaduais de meio ambiente. O objetivo futuro inclui expandir o monitoramento para regiões insulares e estuarinas, consolidando um banco de dados nacional sobre microplásticos e aproximando a ciência do governo e da sociedade. Malafaia conclui que “traduzir o conhecimento científico em soluções práticas é o caminho para reduzir a poluição plástica e preservar os ecossistemas costeiros”.
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