A inteligência artificial (IA) deixou de ser uma promessa futurista para se tornar parte concreta do dia a dia das empresas e da sociedade. Automatizando tarefas, processando dados em velocidade recorde e otimizando processos, a tecnologia vem moldando a forma como organizações trabalham. Porém, apesar de todos os avanços, a gestão humana segue essencial para interpretar cenários, tomar decisões e lidar com aspectos subjetivos que a máquina ainda não alcança.
Segundo o relatório The State of AI in Early 2024, do McKinsey Global Institute, o uso da IA cresceu de 55% para 72% em apenas um ano. O salto mais significativo ocorreu nas ferramentas generativas, que passaram de 33% para 65% de presença nas estratégias corporativas. Com esse avanço, 65% das companhias aumentaram os investimentos destinados à tecnologia. Setores de energia, materiais e tecnologia lideram os aportes, enquanto áreas como bens de consumo e varejo ainda caminham em ritmo mais lento.
Esse crescimento não se restringe ao cenário global. No Brasil, Goiás desponta como um dos polos de maior adoção de soluções digitais. Um levantamento da consultoria Ecossistema Great People & GPTW revela que 48% das empresas goianas já utilizam inteligência artificial, índice que coloca o estado à frente de outros como Paraná (47%) e Alagoas (45%). Entre os setores que mais aplicam IA estão contabilidade (80%), estética e beleza (75%), seguros (67%), jurídico (62%) e agências de mídia (62%).
Goiás como polo de inovação
Para o vice-governador Daniel Vilela, os números confirmam o avanço do setor produtivo goiano com apoio do poder público. “Damos condições para que empresas e universidades inovem, gerem empregos qualificados e façam de Goiás uma referência nacional em desenvolvimento tecnológico”, afirma. Parte das ferramentas utilizadas já é desenvolvida dentro do próprio estado, que abriga o primeiro Centro de Excelência em IA do país e a primeira graduação voltada à área.
O secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, José Frederico Lyra Netto, reforça que investir em inovação é também criar oportunidades reais para startups e para a sociedade. “Estamos no caminho certo para consolidar Goiás como polo de IA no Brasil”, avalia.
Ferramentas digitais já estão em 44% dos pequenos negócios e em 48% das empresas goianas
Tecnologia com limites
Apesar do entusiasmo com a digitalização, executivos e especialistas reforçam: a tecnologia não elimina a necessidade de gestão humana. É o que defende Ariane Américo, CEO da Brange Media Group, empresa de inteligência em comunicação que oferece serviços de monitoramento e clipping de notícias. A companhia investiu na criação de uma equipe própria de desenvolvedores para aperfeiçoar soluções digitais, mas manteve um time dedicado à apuração e interpretação de dados. “A IA trouxe muitas facilidades, mas ainda não consegue substituir algumas leituras que só o humano faz, como identificar se uma notícia é positiva ou negativa”, explica.
IA como parceira da gestão
A visão é compartilhada por Lorranny Sousa, diretora da consultoria Acelere Gestão de Pessoas. A empresa desenvolveu uma ferramenta de IA que atua como apoio contínuo ao líder após programas de treinamento, enviando mensagens e reflexões via WhatsApp. Os relatórios, sempre anônimos, ajudam o RH a medir evolução, enquanto a tecnologia funciona como um lembrete constante do aprendizado. “Nosso modelo não entrega respostas prontas. A IA potencializa, mas não substitui a atuação humana. A gestão de pessoas ainda depende de escuta, decisão e sensibilidade”, ressalta.
Na prática, a ferramenta funciona como um parceiro de constância: relembra compromissos, provoca a aplicação de conceitos e libera tempo para que gestores se dediquem ao que é essencialmente humano — a escuta qualificada, a tomada de decisão e a gestão de conflitos.
Pequenos negócios na era digital
Esse equilíbrio entre inovação e humanidade também se reflete nos pequenos negócios. Pesquisa exclusiva do Sebrae mostra que 44% dos empreendedores de menor porte no país já utilizam IA em alguma dimensão de seus negócios. A adoção é maior entre empresas de pequeno porte (65%) e entre empreendedores com ensino superior ou pós-graduação (60% e 75%, respectivamente). O uso cresce também entre os mais jovens: 56% dos empresários com até 34 anos já utilizam a tecnologia, contra apenas 38% dos acima de 60 anos.
No cotidiano, a IA aparece em ferramentas simples e já naturalizadas: 80% dos pequenos negócios usam GPS, 77% recorrem a reconhecimento facial, 56% a assistentes virtuais e 52% a aplicativos de melhoria de imagens. Softwares de gestão integrativa estão presentes em 47% das empresas, sobretudo no comércio. “A inteligência artificial não tem mais volta. Hoje, o celular na mão do empreendedor é quase um centro de gestão. O desafio é garantir que todos tenham acesso e capacitação”, afirma Décio Lima, presidente do Sebrae.
O movimento é reforçado por uma pesquisa da Amcham Brasil, em parceria com a consultoria Humanizadas, que aponta a IA como prioridade nas estratégias empresariais até 2026 — à frente de temas que dominaram o debate corporativo em 2024 e 2025. O estudo reforça que, embora a tecnologia seja vista como alavanca de produtividade, ainda exige revisão humana em pontos críticos.
De fato, a IA vem ganhando espaço como aliada, não como substituta. O futuro próximo aponta para uma convivência: máquinas processando em escala, humanos interpretando, decidindo e criando valor a partir dos dados. Em Goiás ou em grandes centros globais, a mensagem parece ser a mesma — a inteligência artificial otimiza, mas quem ainda decide são as pessoas.