A indústria farmacêutica brasileira encerrou o primeiro semestre de 2025 em franca expansão. Foram mais de 5,7 bilhões de embalagens de medicamentos comercializadas, número 5% superior ao do mesmo período do ano passado. O crescimento foi puxado sobretudo pelos genéricos e similares, que juntos representaram mais de 4 bilhões de unidades vendidas.
O avanço em volume se somou aos reajustes autorizados no início do ano, de até 5%, resultando em um salto também no faturamento. Entre janeiro e junho, o setor movimentou R$ 138,3 bilhões, alta de 11,5% em relação a 2024.
Nacionalização e força dos genéricos
De acordo com a Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais, sete em cada dez embalagens vendidas foram produzidas no país. Os genéricos lideraram com 2 bilhões de unidades, seguidos pelos similares, com 2,1 bilhões. Os medicamentos de referência, dominados por multinacionais, responderam por 305 milhões.
Esse desempenho confirma uma trajetória de longo prazo. Nos últimos 25 anos, o mercado nacional cresceu 180% em número de unidades vendidas. Só desde 2020, a alta foi de 19%. Parte desse avanço se deve ao fortalecimento da lei dos genéricos, criada em 1999, que multiplicou as opções disponíveis no país: de menos de 5 mil registros ativos na Anvisa em 2000, o Brasil passou a contar com mais de 17 mil medicamentos aprovados.
“O desempenho da indústria nacional mostra como genéricos e similares se consolidaram como pilares de acesso e sustentabilidade do sistema de saúde”, avaliou o presidente executivo da entidade.
SUS como motor do setor
O Sistema Único de Saúde (SUS) é hoje o principal comprador de genéricos e similares, respondendo por 74% da demanda. A compra pública garante não apenas a distribuição gratuita à população, mas também volume suficiente para manter a produção em escala industrial.
Projeções do setor indicam que, até 2030, cerca de 1,5 mil patentes de medicamentos vão expirar, abrindo espaço para novas ondas de genéricos. O movimento deve consolidar ainda mais a posição das empresas brasileiras, que já respondem por quase 80% do mercado interno.
Se no início dos anos 2000 a participação era dividida de forma equilibrada entre laboratórios nacionais e estrangeiros, hoje as multinacionais concentram-se em produtos de referência e detêm apenas 20% das vendas. A expectativa é que essa fatia caia para 10% até o fim da década.
“O setor nacional tornou-se estratégico para o abastecimento de medicamentos essenciais. O desafio é equilibrar acesso, qualidade e inovação tecnológica”, destacou o dirigente da associação.
O setor como um todo faturou R$ 138,3 bilhões
Varejo aposta no digital
Enquanto a indústria reforça a liderança dos genéricos, o varejo farmacêutico vive um processo acelerado de digitalização. Nos últimos 12 meses até junho de 2025, as vendas totais — em lojas físicas e digitais — cresceram 10,9%. Mas o grande destaque veio do comércio online, que avançou 35,6% no período.
Entre janeiro e junho, as vendas digitais subiram 38% frente ao mesmo semestre de 2024. No segundo trimestre, o salto chegou a 42,4%. A curva histórica mostra que, em cinco anos, as transações pela internet quase quadruplicaram, consolidando-se como alternativa preferida para grande parte dos consumidores.
Os aplicativos próprios das redes são hoje os principais canais de compra, responsáveis por 60% das vendas digitais — um faturamento de R$ 5,8 bilhões. A promessa de entrega em até uma hora, com pagamento salvo no cartão do cliente, ajuda a fidelizar usuários.
Outros canais também avançam. O televendas, incluindo WhatsApp, cresceu 42,2%, alcançando R$ 800 milhões em um ano. O modelo atrai principalmente consumidores idosos, que costumam gastar mais por pedido. Já os marketplaces e superaplicativos duplicaram participação, com crescimento de 118% e R$ 1 bilhão movimentados, embora ainda representem apenas 10% do total digital.
Pressão sobre pequenos negócios
O ritmo acelerado da digitalização, no entanto, tem imposto desafios a farmácias independentes. Sem recursos para investir em tecnologia e logística, muitas não conseguem competir com as grandes redes. Analistas apontam que, pela primeira vez, há mais farmácias independentes fechando do que abrindo no país.
Ainda assim, cooperativas regionais e redes de empresários locais conseguem manter competitividade em alguns mercados, apoiadas em gestão profissional e serviços compartilhados.
Perspectivas
O balanço do semestre revela um setor fortalecido pela produção nacional e pela rápida migração ao digital. O horizonte para os próximos anos aponta para crescimento contínuo, alimentado pela chegada de novos genéricos e pela consolidação das vendas online.
O grande desafio, segundo especialistas, será equilibrar preço acessível e inovação. Garantir medicamentos baratos à população sem perder a capacidade de investir em pesquisa e tecnologia será a chave para sustentar a relevância da indústria farmacêutica brasileira na próxima década.
O post Indústria farmacêutica fatura R$ 138,3 bilhões no semestre e cresce 11,5% apareceu primeiro em O Hoje.