Incêndios recorrentes no lixão de Piracanjuba, às margens da zona urbana, escancaram uma crise ambiental histórica. A fumaça intensa causou prejuízos a moradores e produtores, motivando decisão da Justiça em acatar pedido do Ministério Público do Estado de Goiás (MP‑GO): a Prefeitura tem 48 horas para implementar um plano de contenção, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. A área, desprovida de qualquer manejo técnico, permanece irregular há décadas.
Relatórios da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad-Go) e do Ministério Público apontam risco de contaminação de solo, ar e mananciais, com denúncias de doenças respiratórias entre a população local. A prefeitura promoveu roçagem, aceiro, pinturas e instalação de placas e câmeras, mas os focos subterrâneos persistem. Técnicos ressaltam que somente ações mais profundas — revolvimento do lixo, cobertura com terra, impermeabilização e vigilância constante — poderiam controlar o fogo, o que ainda não foi feito integralmente.
O caso de Piracanjuba não é isolado. Leitura recente da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema) revela que, em 14 de julho de 2025, Goiás ainda possui 27 lixões em situação precária, sem licença ambiental ou com autuação por irregularidades. A Abrema, por meio de seu presidente Pedro Maranhão, alertou que a continuidade desses lixões e aterros irregulares agrava os riscos de desastres ambientais, com doenças públicas e efeitos econômicos negativos para as comunidades.
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O episódio judicial envolvendo Piracanjuba reflete também os desafios nacionais da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), que previa erradicação dos lixões até 2014. Apesar de diversas prorrogações, ainda existem cerca de 3 mil lixões ativos no país, e mais de 30% dos municípios brasileiros descartam resíduos a céu aberto. Em Goiás, apenas 150 dos 246 municípios já regularizaram seus resíduos, restando 96 em situação irregular.
O caso de Piracanjuba se soma a tragédias anteriores, como o desabamento em lixão de Padre Bernardo em junho, com choque de cerca de 40 mil m³ de resíduos e contaminação de um córrego, o que levou à interdição judicial e ao alerta da Abrema.
A fiscalização federal, estadual e judicial intensificou a pressão sobre as prefeituras para que encerrem o uso de lixões, implementem planos emergenciais e adotem soluções regionais. O risco à saúde pública, ao meio ambiente e à economia rural impõe urgência. Enquanto isso, o prazo judicial para Piracanjuba reflete a tensão entre políticas públicas e realidade operacional; e mostra que, no país, continuar a operar lixões como se nada tivesse acontecido não é mais aceitável.
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