O governo federal iniciou, nesta terça-feira (13), negociações com bancos públicos e privados para viabilizar um empréstimo bilionário aos Correios. A medida, tratada como um “respiro temporário”, busca adiar a necessidade de um aporte direto do Tesouro Nacional diante do aperto orçamentário. Segundo informações publicadas pela Times Brasil, a operação pode variar entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões em 2025, com possibilidade de um novo empréstimo no mesmo valor em 2026.
O déficit acumulado pelos Correios no primeiro semestre deste ano chegou a R$ 4,3 bilhões, pressionando o caixa da estatal e acendendo o alerta no Palácio do Planalto. O prejuízo, que mais do que triplicou em relação ao mesmo período de 2024, expôs a gravidade da situação financeira da empresa e obrigou o governo a buscar alternativas emergenciais.
Sede do Tesouro Nacional, em Brasília, envolvido nas negociações de empréstimo bilionário dos Correios
Linha de crédito discutida com bancos públicos e privados
As conversas em andamento envolvem o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o BTG Pactual e o Citibank, com participação dos ministérios da Fazenda, Casa Civil, Gestão e Comunicações. A proposta prevê que a linha de crédito seja garantida pelo Tesouro Nacional, funcionando como uma solução de curto prazo para dar fôlego às operações enquanto a nova gestão dos Correios tenta implementar medidas de saneamento e geração de receitas.
Até o momento, os valores finais ainda não foram definidos. A equipe econômica tenta evitar novos desembolsos diretos do Tesouro para não comprometer a meta fiscal de superávit primário de 0,25% do PIB em 2025. Fontes ligadas à área econômica afirmam que, mesmo com o empréstimo, o governo não descarta um aporte adicional no próximo ano, diante da gravidade do quadro.
Os Correios, por serem uma empresa pública, não podem decretar falência, mas enfrentam risco de colapso operacional e financeiro caso o rombo continue aumentando. A estatal também estuda alternativas de financiamento junto a organismos internacionais, como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco dos Brics. O empréstimo junto ao NDB, já autorizado pela Comissão de Financiamento Externo (Cofiex), é estimado em R$ 4 bilhões, com prazo de 240 meses e cinco anos de carência.
Déficit acumulado pelos Correios no primeiro semestre deste ano chegou a R$ 4,3 bilhões, pressionando o caixa da estatal e acendendo o alerta no Palácio do Planalto
Crise financeira e medidas de contenção
O balanço financeiro mais recente, divulgado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) em setembro, mostrou um prejuízo de R$ 4,369 bilhões entre janeiro e junho de 2025, contra R$ 1,356 bilhão no mesmo período de 2024. No mesmo intervalo, a receita líquida caiu de R$ 9,283 bilhões para R$ 8,185 bilhões, enquanto as despesas gerais e administrativas cresceram de R$ 1,959 bilhão para R$ 3,414 bilhões.
Em nota, a estatal afirmou que os resultados negativos refletem “fatores conjunturais externos que impactaram diretamente a geração de receitas”, como a retração do segmento internacional devido a novas regras sobre compras de produtos importados. Essas mudanças teriam reduzido o volume de postagens e ampliado a concorrência no setor logístico.
“Entre os principais motivos, destaca-se a retração significativa do segmento internacional, em razão de alterações regulatórias relevantes nas compras de produtos importados”, informou a empresa nas demonstrações contábeis.
A estatal é presidida pelo advogado Fabiano Silva, que chegou a apresentar sua carta de renúncia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em julho. Mesmo após o pedido, Silva foi mantido no cargo. Ele é próximo do grupo Prerrogativas e havia sido alvo de disputa política por parte do União Brasil, que buscava mais espaço na companhia.
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Planos de reestruturação do Correios e estudos internacionais
Entre as medidas em estudo, os Correios anunciaram recentemente a intenção de vender imóveis, abrir um programa de demissões voluntárias e lançar um marketplace em parceria com a empresa Infracommerce. As ações, segundo a companhia, buscam modernizar as operações e diversificar as fontes de receita.
No âmbito do governo, há também interesse em observar experiências internacionais de reestruturação. O Planalto estuda o caso da Poste Italiane, empresa postal italiana que abriu capital em 2015, conseguiu reverter prejuízos e continua sob controle do governo italiano. A avaliação é de que modelos semelhantes poderiam ser adaptados para o Brasil, sem necessidade de privatização integral.
Enquanto as negociações avançam, o cenário financeiro dos Correios segue em deterioração. O déficit bilionário e a queda nas receitas colocam pressão sobre o caixa e sobre a capacidade da estatal de manter seus serviços essenciais, como a entrega de correspondências e encomendas em todo o país.
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