O cultivo de trigo em Goiás nesta temporada enfrenta um cenário desafiador. De acordo com o 11º Levantamento de Safra da Conab, a produtividade do trigo irrigado mantém bons níveis, mas o sequeiro sofre com as irregularidades climáticas — realidade que obriga produtores a adotar estratégias de adaptação.
Irrigação sustenta produtividade — com alertas
A área de trigo irrigado no estado permanece em 25 mil hectares, com produtividade média estimada em 5.400 quilos por hectare. Em algumas regiões já se inicia a fase de pré-colheita, enquanto outras ainda atravessam o enchimento de grãos.
As lavouras irrigadas, especialmente sob pivô central e com fornecimento adequado de água, apresentam bom desempenho. Ainda assim, a ocorrência de brusone, doença fúngica que ataca folhas e espigas, gera preocupação. Os tratamentos fitossanitários aplicados, porém, têm se mostrado eficazes, garantindo uma maior estabilidade para quem aposta na irrigação como fator decisivo.
Sequeiro penalizado pelo clima
No sistema de sequeiro, a área cultivada também se manteve em 60 mil hectares, já com colheita concluída. Os rendimentos oscilaram entre 20 e 45 sacas por hectare.
Os principais obstáculos foram o excesso de chuvas no início do ciclo, que favoreceu a proliferação de doenças fúngicas; o déficit hídrico intenso durante o enchimento de grãos, resultado da má distribuição das precipitações; e as temperaturas noturnas elevadas em momentos críticos do desenvolvimento das plantas. Essa combinação de estresses climáticos comprometeu o potencial produtivo, sobretudo em áreas menos tecnificadas.
Apesar das adversidades, cultivares geneticamente melhoradas para tolerância ao estresse hídrico mostraram desempenho superior em Goiás, comprovando maior adaptabilidade às variações do Cerrado. O investimento em sementes adaptadas deixou de ser apenas estratégico e passou a ser essencial para garantir produtividade em cenários de instabilidade climática.
Hoje, a irrigação garante produtividade, mas o sequeiro sofre, com oscilações de 20 a 45 sc/ha
Panorama nacional
Em âmbito nacional, a safra de trigo também reflete tensões entre área e produtividade. A Conab projeta uma queda de 16,7% na área plantada, estimada em 2,55 milhões de hectares. Ao mesmo tempo, a produtividade média deve crescer 19%, alcançando 3.068 quilos por hectare. Mesmo assim, o volume total produzido pode ficar 1% abaixo do ciclo anterior, com previsão de 7,81 milhões de toneladas.
Goiás consolidou sua posição como referência fora das regiões Sul e Sudeste. Na safra passada, o estado produziu mais de 234 mil toneladas em 110 mil hectares, o que o colocou como líder nacional da cultura em áreas não tradicionais. Essa performance reforça o papel estratégico do Cerrado na diversificação da matriz produtiva do trigo brasileiro.
Considerações finais
O contraste entre os sistemas de cultivo mostra que a irrigação, quando bem manejada, é uma ferramenta eficiente para mitigar os efeitos da variabilidade climática. Já o trigo de sequeiro segue vulnerável, principalmente em situações de extremos hídricos ou térmicos.
A aposta em tecnologias como irrigação de precisão e no uso de cultivares adaptadas tende a ser determinante para manter a competitividade do trigo goiano. Em um estado que se consolida como protagonista na produção nacional, esses fatores serão decisivos para equilibrar oferta e demanda, garantindo ao mercado brasileiro um abastecimento mais seguro diante das incertezas climáticas.
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